Nas últimas semanas temos observado um crescimento no número de novos infectados em diversos países ao redor do mundo. Nesta semana, o destaque ficou por conta do Reino Unido, com a identificação de uma nova cepa, ainda mais contagiosa. Mas, para o nosso time de Macroeconomia, apesar dos riscos de curto prazo, o ambiente internacional ainda é construtivo para 2021.

De acordo com nossos especialistas, o cenário internacional no próximo ano ainda pode contribuir para a recuperação da economia brasileira observada na segunda metade de 2020.

Para nossos especialistas, o ano de 2021 deve ser marcado por uma mudança na composição do crescimento, com expansão mais forte do setor de serviços, favorecendo a retomada do emprego e do consumo, especialmente no segundo semestre.

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Já a esperada normalização das correntes de comércio internacional também deve favorecer a continuidade da retomada econômica, revertendo as diversas restrições implementadas por razões de saúde em 2020.

É o caso, por exemplo, das recentes restrições entre o Reino Unido e a Europa continental, decorrentes da incidência de casos de Covid-19, e que deverão se extinguir ano que vem, ainda que venham a ser parcialmente sucedidas por restrições derivadas de um Brexit sem um acordo abrangente.

 Assim, o ambiente internacional se desenha propício à economia brasileira, cujo crescimento intra-anual em 2021 nossos especialistas projetam um pouco abaixo de 1%.

Primeira onda

Os impactos da primeira onda de Covid-19 na atividade foram significativos, mas heterogêneos.

A tabela abaixo traz as variações anuais das vendas no varejo em diversos países desenvolvidos. De acordo com nossos especialistas, a variação dessa contração entre países não parece ser explicada apenas pelas medidas oficiais de distanciamento social. Abre-se assim espaço para possibilidade da mobilidade ter sido afetada por decisões espontâneas decorrentes de um “efeito medo”.

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Essa possibilidade torna-se mais real, explica nosso time de Macroeconomia, quando consideramos a população infectada, estimada a partir do número de óbitos nos países. Dada a baixa credibilidade na contabilização de pessoas infectadas, nossa equipe utilizou o número total de óbitos e considerou a taxa de mortalidade da Covid-19 de 0,6% (refletida em estudos conduzidos na Alemanha) para estimar o número de pessoas infectadas compatível com tal número de mortes.

Nessas bases, excetuando a Bélgica, com uma taxa de 26,7%, a maioria dos países tem desempenho próximo, registrando ao redor de 15% da população total contaminada, incluindo o Brasil, com uma proporção de 16,5%. Ou seja, a maioria dos países não apresenta uma grande diferenciação na infecção.

Vacinas

De acordo com nossos especialistas, as políticas governamentais de compras de vacinas também não foram coordenadas e há indicações de futuro excesso de doses disponíveis em países desenvolvidos.

Como estímulo às empresas que estavam desenvolvendo as vacinas, e considerando a incerteza quanto ao sucesso desses esforços, bom número de países contratou grandes volumes de diversas farmacêuticas ao redor do mundo.

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Segundo dados compilados pela Bloomberg, a maioria dos países desenvolvidos possuem, portanto, acordos prévios de compra de doses de vacina suficientes para pelo menos toda a sua população caso, como parece ser o caso, praticamente todas as vacinas se mostrem efetivas.

Há casos extremos, como Canadá, Reino Unido, Nova Zelândia e Austrália, que adquiriram montantes superiores a mais do que o dobro da sua população. Considerando os principais laboratórios que estão desenvolvendo vacinas para a Covid-19 (em um total de 15), a soma de vacinas encomendadas sobe a 8,2 bilhões de doses. Algumas delas são a AstraZeneca/Oxford (3 bilhões), Pfizer/BioNTech (0,6 bilhão) e Moderna (0,4 bilhão).

Considerando que algumas dessas vacinas necessitam duas doses, mais da metade da população global poderia ser vacinada, dependendo apenas no ritmo de produção das doses, que se estima que ultrapasse vários milhões de imunizantes diários (segundo as Nações Unidas, a população global deve ter alcançado 7,8 bilhões de pessoas em meados de 2020).

Faltariam, ainda, contabilizar os acordos de produção própria, como o celebrado pelo governo estadual de SP com a empresa chinesa Sinovac, que não entra no valor mencionado acima. Em resumo, não é provável que haja problema de oferta de vacinas ao longo de 2021, mesmo considerando que algumas das vacinas em testes possam falhar na capacidade de imunização.

Reflexos da segunda onda na economia

A segunda onda de Covid-19 que afeta alguns países no momento não deve ter o mesmo impacto econômico que na primeira onda, de acordo com nossos especialistas, e as vacinas deve ter papel crescentemente relevante nas performances econômicas ao longo de 2021.

Na medida em que novas restrições à mobilidade foram implementadas na Europa e nos Estados Unidos ao longo das últimas semanas, os dados econômicos parecem não estar reagindo na mesma intensidade do que na primeira onda — em parte, por coincidir com as festas de final de ano, que são frequentemente razão de férias coletivas na Europa.

Os índices de confiança industrial (PMI) em diversos países continuam subindo ou mantendo-se acima do nível 50, que indica expansão da atividade. Os índices do setor de Serviços refletem maior preocupação, mas, de novo, em menor intensidade do que observado em abril/2020.

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Para nossa equipe de Macroeconomia, essa dinâmica melhor na segunda onda parece estar refletindo a expectativa da vacinação nos próximos meses, além de uma melhor avaliação do risco envolvido pela pandemia.

Segundo as metas anunciadas pelos diversos países, a probabilidade é grande de mais da metade da população já estar vacinada nos países desenvolvidos na metade de 2021, próximo do nível da imunização de rebanho estimada pelo OMS (60%).