O IPCA-15 recuou 0,01% em abril, próximo à expectativa mediana de mercado (+0,01) e abaixo da projeção do nosso time de Macroeconomia (+0,11). Com isso, a inflação acumulada em doze meses desacelerou de 3,67% em março para 2,92% em abril. Esse resultado refletiu a queda dos preços de 6 dos 9 grupos que compõem o índice, que em parte pode ser atribuída aos efeitos da crise da pandemia de Covid-19.

Em resposta, nossos especialistas ajustaram as projeções de inflação para 2020 e 2021 de 1,9% e 3,3% para 1,7% e 3,2%, respectivamente. Em taxas mensais, o desvio da projeção em relação ao observado na prévia do IPCA se deu de forma espalhada e com diferenças bastante acentuadas, como a subestimação do grupo “Alimentação em domicílio” e a superestimação de “Transportes” em quase 0,2 ponto percentual.

Devido à crise da Covid-19 e às mudanças metodológicas de coleta adotadas pelo IBGE desde 18 de março, também em decorrência da pandemia, a equipe do Safra destaca que está mais desafiadora a projeção da inflação no curto prazo, mas isso não altera a visão de que a inflação deve ficar bem reduzida no ano.

O grupo “Transportes” (que tem o maior peso no consumo das famílias) registrou com queda de 1,47%. Entre os itens que mais caíram, combustíveis se destacam, refletindo o impacto dos preços de petróleo. Outro grupo que apresentou queda intensa em abril foi “Artigos de residência’ (-3,19%). Destaque para os eletrodomésticos e equipamentos e artigos de TV, som e informática, que apesar da depreciação cambial de 26,5% desde o inicio do ano, registraram quedas de 7,15% e 1,95%, respectivamente.

Incorporando as informações dessa divulgação, principalmente as surpresas mencionadas acima e considerando o ajuste em subitens que repetem as variações observadas no IPCA-15 no índice fechado, a estimativa do nosso time de Macroeconomia para a inflação de abril e maio, passou de -0,16% e -0,40% para -0,29% e -0,52%, respectivamente.

Desse modo, a projeção para o IPCA de 2020 foi reduzida em 0,20 ponto percentual. A explicação para isso é que parte dessas quedas se deve às promoções feitas pelas empresas para tentar mitigar a queda de receita com o isolamento social, sendo então revertidas parcialmente mais à frente. Alem disso, no segundo semestre, deve haver volta gradual da atividade, também colaborando para volta parcial desses preços.

Quanto aos núcleos, menos sensíveis a variações temporárias, a avaliação permanece bastante benigna. A média dos núcleos desacelerou na passagem de março para abril (de 3,01% para 2,59%). Assim, nosso time projeta que os núcleos (considerando variação do IPCA fechado) devem desacelerar no 2T20, ganhando tração a partir de junho e convergindo para o patamar interior das bandas sazonais. Deste modo, a média dos núcleos deverá encerrar 2020 em 2,46%, variação 0,65 ponto abaixo da média observada em 2019 (3,11%).

Inflação menor também em 2021

Foi revisada ainda a projeção para o IPCA de 2021, de 3,3% para 3,2%. Em parte devido à menor inércia de 2019 e em parte por acreditar que o hiato do produto (diferença entre o PIB observado e o PIB potencial) ficará ainda mais aberto em 20221 do que era previsto.

Nesse ambiente de baixa inflação em 2020 e 2021, existe amplo espaço para o Banco Central prosseguir com cortes de juros, espaço inclusive para a Selic ir abaixo de 3,0%. Contudo, embora não seja descartada essa possibilidade, o cenário, inclusive com um corte mais agressivo na reunião da próxima semana, a deterioração do cenário político leva nossa equipe a manter a previsão de corte de 0,50 ponto na Selic na próxima reunião do Copom, esperando mais um corte de 0,25 ponto em junho.