O PIB americano contraiu 0,9% no segundo trimestre de 2022 em relação ao primeiro, com ajuste sazonal e anualizado, com uma demanda interna fraca e forte queda dos estoques.

As importações continuaram crescendo para ajudar a atender a demanda interna, enquanto as exportações apresentaram salto de 18% contra o trimestre anterior, contribuindo com 1,9 pontos percentuais para o PIB.

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Apesar do crescimento de 1,0% anualizado no segundo trimestre, o consumo tem apresentado um ritmo de expansão mais lento nos últimos meses. A menor expansão se explica pelo fim dos estímulos fiscais e o enfraquecimento da renda disponível real das famílias com o aumento da inflação. 

Vale também notar a mudança da composição desse crescimento, com expansão de 13,5% em serviços de alimentação, e queda de 11,7% na compra de alimentos e bebidas.

O investimento não residencial apresentou pequena queda e o investimento residencial recuou 14%, alinhado com a retração do início de novas construções.

A expectativa de ciclo de aperto monetário pelo Fed tem elevado a taxa de juros hipotecária desde o final do ano passado.

Consequentemente, os pedidos de crédito imobiliário e as vendas de novas residências voltaram para o patamar anterior à pandemia.

Mantemos a expectativa de que o investimento residencial diminuirá mais de 8% no próximo ano. As exportações continuam voláteis, com o crescimento no segundo trimestre seguindo a queda de 5% no trimestre anterior.

Os dados da balança comercial destacam positivamente produtos não relacionados ao petróleo, especialmente automóveis, alimentação e insumos industriais, e refletem também o afluxo de turistas aos EUA com a redução do risco da Covid-19 (exportação de serviços).

As importações continuaram em expansão e estão 15,7% acima do patamar anterior da pandemia, em linha com a continuada divergência entre vendas finais ao setor privado e produção.

Nos primeiros seis meses de 2022, as vendas ao setor privado cresceram 1,5%, em termos anualizados, enquanto o PIB recuou 1,3%. Parte da expansão da demanda privada foi atendida pelas importações e outra parcela relevante pela redução de estoques, a qual contribuiu negativamente em 2,4 pontos percentuais ao PIB no primeiro semestre.

Assim, a queda do PIB ao longo dos últimos dois trimestres não pode ser explicada pelo consumo das famílias e pelos investimentos, que ainda expandiram 1,4% e 1,6%.

O descompasso entre demanda e oferta parece, em parte, ligado ao pouco crescimento da oferta de trabalho, que não tem acompanhado a demanda, como refletido no elevado número de vagas de emprego em aberto pelas empresas. Esse descompasso sustenta nossa expectativa de que o FED elevará a taxa de juros, levando-a para o intervalo entre 3,75% e 4,00% nos próximos 12 meses.

A retirada dos estímulos fiscais e a monetários deverá arrefecer a demanda doméstica ao longo dos próximos trimestres e sustenta nossa projeção de crescimento econômico de 1,6% em 2022 e zero em 2023, necessário para levar os núcleos de inflação para a meta no médio prazo.