A ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) trouxe maior preocupação com efeitos das taxas de juros em patamar baixo.

Vários membros comentaram que a manutenção de uma política monetária expansionista por um prolongado período de tempo, junto com condições financeiras frouxas, poderia gerar um comportamento de “busca por retorno” que elevariam os riscos de estabilidade financeira.

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Essa preocupação ressalta que a autoridade monetária estava monitorando de perto o encerramento de operações de um grande fundo de investimento que registrou perdas irrecuperáveis dada a alavancagem das suas posições. Essa postura poderia estar se espalhando para outros fundos e setores do mercado financeiro, com o objetivo de aumentar a rentabilidade dos investimentos, com maiores riscos nas operações.

Esse comportamento de menor aversão ao risco, desejado durante uma recessão, poderia levar a uma alavancagem excessiva do setor financeiro como um todo, gerando riscos de perdas mesmo com pequenas oscilações de preços.

Já a confiança no cenário prospectivo para a economia aumentou. Os membros da autoridade monetária indicaram que os riscos para o cenário não têm sido tão elevados como nos meses anteriores, em vista do progresso considerável na vacinação, redução nas medidas de distanciamento social e forte apoio das políticas econômicas.

No entanto, apesar dessa melhora na percepção, a maioria dos membros do Fed ainda estima riscos baixistas nos próximos meses, dado a incerteza sobre o sucesso das vacinas em prevenir novas cepas e sobre a reação da economia à abertura, dado que alguns estímulos fiscais serão reduzidos nos próximos meses, especialmente os referentes ao mercado de trabalho, como seguro-desemprego.

Além disso, ainda não está claro qual será a velocidade de redução da poupança gerada nos últimos meses e seu impacto no consumo.

Nesse contexto, a discussão sobre a redução das compras de ativos ainda não começou, mas se aproxima. A ata registra que alguns membros do Fed sugeriram que, se a economia continuar apresentando progresso rápido na direção dos objetivos da autoridade monetária, poderia ser apropriado, em algum momento nas próximas reuniões, começar a discussão do ajuste no ritmo de compras de ativos.

O sentimento de alguns membros de trazer logo o tema à tona evidentemente contrasta com as afirmações do presidente do Fed, Jerome Powell, de que ainda é cedo. Além disso, o texto sugere que não é preciso uma aceleração do ritmo da recuperação da economia, mas a manutenção do ritmo atual.

Como logo depois da última reunião do comitê de política monetária foram divulgados os resultados do mercado de trabalho abaixo do esperado, nossa interpretação é de que não haverá aumento relevante de membros do Fed dispostos a antecipar essa discussão nas reuniões de junho e julho.

Assim, mantemos nossa expectativa do Fed iniciar a discussão sobre mudanças no processo de compras de ativos na reunião de setembro, vindo as eventuais mudanças a serem implementadas mais provavelmente a partir da reunião de janeiro de 2022.

Os dados de atividade, em especial os relacionados ao mercado de trabalho, serão ainda mais relevantes para os próximos passos da política monetária americana.