Com despesas adicionais de quase R$ 1 trilhão em resposta à Covid-19, houve aumento considerável da dívida pública brasileira em 2020, maior até do que o aumento típico ocorrido na maioria dos países emergentes.

Em julho, por exemplo, o Tesouro Nacional calculava que a dívida bruta do governo terminaria 2020 no nível de 98% do PIB, bem acima do previsto no começo do ano.

Hoje, a boa notícia é que a relação entre dívida e PIB deverá ficar abaixo de 90% ao final de 2020, afirma o time de Macroeconomia do Safra. Nossos especialistas projetam que ela corresponda a 89,7% quando o ano se encerrar, 15 pontos porcentuais acima da relação registrada no fim de 2019.

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Vários fatores contribuíram para as revisões desde agosto das expectativas para o endividamento público. Entre eles, a menor queda do PIB no ano. O mercado chegou a prever uma contração de 8% da economia, bem pior do que o recuo de 4,1% que deve de fato ser verificado, segundo o cenário-base do Safra.

A melhora do PIB gerou um efeito positivo sobre a arrecadação de impostos. Além disso, parte dos gastos autorizados para mitigar os impactos da crise não foi efetivado, contribuindo para diminuir o déficit primário das contas públicas, que deve ser de 10,6% do PIB, segundo nossos economistas.

Ajudou ainda a melhora da arrecadação estadual com a retomada da demanda e da produção, o que diminuiu a tendência de atraso no pagamento das dívidas ao Tesouro Nacional.

Contribui também para o menor endividamento a aceleração da inflação na segunda metade do ano, em especial do IGP, índice calculado pela FGV que deve encerrar o ano com alta em torno de 24%. Isso alterou a expectativa do deflator do PIB, que passou de 2% em agosto para 6% atualmente. Com o deflator mais elevado, o PIB nominal deve registar aumento em relação a 2019, gerando uma queda de 2,7 pontos porcentuais na nossa projeção para a relação entre dívida e PIB em 2020.

Esses fatores aliviam um pouco os riscos para a trajetória fiscal futura, avaliam nossos especialistas. Ainda assim, há cautela quanto aos próximos anos, mesmo que o teto do gasto seja cumprido.

A preocupação é suavizada pela expectativa de juros baixos globalmente nos próximos dois a cinco anos, mas pode se intensificar à medida que esses juros subam com a retomada da economia mundial, ou se o Brasil não indicar um caminho para gerar superávits primários nos próximos três anos.