Conforme esperado, os dados do final de 2020 referentes ao mercado de trabalho revelaram-se positivos. Para o nosso time de Macroeconomia, a recuperação do emprego mostrou-se compatível com a atividade econômica observada até o ano passado.

A continuação dessa recuperação no começo de 2021, no entanto, depende da evolução da Covid-19, assim como do apetite ao risco dos empresários em relação ao resto do ano.

Dependendo da velocidade da vacinação, possíveis atrasos por conta do recrudescimento da Covid-19—especialmente no setor informal—poderão ser compensados com a ampliação da vacinação, evitando-se uma deterioração significativa na trajetória de recuperação do crescimento econômico doméstico.

Para nossos especialistas, o nível de ocupação pode atingir seu nível pré-crise na segunda metade de 2021. O mercado de trabalho formal segue surpreendendo positivamente, com o Caged apresentando criação líquida de 160 mil postos de trabalho formais em 2020.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) também começam a sinalizar geração mais relevante de empregos entre os trabalhadores sem carteira e por conta própria (informais).

A maior parte dos postos de trabalho informal destruídos foi de trabalhadores com rendimento de até um salário mínimo, e o programado fim do auxílio emergencial deve levar a um maior contingente de pessoas nesse grupo a retornar para a força de trabalho. Com isso, a projeção de nossos especialistas é de que deve continuar a haver aumento da ocupação, na medida permitida pelas condições sanitárias, e provavelmente da taxa de desemprego.

Novas restrições

Nosso time de Macroeconomia lembra que não devemos ignorar o risco associado à pandemia. O aumento do contágio—por conta do relaxamento do distanciamento social ou por novas cepas — levou a um aperto relativamente maior nas restrições à aglomeração a partir de meado de janeiro.

Os impactos dessas medidas na atividade econômica ainda são difíceis de estimar, mas o impacto na ocupação—principalmente informal—pode ser significativo. À luz do que se observa em outros países que vivem a segunda onda, o período mais crítico para o crescimento de casos deve durar entre 20 e 30 dias.

Nessa situação, nossos especialistas estimam que o choque na economia poderá ser limitado, com a perda de ímpeto em janeiro e fevereiro, podendo ser compensada por uma recuperação mais vigorosa a seguir. A incerteza em relação a essas fases é, no entanto, é grande.

Bom sinal do Caged

O Caged registrou a criação líquida ajustada sazonalmente de 390 mil posições de dezembro, em linha com nossa previsão de 393 mil. Com isso, houve criação líquida de 160 mil vagas em 2020, número encorajador, dado o tamanho do choque devido à pandemia.

O número de admissões registrado em dezembro foi 25% maior do que um ano antes. Esse padrão já é observado há algum tempo. Em novembro, por exemplo, houve alta de 16,1% também em relação ao ano anterior. Esse nível de admissões acompanha de perto a aceleração da economia em vários segmentos durante o último trimestre de 2020, especialmente no setor industrial e de comércio.

Saiba mais:
Selic deve voltar a subir em maio e encerrar o ano aos 3,75%
O que esperar para as contas públicas após os resultados de 2020
Produção industrial surpreende e coloca viés positivo para PIB

Apesar da maior flexibilidade do mercado de trabalho após as reformas de 2017, esse é um importante indicador de confiança das empresas, porque mesmo com essa maior flexibilidade, os custos de demissão desencorajam a contratação sem perspectiva de manutenção do empregado.

Em acréscimo, o nível de desligamentos continua baixo: apenas 0,9% acima de dezembro do ano passado, promovendo a criação líquida de emprego. Esse nível já reflete certa normalização do mercado de trabalho, segundo nossos especialistas, uma vez que em novembro os desligamentos estavam 8,3% abaixo do mesmo mês de 2019.

Essa normalização também aparece no fato de que, dos quase 10 milhões de ocupados formais beneficiados pelo BEm (Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda) no auge da crise, a maior parte não foi renovada nos últimos meses, resultando em apenas 3,5 milhões de posições ainda cobertas pela garantia provisória de emprego.

Os dados também indicam que daqui para frente a decisão de retenção da mão de obra pelas empresas se pautará pelas condições habituais de lucratividade e pagamento da multa do FGTS.

Todas as grandes categorias da ocupação, à exceção da administração pública, apresentaram criação de empregos formais em dezembro na série ajustada sazonalmente. Mesmo dento da categoria de serviços, apenas aqueles serviços mais sensíveis às medidas de distanciamento social destruíram vagas em 2020 (“Alojamento e Alimentação”, “Transportes” e “Outros serviços”).

As categorias “Construção Civil” e “Indústria”, e surpreendentemente, o “Comércio”, tiveram crescimento, sendo que “Comércio” terminou o ano com criação líquida de 8 mil posições.

Na avaliação dos nossos especialistas, o aumento de confiança da população e a diminuição dos auxílios têm levado à expansão da força de trabalho, apesar da taxa de participação ainda estar abaixo do nível pré-crise.

emprego-ibge.png

Desemprego e os riscos da Covid-19

Na semana passada, o IBGE revelou que a população ocupada registrou em novembro o terceiro mês de crescimento consecutivo, com 889 mil novas posições. Já a taxa de desemprego de 14,1% estaria em 20,9% se a taxa de participação da população em idade de trabalhar (56,4%) não estivesse tão abaixo da taxa habitual de 61,5%.

Nosso time de Macroeconomia lembra, no entanto, que o número de trabalhadores sem carteira e por conta própria cresceu em novembro, mas a melhora pode ser vulnerável ao recrudescimento da Covid-19.

Esses trabalhadores tipicamente necessitam de proximidade física para exercerem suas atividades, assim como do transporte público e de outros serviços cuja oferta também é afetada pela crise sanitária. Eles também não podem contar com estruturas empresariais mais robustas que os mantenham empregados mesmo quando não podem exercer seus ofícios.

Em suma, na avaliação da nossa equipe de Macroeconomia, a dinâmica do mercado do trabalho é compatível com a recuperação da atividade econômica na segunda metade de 2020, mas pode ter se atrasado nos dois últimos meses e apresentar alguma fragilidade à frente.

Essa dinâmica deve ser monitorada de perto, complementam nossos especialistas, porque a recuperação do mercado de trabalho é fundamental para que o consumo se sustente e o impulso obtido pela extraordinária transferência de renda por conta do auxílio emergencial não se dissipe rapidamente.

A evolução da segunda onda da Covid-19 nas próximas semanas terá, portanto, impacto no crescimento em 2021 e nas demandas por auxílio financeiro para os mais vulneráveis na sociedade.

Por este motivo, revisamos nossa projeção de crescimento do PIB de 4,2% para 4,0%, com estabilidade no 1º trimestre de 2021 ante o último de 2019 e crescimento mais vigoroso nos trimestres seguintes na esteira do avanço do programa de imunização.