A velocidade e intensidade da provável recuperação do mercado de trabalho serão cruciais para determinar o ritmo de crescimento. Nesse sentido, a divulgação dos dados da Pnad Contínua referentes ao segundo trimestre, período que deve ter sido o mais crítico para o setor, ajudou a equipe de Macroeconomia do Safra a estimar a trajetória da economia.

Segundo a pesquisa do IBGE, entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020, houve uma queda de 9,5 milhões no número de pessoas ocupadas na economia brasileira, considerando a série dessazonalizada. Já os dados mensais mostram que, na comparação com fevereiro, a queda foi de 10,4 milhões. Entre as pessoas que deixaram suas ocupações, aproximadamente 3 milhões eram empregados formais e 6,5 milhões estavam no mercado informal.

Nosso time de Macroeconomia ressalta que a composição setorial da queda na ocupação é uma peça-chave para estimar a volta do mercado de trabalho.

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Por um lado, os últimos dados de atividade econômica mostram que a indústria, o varejo e a construção civil estão se recuperando de maneira acelerada e que podem alcançar de maneira relativamente rápida o patamar pré-crise. Logo, parece adequado estimar que os empregos nesses setores também possam voltar mais rapidamente.

Por outro, alguns setores de prestação de serviços recuperam-se lentamente e parece pouco provável que o emprego e atividade neles consigam retomar o mesmo patamar de fevereiro no curto prazo.

Além disso, a rigidez do mercado de trabalho formal é outro ponto que precisa ser considerado pois dificulta a recuperação rápida do emprego. Além disso, o programa de manutenção de renda e emprego preservou mais de 10 milhões de postos de trabalho, segundo o Ministério da Economia, e os efeitos do fim do programa ainda são incertos.

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Os dados do Caged mostraram criação líquida de empregos formais em julho, sugerindo que esta parcela do mercado de trabalho já esboça reação. A composição setorial do desemprego no mercado formal também indica que a recuperação será mais rápida.

A Pnad mostrou que 1,9 milhão das ocupações destruídas no mercado formal, 62% da queda no setor, foram no comércio, indústria e construção civil, justamente os setores que cresceram de maneira mais acentuada a partir de maio, representando 62,0% da queda na ocupação formal.

Já em relação ao emprego informal, nossa equipe acredita que a menor regulação pode permitir uma volta mais rápida. Assim como o setor formal, os três grupos que já mostram recuperação foram responsáveis pela destruição de 43,3% das ocupações (2,8 milhões de pessoas).

Recuperação parcial

O copo meio vazio da história é que os segmentos da economia que ainda sofrem as mazelas da pandemia, notadamente serviços de alojamento e alimentação e outros serviços, também representam parcela significativa da queda na ocupação no setor formal e informal, 27,6% e 22,4% respectivamente. Outro grupo que merece destaque entre os informais é o de trabalhadores domésticos, que representaram 17,5% da queda na ocupação (1,2 milhão).

Portanto, por mais que estejam construtivos com a volta do emprego, nossos especialistas acreditam que o processo será longo e que ao final de 2020 serão recuperados aproximadamente 60% das ocupações perdidas, com cerca de 4 milhões de vagas a menos do que ao final de 2019.

Ainda assim, nosso time avalia que o impulso fiscal gerou uma grande poupança na economia doméstica por causa das dificuldades para consumir em meio às medidas de distanciamento social. Essa poupança começou a se traduzir em consumo a partir do final do segundo trimestre e boa parte da surpreendente recuperação observada advém da utilização de uma fração desta poupança.

Além disso, o tamanho do estímulo injetado na economia com transferências às famílias foi tamanho que o deve permitir a continuidade da recuperação do consumo, com reflexos também no mercado de trabalho.

Crescimento em 2021

Desta forma, nossa equipe estima que o emprego deve seguir se recuperando ao longo de 2021, atingindo o nível observado em fevereiro deste ano na primeira metade do ano que vem e a partir daí retomar a trajetória do mercado de trabalho observada antes da crise.

A premissa de recuperação relativamente rápida do mercado de trabalho é um fator fundamental para a estimativa de forte crescimento do PIB em 2021, que deverá ser de 4,0%, segundo nossos especialistas, levando a economia a um nível próximo do registrado no final de 2019.