A dicotomia dos dados referente ao mercado de trabalho segue acrescentando dúvidas ao já incerto cenário prospectivo da economia brasileira. Por um lado, a divulgação de criação de empregos formais em setembro do Caged superou o teto das expectativas do mercado ao registrar alta de 313 mil postos de trabalho (248 mil na série dessazonalizada), o segundo melhor mês da série histórica iniciada em 2000, em termos dessazonalizados.

Por outro lado, a Pesquisa Nacional por Amostra à Domicílio (PNAD) de agosto registrou apenas 81,6 milhões de pessoas ocupadas, o menor patamar de ocupação da série que começa em 2012, e 12,2 milhões a menos que o observado em fevereiro (pré-crise), ambos em termos dessazonalizados.

Apesar dos sinais ambíguos, nosso time de Macroeconomia avalia que o mercado de trabalho já esboça reação importante que deve se intensificar nos próximos meses, de modo que o nível de ocupação retorne ao patamar de 2019 no próximo ano.

Notificações do Caged

Recentemente levantou-se a hipótese de que os registros de demissão do Caged poderiam estar sendo subnotificados pelas empresas que encerraram suas atividades devido à pandemia, inflando assim a criação líquida de vagas e suposta recuperação. Nossos especialistas afirmam que algumas observações merecem destaque e nos levam a minimizar a relevância dessa possível subnotificação.

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Observamos que as demissões de 2020 até setembro somaram 944 mil a menos que o mesmo período de 2019, enquanto, segundo o Ministério da Economia, quase 10 milhões de ocupados formais foram contemplados pelo BEm ( Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda).

Assim, nesse cenário em que o custo de não demissão é extremamente baixo, não parece surpreendente que as demissões estejam menores que a média dos últimos anos. Em contrapartida, no momento em que as empresas puderem voltar a destruir os empregos preservados pelo programa, poder-se-á observar alta expressiva das demissões, caso a economia não tenha se recuperado o suficiente, e esse é um risco a ser monitorado.

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Além disso, na apresentação do Ministério da Economia, os técnicos explicaram que há um cruzamento de informações entre o registro do Caged e o processo de solicitação do seguro desemprego. Isto implica que a eventual subnotificação provavelmente estaria restrita aos demitidos que não têm direito ao seguro desemprego, ou não o solicitaram por qualquer motivo, não requerendo que a empresa faça o registro no Caged.

Por estes motivos, seguimos acreditando que o Caged apresenta um retrato mais fiel do emprego formal no país.

As requisições do auxílio desemprego registraram níveis recordes em abril e maio deste ano, sendo a principal causa da desconfiança em relação à notificação acurada dos desligamentos.

Entretanto, é possível observar que desde então os pedidos estão em patamar historicamente baixo, ou seja, na avaliação dos nossos especialistas os dados mais recentes do seguro desemprego corroboram com o baixo nível de demissões do Caged.

Emprego informal

Já no que tange o mercado informal, tanto a PNAD contínua quanto a PNAD Covid sinalizam que o pior já passou.

Apesar de ainda estarem nos menores níveis da série, tanto os empregados informais quanto os trabalhadores por conta própria tiverem crescimento tímido no mês de agosto, e a PNAD Covid sinaliza que o mês de setembro seguiu mostrando recuperação.

Vale lembrar que o emprego informal foi o que mais caiu durante a pandemia e o que menos se recuperou até o momento.

Ressaltamos também que dentre os informais que perderam suas ocupações, a maioria recebia até 1 salário mínimo e, portanto, o auxílio emergencial deve ter mais do que compensado a queda da renda familiar.

Desta forma, nossa equipe de Macroeconomia acredita que esse início de reversão da ocupação informal pode ter uma contribuição da perspectiva de redução do valor do auxílio.

Por essa razão, com o avanço da reabertura da economia, é esperado que ao longo dos próximos meses o emprego informal tenha crescimento ainda mais efetivo.

Pensando no ritmo de crescimento da economia, nosso time de Macroeconomia espera que a continuidade da recuperação do mercado de trabalho nos próximos meses contribua para que o consumo não seja tão bruscamente afetado com o fim do Auxílio Emergencial em 2021.