Os dados de atividade no 1º trimestre confirmaram o viés de alta para a projeção do PIB de 2021 que destacamos em relatórios anteriores. Junto com a antecipação do 13º salário anunciada pelo governo, isso nos leva a confirmar um ligeiro aumento para a projeção desse PIB.

Aumentamos a projeção de crescimento trimestral do PIB no 1º trimestre de 0,3% para 0,6% (equivalente a subir de -0,5% ano contra ano para -0,2% ano contra ano). Por outro lado, a erosão da renda real das famílias deverá impedir crescimento mais vigoroso na segunda metade do ano.

Balanceando essas forças, e considerando o movimento de recomposição de estoques pelas empresas após o grande volume de vendas no final de 2020, revisamos nossa projeção de crescimento do PIB em 2021 de 3,0% para 3,4% e reafirmamos nossa projeção de crescimento de 1,8% em 2022.

O que esperar da economia?

A última Pesquisa Mensal de Serviços mostrou queda de 4,0% em março ante fevereiro, na esteira da intensificação nas medidas de distanciamento social. Apesar da queda, o resultado ficou consideravelmente acima das projeções do  mercado, sendo assim uma surpresa positiva do setor que representa 60% do PIB doméstico.

A contração ficou concentrada nos Serviços Prestados às Famílias, categoria mais sensível à mobilidade. Essa categoria deve se recuperar rapidamente com a volta da mobilidade a partir de maio.

De fato, nossos indicadores de alta frequência sugerem avanço da atividade no início de maio, fazendo com que também revisemos nossa projeção para o 2º trimestre deste ano de -0,7% para -0,3% na comparação com o trimestre anterior. Na variação interanual haverá alta de 10,2%, mas haverá queda de 1,8% em relação ao mesmo trimestre de 2019.

A erosão da renda real das famílias deve arrefecer o consumo. Não haverá transferências de renda na magnitude do auxílio emergencial de 2020, e os juros serão maiores, limitando a expansão do crédito às famílias, enquanto o preço médio dos bens e serviços (deflator do consumo) deverá estar em média 6,5% mais alto do que em 2020.

Além disso, o emprego terá uma recuperação mais lenta do que prevista, o que também continua a influenciar os reajustes salariais do setor privado, que em sua grande maioria continuam se dando a taxas mais baixas do que a inflação. Com isso, a taxa de poupança deverá ser bem menor do que a observada em 2020, podendo beirar números negativos.

Em contraste com a moderação do consumo, o ano deve se caracterizar pela recomposição de estoques, após a grande queda decorrente da aceleração do consumo na segunda metade de 2020 e a contração na produção e nas compras no auge da pandemia, isto é, no segundo trimestre daquele ano.

O relativo vigor da recomposição dos estoques (+0,7% do PIB anual), e a antecipação do pagamento do 13º e alguns benefícios determinada pelo governo, refletidos em um nível acima do esperado nos dois primeiros trimestres de 2021, no permitiram revisar nossa projeção de crescimento do PIB do ano, de 3,0% para 3,4%.

PIB brasileiro em 2022

A recuperação mais moderada ao longo do segundo semestre sugere um 2022 de crescimento também modesto, abaixo de 2%. Esse crescimento, salvo a ocorrência de um boom de investimentos, deverá depender da redução do estoque de poupança das famílias e do caixa das empresas.

Esse movimento já pode ser visto de maneira bem incipiente na parada da alta do volume de liquidez da economia medido pelo agregado monetário M2, que inclui entre outras formas de poupanças líquidas a caderneta de poupança, cujos estoques já mostram pequena queda no primeiro trimestre de 2021.

O próximo ano deverá continuar a se beneficiar do bom desempenho da balança comercial, notadamente pelo aumento da produção agrícola, ampliação da produção de petróleo e nível de atividade alto no setor de mineração. O investimento em infraestrutura deverá ser beneficiado pela realização de vários leilões de concessão a nível nacional e subnacional ocorridos em 2021, seguidos de outros no próximo ano.