O PIB real do 1º trimestre cresceu 1,0% em relação ao PIB do mesmo período de 2020, ficando acima da nossa projeção e do consenso dos economistas. Esse resultado confirmou o forte desempenho da produção no início desse ano. A alta de 1,2% frente ao 4º trimestre do ano passado, após ajuste sazonal, levou o carrego estatístico do resto de 2021 para 4,9%.

A alta da agropecuária, setor que não sofreu o choque da crise, foi muito significativa, alcançando 5,2% a/a (5,7% t/t a.s.). A safra recorde de soja apresentou a maior contribuição para a expansão desse setor, compensando o fraco desempenho da produção de milho e arroz. A pecuária foi outro destaque positivo, estimulada pela elevada demanda externa.

Vale lembrar que o PIB agro contempla apenas o setor primário, não refletindo, portanto, o crescimento de todo agronegócio e seus fornecedores, impulsionados pelos preços altos e volumes elevados de produção e exportação.

A indústria situou-se 3,0% acima do nível registrado no 1º trimestre de 2020 (+ 0,7% t/t a.s.), na esteira de uma acomodação efetiva à segunda onda de covid verificada desde o começo de 2021. Os destaques foram a indústria extrativa e a construção civil, com altas de 3,2% t/t a.s. e 2,1% t/t a.s., respectivamente.

E o desempenho da construção civil só não foi melhor devido ao peso do emprego no cálculo desse índice e a lenta volta do emprego no setor (segundo a PNAD). A indústria de transformação, principal componente do PIB da indústria, manteve-se acima do nível pré-crise, mas registrou queda de 0,5% t/t a.s.

 

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O setor de serviços, que representa cerca de 70% do PIB, permaneceu abaixo do nível pré-crise (-0,8 a/a), apesar de ter subido 0,4% t/t a.s. em relação ao 4º trimestre de 2020. O resultado entre as categorias pode ser dividido em 2 grandes grupos.

Os serviços mais resilientes à pandemia, como informação e comunicação, continuam em expansão moderada e estão acima do nível pré-pandemia. As categorias mais sensíveis à mobilidade, como educação, alojamento e recreação, registraram resultados mais tímidos devido ao recrudescimento da pandemia em março. Esses últimos segmentos devem ser beneficiados com a vacinação e redução do isolamento na segunda metade do ano.

A maior surpresa de crescimento em relação à nossa projeção foi o comércio, com 3,5% a/a, em contraste com a nossa expectativa de -2,2% a/a. Como nossos indicadores de alta frequência mostram rápida recuperação do comércio varejista em maio, o bom desempenho no primeiro trimestre sugere que a atividade continuará alta no comércio, impulsionada pelo avanço da mobilidade e Dia das Mães.

Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias caiu 0,1% t/t a.s. (-1,7% a/a) com o fim da primeira rodada do auxílio emergencial na virada do ano, o forte aumento do preço de itens essenciais (alimentação e combustível) e o recrudescimento da pandemia.

Esses fatores negativos foram suavizados pelo uso de parte da poupança acumulada no ano passado, evitando uma queda mais acentuada da demanda no curto prazo. Esperamos um desempenho modesto do consumo ao longo dos próximos trimestres diante da persistência inflacionária, o elevado endividamento das famílias e o ciclo de aumento da taxa de juros.

O consumo do governo registrou queda de 0,8% t/t a.s. (-4,9% a/a), enquanto os investimentos avançaram 4,6% t/t a.s. e 17,0% a/a. impulsionados pela construção civil, produção de bens de capital e o efeito contábil das importações de plataformas de petróleo. Assim, a absorção doméstica recuou 0,3% t/t a.s. no 1T21 (0,7% a/a).

No front externo, as importações cresceram na esteira dos investimentos e pelo efeito advindo do recente registro da importação de plataformas de petróleo operando no litoral brasileiro (11,6% t/t a.s. e 7,7% a/a). Já as exportações, que sentiram menos o efeito da pandemia, avançaram 3,7% t/t a.s. (0,8% a/a), impulsionadas principalmente pelas vendas do agronegócio nacional. A despeito desse desempenho das exportações, o setor externo contribuiu negativamente para a atividade no primeiro trimestre.

 

Desafios à frente

 

Uma peculiaridade das contas nacionais nesse começo de 2021 foi o forte aumento dos estoques, revertendo a dinâmica dos trimestres anteriores. No ano passado, a partir de abril, o consumo excedeu a produção (inclusive no meado de 2020 quando fábricas pararam), o que levou as empresas a venderem seus estoques. O processo de desestocagem acelerou no segundo semestre na esteira do auxílio emergencial, o que impulsionou as empresas a produzir mais, resultando em produção muito acima da demanda no início de 2021.

O descompasso entre oferta e demanda se reflete na variação do PIB real ex-estoques, que caiu 0,8% no 1º trimestre desse ano em relação ao 4º trimestre do ano passado, com ajuste sazonal. Isso sugere desaquecimento da produção nos próximos meses, exceto se o consumo voltasse a crescer muito fortemente.

E os desafios de médio prazo não são desprezíveis. Para eles contribuem:

  • Persistência da Covid-19 e a demora na vacinação;
  • Deterioração do poder de compra com forte aumento do preço de itens essenciais;
  • Alto endividamento das famílias em ambiente de elevação da taxa de juros; e
  • Baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e Centro Oeste.

O ajuste da produção a esse quadro pode se traduzir em um crescimento menos acelerado do PIB nos próximos trimestres. Em suma, aumentamos nossa projeção para o PIB real de 2021 para 4,8% em função das surpresas positivas na produção no início do ano. Os desafios e as incertezas limitam nossas expectativas para 2021 para além de 5% esse ano e de 2% em 2022.