O Banco Central optou na semana passada por manter a Selic em 2,00% ao ano, como era amplamente esperado pelo mercado. Ao informar a manutenção, a autoridade monetária classificou o risco fiscal no país como ‘elevado’, alerta reforçado pela divulgação da ata do Copom na terça-feira, 03.

Em meio a essa dificuldade que o governo vem apresentando para equacionar as demandas em torno do Orçamento de 2021, o time de Macroeconomia do Safra ajustou algumas projeções para o ano que vem.

Nossos especialistas acreditam que as fricções no cenário fiscal e a dificuldade de aprovação de reformas que preservem o teto de gastos devem impedir uma queda mais significativa do dólar no Brasil no próximo ano, apesar da alta no preço das commodities e da força nas contas externas.

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Desse modo, o cenário-base do Safra passou a prever o dólar a R$ 5,45 ao fim de 2021. A estimativa anterior era de R$ 5,00. A mediana das projeções de mercado coletadas pelo BC no Relatório Focus prevê o câmbio a R$ 5,20 no mesmo período.

Nossa equipe de Macroeconomia destaca que o novo nível previsto para o dólar traz implicações para o cenário de inflação. Entenda mais a seguir.

Repasse cambial em 2021

Como já mostramos aqui, nossas projeções para o IPCA subiram a 3,1% em 2020, e a 3,5% em 2021. A alta promovida no curto prazo se deve majoritariamente às pressões remanescentes nos alimentos. Do lado da oferta, a forte demanda por commodities agropecuárias elevou as exportações e restringiu a disponibilidade interna. Além disso, eventos climáticos nos próximos meses podem provocar restrições adicionais.

Já do lado da demanda, o auxílio emergencial e o programa de manutenção do emprego chegou a elevar a renda no país, garantindo a manutenção e até aumento da demanda por alimentos.

Para 2021, algumas pressões que já estavam em nosso cenário de risco ganharam mais peso recentemente e foram incluídas no cenário-base. Além do avanço nos preços dos alimentos, nosso time também aumentou a contribuição de um repasse cambial mais elevado ao grupo de bens industriais.

Já em serviços, esperamos que, à medida que as pessoas retomem suas rotinas, os reajustes postergados neste ano acelerem a inflação no grupo.

Esse cenário é compatível com a recuperação do mercado de trabalho e da atividade que nossos especialistas projetam para 2021. Caso ela não se confirme, a inflação deve ser mais baixa.

Nesse cenário, nosso time espera que a taxa Selic permaneça estável em 2,00% a.a. até o último trimestre de 2021, quando deve começar a ser ajustada e terminar o ano a 2,50% a.a. para levar a inflação de 2022 para a meta.

Desafio fiscal

Os economistas do Safra ressaltam a importância de que seja alcançado o desempenho fiscal adequado para a manutenção das taxas de juros em níveis estimulativos e a extensão da recuperação econômica.

Apesar do evidente papel positivo do gasto público durante a pandemia, nosso time lembra que seu impacto sobre a dívida pública, se persistir, pode travar a recuperação econômica em 2021, por aumentar as dificuldades do financiamento da dívida pública e a taxa de juros de longo prazo, com impacto negativo nas decisões de investimentos na economia.

Evidentemente, os efeitos do encerramento do auxílio emergencial devem ser monitorados e o atendimento das pessoas que venham a cair abaixo do nível da pobreza deve ser priorizado durante a execução do orçamento de 2021.

Mas a confiança do consumidor e o apetite do investidor com o aumento da previsibilidade fiscal podem ter papel importante em dar espaço para que a oferta se expanda em resposta ao salto de demanda observado nos últimos meses, permitindo que o bom desempenho da balança comercial e o gasto público de quase R$ 1 trilhão previstos para 2020 tenham um efeito multiplicativo no PIB do próximo ano.