Um dos grupos mais resilientes ao impacto do coronavírus na economia, o Grupo Pão de Açúcar tem vasto portfólio e é dono de algumas das principais marcas do setor alimentício do país.

Para comentar sobre os impactos da crise do coronavírus no setor, convidamos Jorge Faiçal, diretor executivo de multivarejo e Belmiro Gomes, diretor responsável pelo Assaí, a divisão dedicada ao atacarejo do GPA, para uma conversa transmitida em tempo real.

Segundo Faiçal, quando foram divulgadas as primeiras notícias sobre uma possível quarentena no Brasil, houve uma grande aceleração das vendas, principalmente de produtos limpeza e alimentos.

Passados alguns meses da quarentena, ele conta que houve mudança no padrão de compra dos brasileiros: redução drástica na quantidade de transações e aumento de 60% no ticket médio. Ou seja, o consumidor está preferindo realizar menos idas ao mercado e fazer compras mais volumosas.

Na operação, as mudanças foram bastante expressivas para atender os novos padrões de segurança. Entre elas, Faiçal cita a instalação de proteções de acrílico nas frentes de caixa, EPIs, testes rápidos e o afastamento dos colaboradores mediante sintomas. O diretor explica que a segurança passou a ser um novo atributo da decisão de compra, assim como os já existentes antes da pandemia, como preço e localização.

Impactos no atacarejo

Já no atacarejo, divisão comandada por Gomes, que tem clientes como bares, restaurantes, hotéis,escolas, minimercados e mercearias, Gomes relata que as vendas para pessoas físicas quase dobraram em março, enquanto que as direcionadas a bares e restaurantes tiveram queda de 86%.

Segundo ele, isso se dá porque a população interpretou o risco da pandemia como o momento de efetuar compras em alto volume. Gomes ressalta que o aumento dessas compras abastecedoras foram suficientes para superar a queda nas outras áreas.

E-commerce

Faiçal conta que, mesmo antes da pandemia, o grupo GPA tinha planos de aumentar sua participação no digital e que por já serem líderes em e-commerce alimentar, a procura pelo serviço aumentou muito com a quarentena. Isso contribuiu para a acelerada nos planos de aumento da participação do GPA nesse segmento.

Foram contratados por volta de dois mil novos funcionários para ajudar com a demanda por novas lojas, centros de distribuição e operações de logística. Antes da pandemia, 130 lojas da rede operavam entregas em distâncias de até 5km, modalidade chamada de Last Mile. Hoje, são 300. 

Esse esforço para aumentar a capacidade de atendimento foi sentido nos números, fazendo com que o e-commerce saltasse de 1,5% das vendas de alimentos do grupo GPA para mais de 5%. Faiçal conta que, em Pão de Açúcar, e-commerce representa 9%.

O e-commerce contribui para a rentabilidade da companhia e funciona de maneira eficiente, segundo o diretor de multivarejo. Faiçal explica que o GPA tem capacidade de utilizar os ativos já existentes, como as lojas e centros de distribuição, trazendo um diferencial competitivo importante em custo.

Além disso, o grupo deve lançar seu marketplace no terceiro trimestre do ano e também irá passar a monetizar dados e mídia. Eles apostam que esses fatores, somados à grande capacidade de investimento e às marcas fortes do grupo, serão chave para bons resultados na expansão de suas atividades digitais. 

Houve aumento também no ticket médio das compras e na variedade de categorias consumidas. Antes, as vendas de verduras, legumes, ovos e produtos congelados eram pouco expressivas, cenário diferente do de hoje. Faiçal também dá um panorama sobre o perfil dos clientes de e-commerce durante a quarentena e explica que metade nunca tinha comprado online no grupo antes, 30% compram online e nas lojas físicas e 20% nunca haviam comprado no GPA.

Margens 

Faiçal afirma que as margens de lucro vêm melhorando nos últimos trimestres e devem seguir assim. O varejo tem muitas despesas fixas e o novo padrão de compras dos consumidores, mais volumosas, contribui para que despesas tenham um percentual menor de participação total, segundo o diretor de multivarejo.

Outro ponto é a menor necessidade de realizar promoções muito intensas, que somada aos fatores anteriores contribui para a melhora na margem e para que o varejo continue caminho de aumento gradual de rentabilidade que estava no pré pandemia. 

Veja a entrevista completa a seguir.