Marcado pela pandemia de coronavírus, o ano de 2020 desafiou os analistas econômicos com um cenário de alta incerteza, sobretudo no segundo trimestre, momento mais agudo da crise.

Hoje, com um novo ano batendo à porta, a nebulosidade já se dissipou significativamente e permite delinear expectativas para 2021 com mais clareza – embora o desafio das previsões sempre seja considerável.

Para os especialistas do Safra, as perspectivas para a economia do país são positivas: o ano que vem deve trazer crescimento do PIB, bem como redução do déficit primário e do desemprego. Confira a seguir algumas das principais projeções do nosso time de Macroeconomia.

País deve crescer 4,4%

Para nossos especialistas, o país deve apresentar uma mudança na composição do crescimento em 2021, com uma expansão mais forte do setor de serviços. Isso deve favorecer a retomada do emprego e do consumo, especialmente no 2º semestre.

proj-1 _1_.pngO ambiente internacional também deve ser propício à economia brasileira, com a normalização das correntes de comércio internacional, em virtude da vacinação já iniciada nas principais economias do mundo.

A estimativa do nosso time é que o PIB do Brasil avance 4,4% em 2021, após a contração esperada de 4,1% em 2020. O número é mais otimista do que o consenso de mercado coletado pelo Banco Central, de crescimento 3,5%.

A maior variação está prevista para a indústria, que deve crescer 6,5% no próximo ano, segundo nossa equipe. A agropecuária, por sua vez, deve ter alta de 2,2%, e serviços devem subir 3,8%.

Também vale destacar a projeção de alta de 9,6% para o PIB da construção civil, beneficiada pelo baixo nível das taxas de juros no país.

Quanto à taxa de desemprego, a previsão é que a média em 2021 seja de 12,0%, contra 13,6% em 2020. Essa recuperação do mercado de trabalho deve mitigar a contração da renda no país provocada pelo fim do auxílio emergencial.

Dólar no nível de R$ 5

O saldo das transações correntes do país, que registram o fluxo internacional de bens, serviços e rendas, melhorou em 2020, impulsionado por uma forte contração nas importações, pagamento de juros e remessa de lucros, bem como nas viagens internacionais.

Desse modo, o déficit deve ser de 0,8% do PIB em 2020. Já para 2021, a previsão é de superávit de 0,3%.

Mas nossos especialistas lembram que a força nas contas externas não deve ser sustentável ao longo do tempo, dada a perspectiva de retomada do crescimento, e a relativa fragilidade das exportações brasileiras, que tiveram um bom desempenho principalmente pelo efeito de preços mais altos das commodities.

Saiba mais:
Bolsa em 2021: Confira nossa projeção atualizada para o Ibovespa
Primeiros Passos: Aprenda o que esperar da renda variável

Sobre o câmbio, nossos especialistas ressaltam o impacto que a aversão a risco provocada pela pandemia teve sobre as moedas de países emergentes. Um ambiente mais benigno nas últimas semanas, no entanto, tem contribuído para a valorização do real.

Para nosso time, o mais provável hoje é que o dólar encerre o ano que vem no nível de R$ 5,00, com uma cotação média de R$ 5,05 no período.

Esse patamar, suscetível ao fluxo de capitais no exterior, aponta para uma moeda brasileira ainda depreciada tanto do ponto de vista histórico, quanto pelo sugerido por modelos econométricos tradicionais.

Buraco nas contas públicas

A pandemia exigiu a atuação dos governos para mitigar os estragos econômicos causados pelas restrições às atividades, medida necessária para conter o avanço do coronavírus.

Nesse sentido, um dos principais focos de incerteza no país diz respeito à situação fiscal após 2020, com a volta das restrições orçamentárias que foram suspensas.

Hoje, as projeções já melhoraram bastante em relação ao previsto na metade do ano, quando as expectativas previam que o forte avanço nos gastos para fazer frente à Covid-19 seria acompanhado por uma retração mais prolongada no recolhimento de impostos.

Para nossos economistas, em 2020, o déficit primário ficará em 9,9% do PIB no setor público consolidado, que reúne os dados do Tesouro Nacional, Previdência Social, Banco Central, Estados, municípios e estatais.

Já a dívida bruta deve equivaler a 89,1% do PIB no ano. Ela deve ficar estável em 2021, ano em que o déficit primário deve recuar para 2,3% do PIB.

Inflação na meta

O índice oficial de inflação do país chegou a mostrar retração nos preços em abril e maio. Mas, a partir daí, o IPCA avançou em um ritmo bem superior às expectativas.

O motor da aceleração foram os alimentos, que subiram em consequência da maior demanda gerada pelo auxílio emergencial, assim como pelo maior direcionamento da produção à exportação.

Para nossos especialistas, a alta do IPCA acumulada em 2020 será de 4,4%, bem perto do centro da meta do Banco Central. Para 2021, nosso time vê aumento de 3,2%.

A previsão reflete a avaliação de que não haverá um repasse cambial tão forte de produtores para consumidores.

O IGP-M, por exemplo, que captura o impacto do aumento do dólar no atacado, deve terminar o ano com elevação de 23,8%. Para 2021, nossa equipe calcula avanço de 4,4%.

Política monetária

Por fim, o cenário-base do Safra hoje prevê que a Selic começará a subir moderadamente a partir de meados de 2021, terminando a 3,00% ao ano. Com isso, a média da taxa deve ficar em 2,27% no ano que vem.

Nosso time também acredita que o BC poderá manter o forward guidance até o fim de março. Mas a sinalização pode continuar até o início do 2º trimestre, caso a economia desacelere fortemente no começo do ano.