No episódio desta terça-feira, 2, da série Cenários, uma parceria do Safra com o Estadão, a jornalista Sonia Racy recebeu o cientista político Murillo de Aragão, fundador da consultoria Arko Advice.

Um dos temas da entrevista foram as vitórias do deputado Arthur Lira (PP-AL) e do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), apoiados pelo Palácio do Planalto, para dirigir a Câmara e o Senado nos próximos dois anos.

Sobre a conquista do deputado, Aragão lembra que as articulações dos correligionários Ricardo Barros e Ciro Nogueira também foram importantes. Na visão do especialista, o resultado traz uma tranquilidade inicial para o governo e para a agenda da equipe econômica.

"Mas essa tranquilidade terá que ser mantida e reforçada por meio de uma eficiente coordenação política, que provavelmente será afetada pela reforma ministerial que deverá ocorrer em breve", pondera.

Com o resultado, Aragão diz ainda que não acredita hoje na possibilidade de um impeachment. "A razão primordial para um presidente sobreviver a um impeachment é ter base política, por isso que o presidente Bolsonaro jogou todas as fichas nas eleições no Congresso."

Equilíbrio fiscal

Ao apontar os desafios fiscais do país, Sonia Racy citou a posição do ministro da Economia, Paulo Guedes, para quem novas rodadas de auxílio emergencial estão condicionadas a um corte de gastos públicos.

Na visão de Aragão, um caminho provável para o impasse, caso a pandemia se agrave ainda mais, é financiar o aumento das despesas estatais com elevação de impostos. Isso implicaria flexibilizar as regras orçamentárias, seja por uma emenda constitucional ou decreto de calamidade, diz o cientista político.

Nesse sentido, ele não acredita que os novos auxílios tenham a mesma dimensão de 2020. "Provavelmente teremos um Bolsa Família repaginado", prevê. "A intensidade da solução será dada pela intensidade da pandemia."

Sobre as privatizações, Aragão acredita que os projetos em andamento no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) podem se materializar.

Eleições de 2022

Outro assunto da conversa foi a eleição presidencial de 2022. Para Aragão, em razão do controle da máquina pública, bem como da sua capacidade de mobilização e popularidade, o atual presidente Jair Bolsonaro deverá estar no 2º turno das eleições.

Contudo, o especialista entende que não é muito provável que Bolsonaro alcance o mesmo número de votos da última eleição, quando parte expressiva do centro político apoiou sua candidatura. "Ele terá que reconstruir essa relação com o centro".

Entre os desafios para a reeleição estão a narrativa antipolítica, e, sobretudo, a recuperação econômica e a superação da pandemia, assinala Aragão.