Diante da grave crise que estamos vivendo, causada pela recente pandemia do novo coronavírus, com efeitos contundentes tanto do lado econômico, como de saúde pública, nossa Corretora realizou um estudo a fim de entender onde se posicionar na Bolsa dado o atual momento.

Listamos aqui oportunidades específicas em diferentes setores da economia. Para os investidores que buscam seguir uma carteira equilibrada, de acordo com a visão dos nossos analistas, também publicamos ontem a carteira recomendada de ações e a carteira recomendada de dividendos.

Os estrategistas Cauê Pinheiro, Luis F. Azevedo e Silvio Dória destacam que a crise é temporária. Ela contará com começo, meio e fim. Contudo, afetará de forma significativa o crescimento econômico ao menos no curto prazo.

A quarentena impõe restrições severas, mas necessárias para dar tempo ao sistema de saúde se preparar. A restrição afetará tanto os canais de oferta quanto os de demanda, bem como as contas públicas, que vinham em tendência de melhora com as reformas estruturantes.

O mercado acionário, por sua vez, reagiu de forma rápida ao cenário de crise e acumulou uma queda de 37% no primeiro trimestre deste ano. A evolução de novos casos no Brasil é similar àquela de outros países após o centésimo caso da doença, o que indica a possibilidade de uma extensão dos 15 dias iniciais de quarentena que foram impostas por governadores e prefeitos.

Nesse cenário, o efeito negativo sobre a economia no curto prazo seria maior, mas talvez menos danoso no médio prazo se pensarmos que um possível afrouxamento das restrições poderia ter como consequência novas restrições mais à frente, a depender da velocidade de contágio da doença.

Na China, epicentro inicial da pandemia de Covid-19, após dois meses de severas restrições de tráfego em suas cidades, o governo anunciou gradual afrouxamento das medidas de controles. Fábricas e comércios foram reabertos aos poucos, desde que adotassem medidas de precaução, mas escolas e universidades permanecem fechadas, por enquanto.

Outros países, como EUA, Itália e Espanha mantêm a quarentena por conta dos números de novos infectados e mortos, que seguem crescentes.

Fuga do risco

Houve um forte movimento de aversão ao risco, que culminou em forte queda das bolsas de valores, em reação a dados que mostravam o alastramento doença, declarada como pandemia pela OMS no dia 11 de março.

O índice VIX (conhecido como “índice do medo”), que mede a volatilidade dos ativos da bolsa americana, atingiu máxima não vista desde a crise financeira de 2008. O CDS de cinco anos do Brasil (espécie de seguro contra calote, que dá noção do risco-país) reagiu na mesma magnitude e voltou ao patamar de 2016, em 327 pontos.

Com a queda do mercado acionário, o relação de preço sobre lucro (múltiplo P/L) do Ibovespa atingiu um nível que nossos analistas consideram interessante para investidores com visão de médio e longo prazo. Esse é um indicador muito utilizado por investidores para ter uma sinalização se os preços estão elevados ou baixos em relação ao comportamento histórico.

No gráfico abaixo, é possível verificar que esse número está abaixo da faixa que vinha sendo observada nos últimos anos. Para o curto prazo, no entanto, fica o alerta de que o mercado deve seguir volátil e muito sensível às notícias.

Análise por setor

Nossos especialistas estudaram os setores que devem ser os mais e os menos afetados pela a crise. Com base na análise de múltiplos P/L por setor, eles notam que, após a recente queda dos preços, os setores com maior desconto em relação à média histórica dos últimos quatro anos são: Aviação (desconto de 67% contra média histórica), Shoppings (de 51%), Distribuição de Combustíveis (de 46%), Alimentos e Bebidas (de 45%), Construção (de 42%), Utilidades Básicas (de 35%) e Serviços Financeiros (de 34%).

Segundo nosso time de análise, os descontos dos setores de Aviação, Shoppings e Distribuição de Combustível podem ser justificáveis, uma vez que eles sofrerão impacto direto do fechamento das fronteiras e cancelamento de voos, do fechamento dos shoppings para que a aglomeração de pessoas seja evitada, e da redução do consumo de combustíveis por conta da quarentena.

Por outro lado, nossos analistas veem boas oportunidades nos setores de Utilidades Básicas, Alimentos e Bebidas, e de Serviços Financeiros. Esses setores devem sofrer impactos reduzidos da Covid-19.

Em Utilidades Básicas, as empresas contam com receitas já contratadas, no caso de geradoras e transmissoras de energia. Em Serviços Financeiros há uma parcela grande da receita de bancos provenientes de tarifas. Já nas empresas de Alimentos e Bebidas, nossos analistas destacam que o consumo de alimentos apenas migrou de canal, passando de restaurantes para supermercados; além disso, empresas desse setor contam com parte das receitas em dólar.

As oportunidades nesses três setores são consideradas boas alternativas de exposição defensiva, explicam nossos especialistas, caso o cenário de pandemia se prolongue. Por outro lado, caso a crise seja mais curta do que em outras regiões do mundo, setores como Aviação, Shoppings, Distribuição de Combustíveis e Construção devem se recuperar mais rápido.

Dentro de cada setor, as empresas reagem de modo diferente e, por isso, há oportunidades em todos eles, embora com níveis de risco diferentes. Os analistas da nossa Corretora listaram suas preferências, dividindo por setores que devem ser mais resilientes e setores que devem ser mais afetados pela crise. Confira a seguir:

Preferências nos setores menos afetados pela crise

  • Utilidades Básicas: CPFL (CPFE3) e Energisa (ENGI11)

A CPFL é conhecida pela eficiência operacional. Tem potencial de crescimento através da aquisição da CEEE (distribuidora do Rio Grande do Sul), e aquisições no segmento de geração. Pagam dividendo com recorrência.

Já a Energisa é uma das distribuidoras de energia mais eficientes do país, com gestão familiar com mais de cem anos de experiência no setor. Traz potencial de crescimento pela recuperação de distribuidoras compradas da Eletrobras.

  • Bancos: Bradesco (BBDC4)

Nosso time de análise da Corretora tem uma visão positiva para o papel, dado o seu interessante preço ante os fundamentos (o preço atual sobre o lucro projetado para 2021 está em 5,9 vezes). O banco tem um modelo bastante diversificado, que pode trazer resiliência aos resultados durante a crise.

  • Outros Serviços Financeiros: B3 (B3SA3)

Os volumes de negociação apresentados neste começo de ano deixam nossos analistas otimistas quanto ao resultado do primeiro trimestre. Apesar de a crise recente afetar a dinâmica de novas emissões (de renda fixa e variável), eles acreditam que a queda recente nos preços abre bom espaço para entrada na B3.

  • Saúde: Hapvida (HAPV3)

A Hapvida tem um modelo de negócios altamente competitivo, sendo uma operadora de saúde verticalizada e que, portanto, pode ter muito maior controle sobre a sinistralidade de sua carteira, atuando também mais fortemente em prevenção de doenças e promoção de saúde. A companhia vem ganhando participação de mercado e aumentando sua rentabilidade. A ação negocia a 28 vezes seu lucro projetado para os próximos 12 meses, com potencial de crescimento de lucro recorrente acima de 30% ao ano, uma relação considerada muito boa pelos analistas da nossa Corretora.

  • Telecomunicações: Tim (TIMP3)

Este é um ativo resiliente, com forte geração de caixa e pouco endividamento. Recentemente a companhia divulgou sua projeção de resultado para o período entre 2020 e 2022. Ele sugere que a receita de serviços continuará a crescer em um dígito médio no período, com ligeiro ganho de margem operacional e forte geração de caixa até 2022.

Preferências nos setores mais afetados pela crise

  • Aviação: Azul (AZUL4)

Apesar do elevado risco de insolvência no setor, a empresa tem menor passivo no curto prazo se comparada à Gol, e pode ter mais capacidade de superar a atual crise.

  • Shoppings: Iguatemi (IGTA3)

A exemplo da crise de 2015 e 2016, a empresa deve sofrer menos graças ao portfólio voltado às classes médias e altas, mais resilientes, e pela maior exposição ao Estado de São Paulo, com economia mais dinâmica.

  • Locação de Carros: Unidas (LCAM3)

Empresa tem maior exposicao a locação de frota (cerca de 55%), cuja receita deve ter menor pressão com crise no curto prazo. Além disso, o giro de estoque pelo perfil da operação é mais demorado, e reduz pressão de preço e aumento da depreciação. Por fim, a empresa captou recursos recentemente, tem forte posição de caixa para lidar com passivos de curto prazo.

  • Óleo e Gás: Petrobras (PETR4)

Empresa com operação bem ajustada, mas extremamente dependente do preço do petróleo. Foco da operação segue em ganho de eficiência na área de Exploração e Produção e desinvestimentos nas áreas de refino, e outras áreas.

Preferências nos setores que sofrem impacto médio

  • Construção (baixa renda): Tenda (TEND3)

É a empresa preferida no segmento de baixa renda pela solidez de balanço e pela maior rentabilidade de seus projetos.

  • Construção (alta renda): Eztec (EZTC3)

É a preferência de nossos analistas no segmento de média-alta renda, pela credibilidade e histórico de rentabilidade, forte posição de caixa e potenciais oportunidades de curto prazo (aquisição de terrenos).

  • Mineração: Vale (VALE3)

Nosso time de análise acredita que a Vale deve continuar a gerar um fluxo de caixa sólido, o que pode proporcionar um bom retorno em dividendos quando o pagamento for retomado. Além disso, as ações da empresa continuam negociando com desconto frente aos pares australianos. Esse desconto pode diminuir conforme o prêmio sobre o minério de qualidade aumenta.

  • Siderurgia: Gerdau (GGBR4)

Seu principal produto é o aço longo e deve se beneficiar com uma potencial retomada do setor de construção. Apesar da incerteza no cenário atual, nossos analistas entendem que o preço da ação já reflete um cenário pessimista de queda de volumes em 2020 e 2021.

  • Logística: Login (LOGN3)

O resultado da empresa deve sofrer menos no curto prazo, com restrições impostas pelo coronavirus. Apesar da alta do dólar, a forte queda no preço do petróleo reduz custo do combustível dos navios e suaviza impacto de alta de custo para clientes. A empresa fez captação recentemente e tem caixa robusto para lidar com passivos de curto prazo.

  • Concessões: CCR (CCRO3)

Impacto negativo na receita no curto prazo deve ser visto como não recorrente, e empresa tem caixa mais robusto para lidar com passivos de curto prazo.

  • Consumo e Varejo: Pão de Açúcar (PCAR4)

As vendas dispararam nas últimas semanas, à medida que os consumidores corriam para as lojas para estocar produtos básicos. Esse aumento nas vendas deve ajudar a diluir os custos fixos e aumentar a margem bruta. Embora essas tendências possam reverter no futuro, também há um potencial de aumento real na demanda por alimentos e produtos de limpeza, pois os brasileiros ficam em casa. Desse modo, os analistas da nossa Corretora consideram o Pão de Açúcar um ótimo papel defensivo para esse momento de incertezas.