Na semana passada, a pandemia de coronavírus passou a dividir os holofotes com uma crise política no país. As incertezas provocadas pela saída do ministro mais popular do governo federal fizeram o mercado se retrair no Brasil, o que levou a uma forte queda do Ibovespa, na contramão do mercado americano.
Com a turbulência política, o principal índice de ações do país chegou a apagar os ganhos no mês, operando aos 72 mil pontos, mas recuperou fôlego na segunda metade do pregão de sexta-feira e terminou a semana acima dos 75 mil pontos.
O mercado cambial também refletiu o noticiário de Brasília e o dólar chegou a ser negociado próximo a R$ 5,73. Mas uma forte atuação do Banco Central tanto no mercado à vista, quanto de derivativos fez a moeda americana fechar abaixo de R$ 5,66.
O mercado deve continuar monitorando de perto os próximos passos do Executivo e buscar antecipar sobretudo eventuais repercussões econômicas.
Também na sexta-feira, a Argentina anunciou que não irá mais participar das negociações comerciais do Mercosul. A nova política não deverá afetar acordos do bloco já concluídos, como o fechado com a União Europeia.
Uma possível razão para a decisão seria que o governo argentino se coloca contra políticas de abertura econômica apoiadas por Brasil, Paraguai e Uruguai.
Outro acordo interrompido foi o da Boeing com a Embraer. Em meio à forte crise no setor de aviação, a empresa americana informou no sábado que rescindiu o contrato que definia um pagamento de US$ 4,2 bilhões por 80% da unidade de aviação comercial da Embraer. As negociações já duravam mais de dois anos.
A Boeing pretende, porém, manter a criação da joint venture para a comercialização de uma aeronave militar.
E os dois países mais afetados pela pandemia de coronavírus vêm trabalhando em uma volta gradual à normalidade. Em Nova York, epicentro da crise nos Estados Unidos, o governo anunciou que alguma atividades industriais poderão ser retomadas a partir do dia 15 de maio no norte do Estado.
Isso não contempla portanto a cidade de Nova York, centro financeiro do país. Uma segunda fase de reabertura, que incluiria a volta das atividades em mais setores, viria pelo menos duas semanas após a primeira etapa, segundo o governo local.
Já a Espanha começou a permitir ontem que crianças saiam às ruas. Assim como na Itália, na semana passada, a Espanha registrou pela primeira vez um número maior de recuperados do coronavírus do que de novos infectados. A quarentena lá está prevista para durar até o dia 9 de maio. O governo espanhol deve apresentar amanhã um plano para relaxar as políticas de confinamento.
Veja os comentários do nosso estrategista Jorge Sá:
Novas projeções
Com as recentes mudanças no cenário político, e também atualizando as variáveis econômicas diante da evolução da crise, a equipe de Macroeconomia do Safra definiu novas projeções para o câmbio e para a taxa básica de juros no país.
Nossos especialistas acreditam agora que o Banco Central vai baixar a Selic a 3% neste ano, apesar de acreditar que a elevada ociosidade da economia e a baixa inflação permitiriam que a Selic caísse abaixo desse nível. A previsão é que o BC corte 0,5 ponto porcentual na reunião de política monetária do mês que vem.
A postura mais cautelosa do BC deverá ser adotada por conta das incertezas em relação à política econômica e à agenda de reformas diante da turbulência no governo federal. Mas nossos economistas não descartam que, caso a temperatura diminua em Brasília, haja um corte mais agressivo de 0,75 ponto.
Sobre o real, nosso time de Macroeconomia espera que a apreciação ante o dólar seja menor do que era esperado. Nossos especialistas veem agora a moeda americana terminando o ano a R$ 4,90.
Isso porque, com a expectativa de novas quedas da Selic, o diferencial de juros voltará a se reduzir na comparação com o exterior. Além disso, a perspectiva é de fraqueza nos preços das commodities e de recuperação mais rápida nos Estados Unidos, fatores que tendem a enfraquecer o real.
E voltaremos hoje a falar com um especialista em saúde sobre a pandemia de coronavírus. Nesta manhã, conversaremos com o Dr. Leandro Reis, da Rede D’Or São Luiz, para falar sobre a evolução da doença no Brasil. Acompanhe a entrevista.