O Ibovespa voltou a fechar um pregão acima dos 100 mil pontos na última sexta-feira, mais de quatro meses depois de perder esse nível. Apenas na semana passada, o índice de ações acumulou uma alta de 3,4%. O movimento positivo globalmente vem sendo sustentado pelo grande volume de recursos injetados nas economias por medidas expansionistas dos governos, além do avanço na busca por vacinas e medicamentos contra o coronavírus.
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Outro fator importante para a recente trajetória de alta é a recuperação das atividades, que vem ocorrendo em ritmo mais forte do que se projetava. A cautela com os investimentos, contudo, ainda é essencial, já que o mercado continua com oscilações significativas provocadas por alguns focos de preocupação. Um deles é a dificuldade apresentada por algumas regiões dos Estados Unidos para frear os contágios por Covid-19. Apenas no sábado, a Flórida registrou mais de 15 mil novos casos, a maior alta diária de um Estado americano desde o início da pandemia.
Serviços seguiram em queda
Também é preciso lembrar o alto grau de incerteza que ainda prevalece nos prognósticos econômicos. Após ter mostrado dados melhores do que esperado para o comércio e a indústria, o IBGE anunciou na sexta-feira que o volume de serviços prestados no Brasil recuou pelo quarto mês seguido. O resultado veio na direção contrária das projeções, que esperavam uma variação positiva em maio, o que mostra a dificuldade em prever o desempenho dos setores neste momento.
Por outro lado, o time de Macroeconomia do Safra destaca que as atividades do setor que foram mais impactadas pelas medidas de distanciamento social registraram recuperações, em consequência do processo gradual de afrouxamento das restrições. Nesse sentido, nossos especialistas ressaltam a alta de 14,9% da categoria de “Serviços prestados às famílias”.
Inflação em junho
Na sexta-feira, o instituto mostrou também que o nível dos preços no país voltou a avançar em junho, após dois meses consecutivos de deflação. A alta de 0,26% do IPCA veio levemente abaixo das estimativas, influenciado pelo aumento mais contido da gasolina. Nossa equipe pondera que esse movimento deverá ser compensado nas próximas divulgações, uma vez que os reajustes promovidos pela Petrobras recentemente começarão a ser repassados com mais intensidade ao consumidor quando a demanda se normalizar.
No cenário-base do Banco Safra, o IPCA deverá terminar este ano com alta de 1,7%, abaixo do piso estabelecido pelo Banco Central. Já para 2021, nosso time projeta uma aceleração da inflação para 3,1%.
Apoio do auxílio emergencial
Para a equipe de Macroeconomia do Safra, uma das chaves para compreender a velocidade relativamente maior da recuperação econômica no Brasil até o momento é o auxílio emergencial, que aumentou diretamente a renda disponível da população, compensando parte dos impactos da crise no mercado de trabalho.
Segundo os cálculos de nossos analistas, o programa mais do que compensou a queda da massa salarial, algo que deverá permanecer ao longo do terceiro trimestre. Portanto, a queda na atividade estaria mais relacionada ao ao aumento da poupança precaucional e ao choque de oferta provocado pelas medidas de isolamento.
Com o fim do estímulo, entretanto, essa massa deverá cair 5,5% em termos reais no quarto trimestre, em relação ao mesmo período de 2019. Ponderando essas forças, nossa equipe atribui um leve viés de alta à atual projeção para o PIB, de queda de 5,7% em 2020.