Em uma semana positiva no exterior, os ganhos no mercado brasileiro esbarraram em dúvidas sobre o equilíbrio das contas públicas após a pandemia. O Ibovespa ficou praticamente estável, acumulando ligeira queda de 0,3% desde segunda-feira, enquanto o S&P 500 andou 3,5% nos Estados Unidos. No mercado cambial, a disparada do dólar ameaçou romper o nível dos R$ 6,00, mas a moeda americana enfim cedeu na sexta-feira.

Um ponto de atenção foi a disputa em torno do pacote de socorro a Estados e municípios. A semana começou com um texto aprovado pelo Senado que indicava um entendimento entre os parlamentares e o Ministério da Economia. A proposta determinou um repasse direto de R$ 60 bilhões aos entes federativos, além de revisões de dívida que representam um alívio de cerca de R$ 65 bilhões.

O texto previa ainda a suspensão de aumentos nos salários dos servidores públicos, o que iria gerar uma economia de R$ 130 bilhões, segundo o governo federal.

No entanto, as alterações aprovadas pela Câmara dos Deputados, e depois acatadas pelos senadores, ampliaram as categorias de funcionários que não iriam se submeter ao congelamento, o que diminuiria a economia com a contrapartida a R$ 43 bilhões.

Mais do que o valor em si, o texto aprovado pelos parlamentares foi entendido pelo mercado como um possível enfraquecimento do ministro da Economia, bem como um descuido com a situação fiscal do país no pós-crise – vale destacar que outras medidas tramitam no Congresso com potencial para aumentar o endividamento público.

A indicação do presidente Jair Bolsonaro de que iria vetar a liberação dos reajustes chegou a reduzir a tensão, mas os investidores devem acompanhar de perto se o veto, caso seja efetivado, não será derrubado pelo Congresso.

Outra medida importante foi aprovada nesta semana no Congresso. A promulgação da PEC do Orçamento de Guerra na quinta-feira criou um regime de fiscal extraordinário durante a pandemia e autorizou o Banco Central a adquirir títulos privados no mercado secundário, com o objetivo de prover liquidez ao mercado de crédito.

Dólar dispara após corte de juros

O Banco Central anunciou na quarta-feira sua decisão de política monetária. A instituição surpreendeu ao cortar a Selic em 0,75 ponto porcentual, passando por cima dos ruídos políticos que faziam o mercado apostar em um corte mais contido. No anúncio da decisão, o BC apontou que a situação de crise prescreve um estímulo elevado e indicou uma nova redução em junho.

Embora a taxa de juros não seja o único fator a pressionar o câmbio no Brasil, como explicou o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman, o pregão seguinte à decisão foi marcado pelo recorde nominal da moeda americana contra o real.

A trajetória de alta já vem desde o início do ano, provocada sobretudo pela queda nas commodities e pelo efeito “porto seguro” que fortalece a moeda americana em tempos de crise.

Preços recuam em abril

Puxado pela queda de quase 10% nos preços da gasolina, o recuo do IPCA em abril veio maior do que era esperado. O IBGE divulgou na sexta-feira que o índice caiu 0,31% em abril.

O número corrobora a visão do nosso time de Macroeconomia de que a inflação deve ficar bastante baixa no ano. Nossa projeção é de 1,7% por ora, bem abaixo do piso de 2,5% estipulado pelo BC para 2020.

O instituto também apresentou nesta semana os números da Pesquisa Industrial Mensal. A produção industrial recuou 9,1% em março, considerando a variação mensal com ajuste sazonal, na maior queda desde a greve dos caminhoneiros, em 2018. O resultado veio pior do que o mercado e a equipe do Safra esperavam.

Nossos especialistas apontam que todos os grandes grupos que compõem a pesquisa apresentaram resultado negativo, com destaque para o recuo de bens de consumo duráveis e de bens de capital.

Os dados da indústria devem vir ainda piores em abril, mês que ficou inteiramente sob efeito das medidas para conter o avanço da Covid-19. Dados relativos à indústria automobilística já mostram uma parte desse impacto.

Segundo a associação de montadoras Anfavea, menos de dois mil veículos foram produzidos no mês passado, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Foi um tombo de 99% na comparação com março, reflexo da paralisação de quase todas as fábricas ao longo do mês.

No início da semana, o representante das concessionárias Fenabrave já havia anunciado uma queda de 67% no emplacamentos de veículos na mesma base de comparação.