O comunicado divulgado ontem pelo Banco Central, após reduzir a Selic a 3,00% ao ano, indica que a autoridade monetária está mais antenada ao cenário atual, com a perspectiva de uma crise econômica grave associada ao coronavírus. Essa é a avaliação do economista Alexandre Schwartsman.

O ex-diretor do BC participou de uma conversa ao vivo com o Banco Safra. Na avaliação dele, a sinalização de que o Banco Central vai voltar a cortar a taxa básica de juros na próxima reunião, em junho, indica que a Selic vai cair novamente 0,75 ponto porcentual, a 2,25% ao ano, assim como na previsão do nosso time de Macroeconomia.

Dólar em forte alta

Na avaliação do economista, a queda da Selic não é o principal fator de pressão sobre o real, que tem mostrado forte desvalorização contra o dólar. O risco-país, a queda nos preços das commodities e o movimento global da moeda americana, por sua vez, explicam melhor a trajetória de alta.

“O que está por trás da desvalorização do real é uma combinação de fatores sobre os quais não temos controle”, destacou. Schwartsman acrescentou que a preocupação com questões fiscais, em meio ao aumento do gasto público diante da crise, também influenciam.

Crescimento da dívida

Com o aumento dos gastos públicos, Schwartsman prevê que o Brasil termine o ano com um endividamento de cerca de 90% do PIB, quando antes da crise a cifra era de 75%. Para ele, a trajetória de endividamento continuará até 2023.

Já a estabilização do endividamento público, que projetava entre 2022 e 2023, foi adiada por pelo menos cinco anos, diz o economista. Isso, acrescenta, se o país for capaz de sustentar o cumprimento do Teto dos Gastos, “mas não acho que vamos conseguir manter”. “A regra do Teto vai se tornar inviável. Ano que vem talvez consigamos manter, no próximo ficará difícil”, avaliou.

Para manter o Teto dos Gastos, a solução seria implementar reformas, como a administrativa e tributária, o que é improvável no cenário político conturbado, disse Schwartsman. A projeção também considera que o pacote fiscal anunciado pelo governo como resposta à Covid-19 fique restrito a 2020, o que não é garantido. 

Orçamento de Guerra

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) conhecida como Orçamento de Guerra, aprovada nesta semana pelo Congresso, foi caracterizada por Schwartsman como uma “medida muito positiva”.

A importância está associada, especialmente, à preservação das empresas, que deve ser ajudada pela possibilidade de que o Banco Central entre no mercado secundário para comprar títulos - uma das medidas da PEC e que, antes, estava fora do escopo de atuação da instituição.

Economia e saúde

Schwartsman alertou para um cenário de queda expressiva do PIB brasileiro em 2020 e aumento grande do desemprego. Mesmo assim, o economista disse que não é possível dizer se o desempenho econômico seria diferente caso o país optasse por outro caminho, e não por medidas de distanciamento social, para enfrentar a pandemia.

Para ele, não existe uma escolha entre quarentena e desempenho econômico, já que estudos indicam que, mesmo sem a implementação de restrições, as pessoas tendem a ficar em casa e deixam de consumir como antes em cenários similares.

No cenário atual, ele projeta que o agronegócio e os setores ligados a commodities serão os maiores beneficiados, por conta da alta do dólar. O de serviços, por outro lado, que representa cerca de 60% do PIB nacional, deverá ser o mais prejudicado.

Confira a entrevista completa: