Os indicadores econômicos divulgados na última semana começam a fornecer informações um pouco mais concretas a respeito do desempenho da economia global em meio à crise do coronavírus.

Segundo nosso time de Macroeconomia, a avaliação conjunta desses dados vem confirmando o quadro de recessão global com a possibilidade de estarmos diante do pior ano de crescimento desde a Segunda Guerra Mundial.

O número de novos casos de Covid-19 seguiu se elevando de maneira exponencial na semana passada, com destaque para a situação bastante preocupante observada nos EUA. A esse respeito, nossas especialistas de Macroeconomia destacam a declaração do presidente Donald Trump, na última quarta-feira, alertando a população para que estejam preparados para os “duros dias que estão por vir”.

A Casa Branca estima que o número de mortos por conta do coronavírus deve ser de pelo menos 100 mil, e que tal situação poderia ser ainda mais grave caso o país não tivesse adotado as medidas de distanciamento social.

Crise atinge emprego nos EUA

Em meio a esse cenário de pandemia, o mercado de trabalho americano já exibe sinais de uma reação bastante negativa. O número de novos pedidos de seguro-desemprego bateu mais um recorde histórico na semana encerrada no último dia 1º de abril, ao somar mais de 6,6 milhões de solicitações. O número superou a mais negativa das previsões do mercado.

Vale a pena relembrar que, segundo levan o recorde anterior dessa estatística tinha sido registrado justamente na leitura anterior, quando os pedidos somaram 3,3 milhões, já consideravelmente acima da marca de 665 mil registrada no auge da crise financeira de 2008.

Fechamento de postos de trabalho

O relatório do mercado de trabalho dos EUA referente ao mês de março também surpreendeu muito negativamente. No mês, houve a destruição líquida de 701 mil postos de trabalho, fechamento muito maior que o previsto pelo mercado (-100 mil). Vale notar que o período de coleta da pesquisa foi até o dia 12 de março, o que sugere que a próxima leitura poderá ser ainda mais negativa.

Nosso time de Macroeconomia ressalta que a pesquisa teve início em 1940 e, desde então, houve apenas dois meses de fechamento líquido superior ao verificado na leitura de março: setembro de 1945, com fechamento de 2 milhões de vagas, justamente ao final da Segunda Guerra Mundial; e março de 2009, com menos 800 mil vagas, no auge da crise financeira.

A visão da pesquisa por setores teve como destaque o fechamento de praticamente 460 mil vagas nos setores de hotelaria e lazer. Ficou muito claro que o setor de serviços foi o mais gravemente atingido, com destruição de 659 mil vagas, mas ainda assim não foi nem um pouco desprezível o fechamento líquido de 54 mil vagas na indústria.

As estatísticas de taxa de desemprego também surpreenderam muito negativamente. A taxa tradicional subiu de 3,5% para 4,4%, muito acima dos 3,8% previstos pelo mercado, voltando para os níveis de meados de 2017.

Interessante notar que essa medida teria subido ainda mais não fosse a diminuição da taxa de participação da economia, de 63,4% em fevereiro para 62,7% no mês passado. Por conta das medidas de restrição de mobilidade, menos pessoas procuraram efetivamente emprego no período de referência da pesquisa, o que tirou parte da pressão sobre a taxa de desemprego.

Com dinâmica semelhante, a medida ampliada de desemprego também aumentou consideravelmente entre fevereiro e março, de 7,0% para 8,7%.

Outros indicadores também evidenciaram a gravidade da contração econômica. O índice ISM de manufatura recuou de 50,1 pontos em fevereiro para 49,1 pontos em março, com praticamente todos os seus componentes caindo abaixo da marca de 50, pontos, o que denota contração da atividade.

Os respondentes da pesquisa novamente citaram problemas relacionados a restrições de suprimento por conta do coronavírus. Também chamou a atenção a queda de praticamente 30% no ritmo de vendas totais de veículos entre fevereiro e março, caindo para níveis tão deprimidos quanto os observados em 2008.
 
Estímulos econômicos nos EUA

Nesse cenário de clara contração econômica, o governo americano trabalha na viabilização das medidas contidas no mega pacote de socorro de US$ 2,2 trilhões já aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente Trump.

Ao mesmo tempo, o Fed anunciou mais uma medida no sentido de prover liquidez adicional ao sistema bancário. A instituição excluirá os títulos do Tesouro americano (Treasuries) de um ano e os depósitos mantidos no banco central do cálculo do índice de alavancagem suplementar dos bancos. Essa flexibilização da regra valerá por um ano e deve aumentar a liquidez do sistema bancário.

Ainda a respeito das atuações do Fed, interessante notar que a última atualização do balanço de ativos da instituição revelou que o banco central comprou mais de US$ 435 bilhões de títulos soberanos apenas na semana encerrada no dia 1º de abril, valor que representa novo recorde histórico. Com isso, o balanço total de ativos da instituição supera os US$ 5,5 trilhões.

Europa e contração global

Os contornos negativos da crise também começam a ficar um pouco mais claros em relação à Europa. Os índices PMI de serviços e composto caíram abaixo da marca de 30 pontos em março no agregado da Zona do Euro, com situação ainda mais delicada no caso dos índices na Itália. O acompanhamento dos casos de coronavírus começa a esboçar sinais de que estamos próximos do período de estabilização do número de novos contaminados na região, mas isso não reduz a gravidade da situação. Apenas na Itália, já foram diagnosticados praticamente 120 mil pessoas com Covid-19, sendo que o número de mortos se aproxima de 15 mil.

Infelizmente, o conjunto de todas essas novas informações reforça ainda mais a visão de que haverá forte contração da economia global ao longo deste ano. A esse respeito, as expectativas dos agentes de mercado para o crescimento em 2020 já começaram a ser reduzidas, mas devem sofrer cortes ainda mais significativos à frente.