O Brasil passa mais uma vez por uma crise hidrológica causada por volumes de chuva abaixo da média e baixos níveis dos reservatórios, o que vem provocando temores em relação à capacidade de fornecimento de energia do sistema.

Diante desse cenário, o Safra analisou os principais aspectos da matriz de energia brasileira e as implicações para o segmento de geração. A nosso ver, é improvável que o racionamento de energia seja adotado em 2021, mas os investidores devem ficar atentos ao período de chuvas de 2022.

Vemos potenciais efeitos negativos para as companhias expostas à geração hidrelétrica. No entanto, acreditamos que o cenário desafiador traz impactos limitados ao setor de energia em geral, pelo menos no curto prazo.

Sem racionamento

Nosso cenário-base não prevê racionamento para 2021. Isso porque o Brasil tem hoje uma matriz de geração muito mais diversificada em comparação a 2001, e o ONS deve adotar maior produção térmica em face da condições hídricas adversas, como aconteceu em 2014.

Além disso, desde 2017 o Brasil possui margens estruturais de reserva de energia em torno de 20% ao ano, devido ao início de novos projetos de geração e crescimento limitado da demanda.

Acreditamos portanto que o sistema será capaz de contornar a crise, pelo menos até o próximo período de chuvas, a partir do último trimestre do ano.

Vale destacar que adotamos as estimativas da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica para o GSF (sigla em inglês para Fator de Ajuste da Energia Assegurada, que corresponde à razão entre o que as usinas hidrelétricas geraram pelo que deveriam ter gerado) e para o PLD (Preço de Liquidação das Diferenças).

Maior impacto em geradoras hidrelétricas

Acreditamos que o segmento de geração hidrelétrica pode enfrentar um 2º semestre desafiador principalmente devido ao alto GSF e aos altos preços de curto prazo. Dentro de nosso universo de cobertura, a principal pressão seria sobre a Cesp (CESP6), que opera apenas hidrelétricas.

Engie (EGIE3) e AES Brasil (AESB3) também devem ser pressionadas, mas a diversificação de sua matriz oferece mais flexibilidade – AES Brasil tem usinas eólicas e Engie, térmicas.

Já no segmento de distribuição elétrica, os impactos devem ser mais limitados, caso o racionamento não seja adotado. No entanto, se o governo adotar iniciativas de redução do consumo de energia, os volumes de vendas podem ser prejudicados. Já o maior uso de térmicas e a adoção de bandeiras tarifárias devem pressionar as tarifas de energia em 2022. Quanto ao segmento de transmissão, vemos impactos muito limitados por enquanto.

Atualmente, nossas recomendações são:

  • Engie (EGIE3): Compra, preço-alvo de R$ 50,20.
  • AES Brasil (AESB3): Neutra, preço-alvo de R$ 14,30.
  • Cesp (CESP6): Compra, preço-alvo de R$ 32,30.

Para conferir nossa visão para outros papéis, acesse este link.