A inflação segue surpreendendo para cima. Na leitura de maio, o IPCA registrou alta de 0,83%, resultado mais alto do que a nossa projeção e o consenso de mercado. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses alcançou 8,06%, ante 6,76% registrada em abril.

A abertura do indicador mostrou surpresas altistas em diversos componentes, com destaque para a aceleração de bens duráveis, como automóveis e aparelhos eletrônicos. A nosso ver, a inflação de bens segue pressionada e rodando muito acima do padrão dos últimos anos, em grande parte pela restrição ao consumo de serviços causada pela Covid, que levou a um deslocamento da demanda na direção dos bens.

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Contudo, mesmo o setor de serviços já mostra alguns sinais de pressão inflacionária na margem. Na leitura do IPCA de maio, por exemplo, serviços de transporte e o ramo de alimentação fora do domicílio tiveram altas expressivas. Ainda que o segundo seja influenciado pela alta do preço dos alimentos, a dinâmica sugere a possibilidade de alta significativa dos serviços quando a economia abrir completamente.

Outro elemento de pressão inflacionária está relacionado às condições meteorológicas adversas no país. O volume de chuvas abaixo do padrão no primeiro semestre do ano trouxe um aumento na tarifa de energia elétrica, com a cobrança extra dada pelo sistema de bandeiras tarifárias. Enquanto no IPCA de maio foram incorporados os efeitos inflacionários de bandeira vermelha 1, a inflação de junho contemplará os custos de bandeira vermelha 2.

Além disso, a seca causou perdas relevantes nas plantações de cana de açúcar, traduzidas em forte aumento do preço de etanol. Em suma, a inflação de curto prazo segue pressionada e disseminada, o que é corroborado pelo índice de difusão, no nível de 64,3% na métrica de média móvel de três meses.

Em termos de núcleos, as principais medidas acompanhadas pelo Banco Central aceleraram na margem, com a média dos núcleos subindo de 5,3% em abril para 6,2% em maio, na métrica de média móvel de três meses. Trata-se de nível bem acima do teto da meta de inflação.

Nesse ambiente, revisamos a projeção de inflação para o ano de 2021 de 5,9% para 6,0%. Essa projeção acomoda a surpresa de maio e um cenário de manutenção da bandeira vermelha 2 por todos os meses do segundo semestre do ano, uma inflação de alimentos bastante elevada e algum repique da inflação de serviços nos terceiro e quarto trimestres.

Em reação a isso, acreditamos que o Banco Central continuará o processo de aperto monetário por mais tempo. Esperamos uma manutenção do ritmo de elevações de 0,75 ponto porcentual até levar a Selic a 6,5% ao ano.