Nas últimas semanas temos destacado o desafio do impacto da incerteza no quadro da saúde sobre as previsões econômicas.

O recrudescimento da pandemia e as medidas mais restritivas de distanciamento social já estão afetando a economia (por exemplo, pela mobilidade), e não é claro por quanto tempo esse quadro se estenderá.

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Com isso, aumentam as tensões políticas e a pressão sobre o gasto do governo, o que se traduz na deterioração dos preços dos ativos e das condições financeiras, como já se reflete nos indicadores de confiança, com implicações na disposição dos agentes econômicos de investir e consumir.

Cenários alternativos para a economia

Para lidar com a incerteza atual, desenvolvemos dois cenários alternativos (o cenário base segue com um crescimento do PIB de 3,5% em 2021 e de 2,0% em 2022):

  1. No primeiro cenário, a restrição mais intensa da mobilidade se estende até o final de abril, e a atividade econômica retoma lentamente em maio e junho, ganhando tração apenas em julho com o avanço da vacinação.
     
  2. No segundo cenário, adiciona-se ao primeiro uma expansão fiscal para amortizar alguns dos impactos da desaceleração econômica, mas com efeitos nos preços de ativos, inclusive nos juros.

Impactos do primeiro cenário no PIB

A experiência internacional desde o segundo semestre de 2020 sugere que o impacto direto do isolamento social é limitado, mas não desprezível e pode deixar sequelas.

Neste primeiro cenário alternativo, a atividade cai 2,6% no segundo trimestre, queda compensada parcialmente no segundo semestre.

O resultado seria um crescimento econômico em 2021 de apenas 2,6% vis-à-vis 2020. Isto significa uma contração de 1% em relação ao nível da atividade no começo de 2021.

A maior dificuldade da recuperação econômica, mesmo com o controle da Covid-19, deve-se nesse cenário à desorganização da economia, com aumento de inadimplências e fechamento de negócios, com impacto também no emprego.

O PIB de 2022 poderia crescer na taxa tendencial de 2,0%, mas sobre uma base mais baixa.

Cautela fiscal no segundo cenário

O resultado econômico no segundo cenário depende do quão judicioso o pacote fiscal viria a ser.

O impacto direto de um pacote de R$ 100 bilhões seria de 1,0% de redução da perda do PIB de 2021. Ele pode, porém, ter efeito negativo nas condições financeiras, com repercussões também negativas no PIB de 2022, que seria 1,8 ponto percentual menor.

Aumentar o gasto público para amortecer o impacto da Covid-19 é, portanto, uma ação que tem que ser conduzida cuidadosamente e possivelmente com contrapartidas em termos de reformas econômicas que agradem o mercado (por exemplo, a perda de controle estatal da Eletrobras).

Essa é, aliás, a mensagem do Relatório Trimestral da Inflação divulgado em março pelo Banco Central, em que alguns exercícios sobre o risco que alguma ação fiscal mal considerada poderia ter nos indicadores de confiança, no câmbio e em última instância na política monetária, com aumento adicional da Selic em até 240 pontos base.