Apesar do declínio da inflação por um segundo mês, a variação de 0,58% registrada no IPCA-15 em janeiro foi bem superior ao consenso de mercado e à nossa projeção (de 0,44% e 0,46%, respectivamente). De todo modo, a inflação em 12 meses cedeu de 10,42% para 10,20%, uma vez que o cálculo da inflação acumulada passou a descartar o resultado ainda mais elevado de janeiro de 2021.

Os detalhes do IPCA-15 sugerem um efeito inercial significativo, potencializado pela inflação alta em 2021. Alguns itens de serviços se destacaram pela resistência à queda, caso de aluguel residencial, conserto de automóveis e serviços de comunicação.

Na categoria de preços administrados, o item ‘Emplacamento e Licença’, que computa a alta anual do imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA), veio ainda mais alto que o esperado.

No setor de bens, segue o descasamento entre oferta e demanda e a pressão de custos de produção, como evidenciado pela aceleração de preços de mobiliário e roupas, além do problema específico dos automóveis novos.

Também houve elevação expressiva dos preços de produtos de higiene pessoal, refletindo a retirada dos descontos aplicados em novembro de 2021.

Os núcleos, que são métricas que suavizam a volatilidade da inflação, ficaram em 0,95%, acima dos 0,83% previstos por nós. A variação trimestral anualizada da média desses núcleos vem se mantendo acima de 8% nos últimos meses, nível bem acima da meta de inflação.

Olhando à frente, um grande risco para o IPCA ainda é o preço internacional do petróleo, como evidenciado pelos aumentos no preço doméstico dos combustíveis na virada do ano. Não se pode descartar o barril de petróleo a US$ 100, o que adicionaria mais de 0,5 ponto percentual ao IPCA, mantido o câmbio atual. A discussão de uma redução ad hoc dos impostos sobre combustíveis não aponta caminhos efetivos e duradouros para uma amortização significativa dos efeitos desse tipo de choque.

Há, porém, alguns riscos baixistas. O primeiro vem da pluviosidade nos últimos meses, que já levou os reservatórios da Região Sudeste a alcançar 40% do seu volume máximo. Ainda que não se chegue a 60% desse volume até o final de março, é provável que as bandeiras nas tarifas elétricas sejam revistas em maio para o nível ‘Amarelo’, permitindo redução significativa do IPCA ainda no segundo trimestre.

De forma mais imediata, também se pode esperar reajustes nos serviços de educação mais baixos do que anteriormente previsto. É o que indicam as variações de itens correlatos no IPC-S e o IPC-FIPE.

Assim, não obstante algumas surpresas no IPCA-15, especialmente a do IPVA, mantemos nossa projeção de 4,7% para o IPCA de 2022.

Sem minimizar os riscos externos e internos (como na alimentação), prevemos variações mensais mais brandas para o IPCA no segundo semestre, seja por dissipação e reversão de choques, seja por reflexo da fraqueza da atividade econômica e da taxa de juros em território significativamente contracionista.