O Banco Central Americano (Fed) apresentou fortes revisões nas projeções econômicas de crescimento para 2021 na última semana, quando a aprovação de um pacote de compensação de renda pelo Congresso americano, no valor aproximado de US$1,9 trilhão, foi incorporado às projeções do Fed para 2021.

A principal consequência foi a expectativa de crescimento econômico para 2021 saltar de 4,2% para 6,5%. Nesse cenário, a taxa de desemprego se reduzirá para 4,5% e a inflação deverá alcançar 2,4%, na medida de índice cheio.

Essas projeções se alinham com os indicadores esperados pela mediana de consenso, capturada pela Bloomberg. No entanto, o efeito estímulativo da política fiscal parece ficar restrito a 2021, dado que a projeção de PIB em 2022 subiu para 3,3%, somente 0,1 ponto percentual acima da estimativa anterior.

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Nessas circunstâncias, mais membros do Fed indicaram preferência por uma alta de juros em 2023, e alguns inclusive já estimando o início da normalização em 2022.

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No entanto, mesmo em um ambiente de crescimento, o Fed ainda não espera inflação significativamente acima de 2%. As projeções de inflação de 2022 em diante se alteraram muito pouco, subindo somente 0,1 ponto percentual, para 2,1% no final de 2023.

Inflação vs. juros

Por trás dessa perspectiva está a interpretação de que a relação entre atividade e mercado de trabalho com inflação, conhecida como curva de Phillips, permanece fraca como no período pós-2008. Com isso, mesmo que o desemprego caia mais cedo, o impacto na inflação será pequeno. 

Apesar da injeção de liquidez atual ser maior do que no pós-2008 e de natureza diferente, com mais transferência para pessoas de baixa renda, o Fed entende que o repasse para inflação continuaria baixo, não havendo perigo da volta da inflação como nos anos 1970.

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Isso permitiria manter juros baixos e compras de ativos altas até que a economia e o emprego atinjam os níveis desejados pelos formuladores das políticas públicas.

A tolerância do Fed com a inflação pode mudar as expectativas dos agentes econômicos. No mês de agosto do ano passado, o Fed decidiu alterar suas metas de inflação e pleno emprego, para uma inflação média de 2% e para uma taxa de desemprego “qualitativamente” baixa, ou seja, que inclua maior quantidade de grupos econômicos.

Como nos últimos anos a inflação foi mais baixa do que 2%, haveria espaço para aceitar uma inflação mais alta nos próximos anos, de forma a levar a média à meta de 2%.

As perspectivas para inflação

Na conferência de imprensa do dia 17 de março, o presidente do Fed indicou que a inflação de 2021 não deverá convergir para essa média, por refletir em grande parte apenas a recuperação dos preços deprimidos em 2020. Uma alta na inflação de Serviços, com a reabertura da economia, também seria interpretada com transitória. 

O risco dessa atitude, evidentemente, é levar à desancoragem das expectativas de inflação. Especialmente porque a instituição disse que agiria mais pautada por números observados do que projetados, indicando tolerância a reagir apenas depois de a inflação já ter subido.

O avanço da vacinação e o desempenho do mercado de trabalho devem ser as principais variáveis a guiar as decisões do Fed nos próximos meses. O governo americano tem vacinado ao redor de 2,5 milhões de pessoas/dia, tendo 22% da população recebido ao menos uma dose de vacina até agora.

Assim, a meta do presidente Joe Biden de vacinar todos os adultos até o final de maio parece factível, ainda mais considerando a entrega, até o final de abril, de 100 milhões de doses da vacina de dose única da Johnson&Johnson.

Com isso, o processo de reabertura da economia americana deve acelerar nos próximos meses, permitindo acesso da população aos setores de Serviços, que foram fortemente afetados pela pandemia e que representam 80% dos empregos perdidos.

O resultado deverá ser o crescimento de vagas (payroll) nos próximos meses, e aumento do emprego. Essas dinâmicas, de reabertura e geração de vagas, serão importantes para que o Fed possa entender melhor quão perto podem estar seus objetivos, de inflação e emprego.

Nossa visão sobre os juros americanos

Mantemos nossa visão de que no segundo semestre o Fed deverá começar a sinalizar a recuperação avançada da economia e a perspectiva de diminuição das compras de ativos em 2022, possivelmente já no primeiro semestre semestre.

E com isso estaria encaminhando o início da normalização da política monetária via taxa de juros para 2023.