A equipe de Macroeconomia do Safra alterou na semana passada a projeção para o IPCA de 2020, computando a última alta de gasolina divulgada pela Petrobras, o que elevou o IPCA em quase 0,15 ponto porcentual na projeção do ano, que agora aponta alta de 1,7% (antes a expectativa era de 1,5%).

Dessa forma, apesar da elevação da projeção para o ano, a visão de nossos especialistas permanece de inflação contida e ainda bastante abaixo da meta estabelecida para o ano, de 4,0%.

No curto prazo, a projeção é um avanço de 0,29% em junho e outro de 0,37% em julho, mas essas altas estão concentradas em preços administrados, enquanto serviços e núcleos permanecem em níveis bastante baixos.

Quanto aos núcleos, a média cedeu (-0,11%), em linha com o esperado, denotando o comportamento estruturalmente baixista da inflação.

Sobre 2021, nossa equipe de Macroeconomia passou a considerar que o grupo ‘Alimentação no domicílio’, que sairá desse ano mais pressionado, terá variação ao redor de 3,7% no próximo ano, ante projeção anterior de elevação de 4,9%.

Isso se deve ao fato de o setor agrícola ter capacidade para recompor sua oferta rapidamente, principalmente em relação aos produtos in natura. Desse modo, a projeção para o IPCA em 2021 passou de 3,1% para 2,9%.

Política monetária

Essa visão benigna reforça a avaliação de que a trajetória e o patamar da inflação são muito benignos e que devemos assistir a mais um corte da taxa de juros na quarta-feira, 17.

Nossos especialistas esperam que a Selic seja reduzida em 0,75 ponto porcentual, conduzindo o juro dos atuais 3,0% para 2,25%, nível que deve ser mantido até meados de 2022.

Contudo, o ciclo de afrouxamento pode ser ainda mais prolongado, condicionado ao cenário político e retomada da atividade econômica. O afrouxamento das condições financeiras pode fazer o Banco Central sentir-se menos desconfortável com a hipótese de redução da taxa Selic para além dos 2,25%.

Assim, em seu comunicado divulgado após a reunião, apesar de possivelmente sinalizar uma mensagem de cautela daqui para frente, considerando o nível alcançado pela Selic, o Copom deve deixar a porta entreaberta para eventualmente voltar a cortar a taxa de juros no segundo semestre, a depender da evolução do cenário, deixando a barra bastante elevada para efetuar novos cortes.

Nesse sentido, nossa estimativa que considera Selic a 2,25% em 2020 tem viés de baixa.

Análise de maio

O IPCA recuou 0,38% em maio, queda inferior à projeção do Banco Safra (-0,49%) e à expectativa mediana de mercado (-0,46%), levando o índice acumulado em doze meses a uma desaceleração de 2,40% para 1,88%. Mas, apesar da surpresa inflacionária, o desvio se concentrou no grupo de ‘Transportes’, devido aos preços da gasolina – nossa equipe esperava queda de 6,6%, e o observado foi um recuo de 4,59% –, e os resultados se mostraram benignos na inflação.

A desaceleração do IPCA em doze meses foi desencadeada principalmente pela desaceleração em “Alimentação no domicílio” e a continuidade de variações baixas ou negativas dos outros grupos na margem.

Depois da elevada variação no grupo de “Alimentação no domicílio” desde o início da crise, nosso time espera uma acomodação, e em alguns itens uma devolução dessa alta nos meses à frente. Para o ano, nossa projeção é de alta de 4,2% no grupo, com viés altista, dados alguns riscos.

O primeiro desses riscos é que o aumento das exportações de commodities agrícolas pressione os preços no mercado doméstico, mesmo com a queda de demanda interna.

Segundo, mesmo em itens não comercializáveis, por seu caráter essencial, as pressões de custos do atacado são mais facilmente repassadas para o varejo, como no caso do arroz e do feijão.

Em relação aos bens industriais, de modo geral, continuam com dinâmica bastante favorável. Embora tenha chamado a atenção alta significativa em itens como “eletrodomésticos e equipamentos” (+1,98%), “TV, som e informática” (+4,57%) e “automóvel novo” (+0,74%), essa volatilidade pode vir da mudança de coleta (de presencial para online ou por telefone), e não necessariamente ao repasse cambial. Nossa equipe aguarda as próximas divulgações para avaliar melhor essa hipótese.

Já o grupo de 'Serviços' registrou variação de -0,53%. É esperado que com a queda do emprego e renda, além do hiato ainda mais aberto devido à crise, esse grupo termine o ano com alta ao redor de 2,25%, bem inferior à variação registrada no ano anterior.

Por fim, os bens administrados registraram contração de -1,01% em maio, devido principalmente à deflação de combustíveis (4,56%). Para os próximos meses, esperamos elevação nos preços desses bens, motivada pelas altas de combustíveis anunciadas pela Petrobras desde meados de maio e que devem começar a aparecer nos preços ao consumidor a partir de junho, e também pelo reajuste de medicamentos e energia elétrica que tinham sido adiados devido à pandemia.