A inflação ao consumidor nos Estados Unidos medida pelo CPI ficou em 0,8% em fevereiro, acumulando 7,9% nos últimos doze meses. Excluindo alimentação e energia, o núcleo da inflação passou de 6,0% em janeiro para 6,4% no mês passado, a maior alta desses preços desde 1982.

O forte impulso ao consumo das famílias gerado pelos estímulos monetários e fiscais adotados no auge da pandemia, combinado com problemas de restrição de oferta, continuam pressionando os preços.

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Os indicadores de difusão também estão elevados, o que sinaliza espalhamento do aumento de preços ao consumidor por uma maior quantidade de bens e serviços.

A inflação de bens, excluindo commodities, subiu de 10,7% no final do ano passado para 12,3% em fevereiro, acumulado 12 meses. Na margem, houve um arrefecimento da variação mensal para 0,4%, abaixo da média de 1,0% dos três meses anteriores.

Parte desse arrefecimento foi causado pela menor inflação de veículos novos e deflação em veículos usados. A inflação anual de serviços, excluindo commodities, subiu de 3,7% em dezembro do ano passado para 4,4% em fevereiro.

Na margem, a inflação mensal ficou em 0,5%, aceleração em relação à média dos três meses anteriores em 0,4%. Nesse caso, os destaques de alta foram hospedagem, aluguel de veículos e passagem aérea. Esses itens refletem a recuperação da demanda após a redução dos casos de coronavírus.

Além disso, a normalização do consumo de serviços favorece a recomposição do nível de preços do setor para a trajetória anterior da pandemia, ainda que de forma mais acelerada na margem, podendo ultrapassar essa trajetória

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A inflação continuará bastante pressionada nos próximos meses com as condições apertadas do mercado de trabalho e pelo forte aumento do preço das commodities.

Entre os dias 25 de fevereiro e 10 de março, o preço do trigo no mercado internacional subiu 27%, o do milho aumentou em 15% e o da gasolina no Golfo do México subiu 16%.

Além disso, existe muita incerteza sobre os impactos da repercussão do conflito no leste europeu sobre as cadeias de produção ao redor do mundo. Esse pode ser um segundo ano de inflação muito acima do habitual, criando um risco de desancoragem das expectativas para o qual o banco central americano não pode deixar de focar com urgência.

Ainda que decorrente da guerra, a persistência da inflação nos EUA pode ter consequências importantes também para a desaceleração do crescimento econômico.

Assim, as expectativas de inflação dos economistas devem caminhar para cerca de 6,5% em 2022 e 3,0% em 2023. Nesse ambiente, o banco central americano deverá iniciar no dia 16 de março o ciclo de normalização da taxa de juro de forma bastante comedida, mas indicando a disposição de acelerá-lo.

As expectativas hoje são de que a taxa de juros básica encerrará o ano em 1,75%, atingindo 2,25% na primeira metade de 2023. Essa trajetória pode, no entanto, ser acelerada substancialmente com os novos choques, e o Fed poderá indicar isso já nessa próxima reunião.