O Reino Unido apresenta uma das recuperações mais lentas da Europa, com PIB real do segundo trimestre de 2022 apenas 0,6% acima do patamar anterior à pandemia.

Essa lentidão tem a ver com problemas de oferta, alguns potencialmente associados com o Brexit, tais como a menor oferta de mão de obra.

O mercado de trabalho está muito apertado. A taxa de desemprego baixou para 3,6% em julho, o menor patamar desde o início de 1974, enquanto o salário médio nominal subiu 5,3% nos últimos doze meses.

A demanda por trabalhadores pelas empresas está em linha com o patamar anterior da pandemia. Já a oferta de mão de obra permanece abaixo do final de 2019.

Parte relevante da queda da força de trabalho ocorreu na faixa entre 50 e 64 anos, sendo aposentadoria o motivo mais relevante. A imigração, por seu lado, continua fraca. Assinale-se que o desequilíbrio entre oferta e demanda por trabalho no Reino Unido é bem menor que nos EUA.

reino unido graficos.JPG

Essa elevação do custo de produção em função da escassez de trabalhadores tem pressionado os preços ao consumidor, com a inflação acumulada nos últimos doze meses em 9,9%, substancialmente acima da meta de 2%.

Excluindo os itens mais voláteis (energia, alimentação, bebidas alcoólicas e tabaco), o núcleo da inflação chegou a 6,3%, indicando que as pressões estão altas e disseminadas.

Diante desse ambiente, as expectativas de inflação do consenso dos economistas subiram para 9,1% em 2022 e 6,5% em 2023, criando um desafio persistente para o banco central inglês (BoE).

Nesse contexto, o BoE prosseguiu no ciclo de aperto monetário no dia 22 de setembro e aumentou a taxa básica de juros de 1,75% ao ano para 2,25% ao ano.

Além disso, anunciou o início da redução do seu balanço de ativos em 80 bilhões de libras esterlinas durante os doze meses a partir de outubro. Mesmo com os aumentos de juros previstos, a taxa de juros real deve continuar negativa por bom tempo, ao contrário do que se desenha nos EUA.

No dia seguinte, o novo governo britânico anunciou um grande pacote de estímulo fiscal, incluindo corte de impostos de 45 bilhões de libras esterinas até o ano fiscal de 2026/27 e subsídio para energia de 60 bilhões de libras esterlinas para os próximos seis meses.

Para financiar o novo orçamento, o governo pediu autorização para emitir 72 bilhões de libras esterlinas em novos títulos públicos nesse ano fiscal, o equivalente a 2,9% do PIB em apenas sete meses.

O pacote visa estimular o crescimento, mas efetivamente traz um imediato estímulo à demanda, realimentando a inflação de curto e médio prazo.

Um segundo efeito ocorre sobre o mercado de dívida. O aumento relevante na necessidade de emissão de novos títulos públicos elevou os juros futuros, prejudicando as condições financeiras. 

Assim, a taxa de juros dos títulos públicos de 30 anos passou de 3,8% ao ano no dia 22 para 5,1% ao ano na manhã do dia 28 de setembro, com um aumento extraordinário de custo de capital para apenas quatro dias úteis. Esse aumento representa uma significativa perda para os detentores de papéis de longo prazo, como fundos de pensão.

Essa perda pode ser exacerbada quando associada à presença de derivativos na carteira desses fundos, o que acendeu sinais de alarme para as autoridades britânicas.

Para tentar minimizar os efeitos sobre o mercado de títulos, o Banco Central europeu (BoE) anunciou um novo programa de compra de títulos públicos de 65 bilhões de libras esterlinas, que deve durar até 14 de outubro.

O aumento do balanço representa um novo afrouxamento monetário, o oposto do que havia sido anunciado no comitê de política monetária alguns dias antes. A combinação de mercado de trabalho apertado, forte estímulo fiscal e política monetária frouxa pressionará a inflação de médio prazo.

Portanto, o plano ambicioso de afrouxamento fiscal levará a necessidade de maior aumento de juros pelo banco central inglês.

A taxa de juros restritiva prejudicará o desempenho da demanda doméstica no próximo ano, expulsando especialmente os setores mais sensíveis ao crédito. Decisões do setor público podem deteriorar as condições econômicas do setor privado no médio prazo.