Estamos nos aproximando do final de maio e ainda segue incerto o momento em que começaremos a reabrir o comércio e setor de serviços e retomar a normalidade. Analisando a curva de crescimento do número de contaminados no Brasil, o time de Macroeconomia do Safra acredita que ainda não nos aproximamos do momento quando essa curva entrará em uma trajetória descendente.

Além disso, observando o crescimento dos óbitos, a curva sugere que devemos permanecer com tristes níveis elevados por um período prolongado, levando ou à necessidade de prorrogação da quarentena ou, mesmo no caso desta ser retirada, a um período longo em que as pessoas e empresas voluntariamente ainda evitarão situações de aglomeração, com impacto direto sobre o consumo.

Olhando para um grupo de países selecionados, nossos especialistas destacam que aqueles que já conseguiram iniciar o afrouxamento das restrições impostas pela quarentena tiveram um pico mais agudo e depois atravessaram um período de queda mais pronunciada tanto no contágio quanto nos óbitos, e apenas quando estes últimos foram bastante reduzidos, houve segurança para então aliviar as restrições.

Os EUA, que adotaram a quarentena mais tardiamente, enfrentaram um período prolongado em que as mortes ultrapassaram a casa dos milhares, mas também já mostram tendência de queda gradual.

O Brasil, entretanto, ainda mostra um crescimento acelerado do contágio e os óbitos diários superaram o milhar na semana passada. Assim, ultrapassamos a casa de 20 mil óbitos e já são 310.087 contaminados, de acordo com as estatísticas oficiais do Ministério da Saúde.

Nesse cenário, cresce a probabilidade de mantermos as restrições de funcionamento e mobilidade ao longo de boa parte de junho, ampliando os efeitos negativos sobre a economia.

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A análise da situação nas diferentes regiões mostra que, apesar de São Paulo ser o epicentro da pandemia, a região Nordeste também vem enfrentando uma situação crítica, com um crescimento também acelerado do contágio e dos óbitos.

Impacto na economia

Será divulgado nesta sexta-feira o desempenho do PIB do primeiro trimestre. Nossa equipe espera queda de 2,0% na margem, descontados os efeitos sazonais.

Contudo, a projeção para o segundo trimestre, que considera uma contração de 8,9% em relação ao trimestre anterior, pode ser ainda mais negativa se não começarmos a observar nas próximas semanas uma redução no crescimento do contágio e nos óbitos por conta do coronavírus.

Como nossa equipe de Macroeconomia vem apontando, o mês de abril deve ser o mais severamente afetado em termos de queda do consumo e produção industrial. E, com as poucas informações disponíveis para o mês de maio, podemos ver uma recuperação muito pequena e marginal.

As consultas ao SCPC e ao Usecheque da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), por exemplo, contraíram em abril 56,5% e 69,9%, respectivamente. Segunda a ACSP, os primeiros quinze dias de maio foram um pouco melhores que a primeira quinzena de abril, mas ainda assim apresentou queda expressiva em relação ao mesmo período de 2019.

E de acordo com a Fenabrave, o emplacamento de automóveis e comerciais leves caiu 65,1% entre abril e março, considerando os dados dessazonalizados por nós. Tal resultado seguiu uma queda já bastante forte de 38,7% em março. Já segundo a Anfavea, a produção de veículos recuou 99,3% em abril na comparação com o mesmo mês de 2019. No mês foram produzidos menos de 1.900 carros.

O Índice de Confiança da Indústria calculado pela FGV, que tem forte correlação com a produção industrial, passou de 100,9 em janeiro para 58,2 em abril, mostrando recuperação marginal em maio, para 60,6, considerando os dados dessazonalizados. Com base nos dois últimos indicadores, o Safra projeta queda de 21,7% na produção industrial em abril.

Mercado de trabalho

Já o mercado de trabalho, que reage de forma defasada, deve seguir mostrando deterioração ao longo dos próximos meses. Embora o governo tenha anunciado programas para tentar minimizar os efeitos da pandemia sobre o emprego, como a possibilidade de redução de jornada de trabalho e suspensão temporária de contratos (que segundo o Ministério da Economia já teria beneficiado mais de 7 milhões de trabalhadores), ainda é esperada forte elevação da taxa de desemprego esse ano.

Outro programa anunciado, que liberou crédito para empresas financiarem a folha de pagamento, não obteve sucesso e pode ser modificado pelo Congresso.

Ainda não há estatísticas oficiais sobre o mercado de trabalho após março, mas o Ministério da Economia tem informado o número de pedidos de seguro-desemprego nas últimas semanas, o que dá alguma informação sobre a situação dos trabalhadores no setor formal da economia.

Segundo a Secretaria de Trabalho, o número de pedidos de seguro-desemprego subiu 76,2% na primeira quinzena de maio na comparação com o mesmo período de 2019.