Principais destaques

  • Inflação:

O IPCA-15 de fevereiro avançou +0,22%, abaixo da nossa projeção (+0,25%) e da mediana das projeções do mercado (+0,23%). Incorporando as informações dessa divulgação e das coletas de alta frequência, projetamos variação de +0,19% e +0,05% em fevereiro e março, respectivamente. A média dos núcleos desacelerou, devolvendo as altas observadas em dezembro e janeiro ocasionadas pelo choque de alimentos.

Para o IPCA do ano, mantemos nossa expectativa em 3,60% e esperamos que a média de núcleos registre a mesma variação observada em 2019, +3,1%.

  • EUA:

Dados de atividade reforçaram nossa avaliação a respeito do bom momento da economia norte-americana. Importante destacar que, apesar disso, existe a possibilidade de observarmos alguma desaceleração marginal do PIB no primeiro trimestre de 2020 por conta do impacto que o surto de coronavírus na China temcausado nos fluxos de comércio internacional. Contudo, isso não altera nossa percepção sobre a robustez da economia norteamericana. Neste cenário, combinado com a perspectiva de avanço do core do PCE para próximo da meta de 2% estabelecida pelo Fed, continuamos antevendo a manutenção da taxa de juros ao longo de todo o ano de 2020.

  • Inflação: Núcleos devolvem alta observada ao final de 2019

O IPCA-15 de fevereiro avançou +0,22%, um pouco abaixo da nossa projeção (+0,25%) e da mediana das projeções do mercado (+0,23%). Com isso, a inflação acumulada em doze meses desacelerou de 4,3% em janeiro para 4,2%. Essa descompressão refletiu a queda dos preços de carnes ao longo do mês, após o choque causado pela escassez de oferta desse produto em dezembro. Vale lembrar que de novembro para dezembro a inflação acumulada em doze meses havia saltado de 2,7% para 2,9%, e depois para 4,3% em janeiro.

Em taxas mensais, a surpresa na comparação entre o observado e o projetado por nós se concentrou nos grupos “Alimentação no domicílio” (+5 pontos base – p.b.) e “Habitação” (-6 p.b.). No primeiro grupo, o desvio se concentrou no subitem ‘Carnes’ (+4 p.b.), cuja deflação foi menor que a projetada por nós. Em contrapartida, superestimamos a alta de ‘Encargos e manutenção’ (-4 p.b) e ‘Alugueis e taxas’ (-3 p.b). Incorporando as informações dessa divulgação, principalmente em subitens que repetem as variações observadas no IPCA-15 no índice fechado, e das coletas de alta frequência às nossas projeções, revisamos nossa estimativa para a inflação de fevereiro e março, passando de +0,24% e +0,11% para +0,19% e +0,05%, respectivamente.

Apesar disso, mantivemos a projeção para o IPCA de 2020 em 3,60% e de 2021 em 3,75%. Quanto aos núcleos, nossa avaliação permanece benigna. A média dos núcleos desacelerou na passagem de janeiro para fevereiro (de 3,3% para 3,1%), devolvendo as altas observadas em dezembro e janeiro ocasionadas pelo choque de alimentos. Assim, como podemos observar no gráfico abaixo, projetamos que os núcleos (considerando variação do IPCA fechado) devem desacelerar no início deste ano, ganhando tração a partir de abril e convergindo para o patamar médio das bandas sazonais.

Deste modo, a média dos núcleos deverá encerrar 2020 em 3,1%, variação idêntica à observada em 2019. Este
movimento está em linha com a nossa expectativa de que o hiato do produto ficará menos negativo ao longo de
2020 e de que a taxa Selic seguirá estável em 4,25% ao longo desse ano.

 

  • EUA – Sem alterações de juros à frente 

Ao longo desta semana conhecemos alguns dados de atividade que reforçaram nossa avaliação a respeito do bom momento da economia norte-americana. Importante destacar que, apesar disso, existe a possibilidade de observarmos alguma desaceleração marginal do PIB no 1T20 por conta do impacto que a situação na China tem causado nos fluxos de comércio internacional. Depois de as importações terem sentido os efeitos da guerra comercial em 2019, esperávamos uma normalização após a assinatura do acordo comercial entre EUA e China. E, a redução da produção chinesa pode fazer com que essa normalização seja adiada. Contudo, isso não altera nossa percepção sobre a robustez da economia norte-americana. Neste cenário, combinado aos indicadores de inflação e à ata da última reunião do Fomc, continuamos antevendo a manutenção da taxa de juros ao longo de todo o ano de 2020.

Os indicadores regionais de atividade exibiram avanço significativo entre janeiro e fevereiro. O mais importante foi o indicador de atividade de manufatura da região de Nova Iorque (Empire manufacturing), reconhecendo que trata-se de um dos indicadores com maior correlação com o índice ISM de manufatura, cujo resultado será conhecido no dia 2 de março.

O PMI da região do Fed de Nova Iorque acelerou de 4,8 pontos em janeiro para 12,9 pontos este mês, superando amplamente a expectativa mediana do mercado (5,0 pontos). O resultado ganha contorno ainda mais positivo uma vez que todos os componentes do índice (Novas encomendas, Envios, Entregas, Estoques e Emprego) mantiveram-se acima de 50 pontos, indicando expansão da atividade. Por fim, o índice de atividade futura – medido pela diferença entre os indicadores de Novas encomendas e de Estoques – também avançou na margem, completando o viés positivo a respeito do desempenho econômico da região.

Com dinâmica semelhante, o indicador de atividade do Fed da Filadélfia manteve-se em aceleração, passando de 17,0 pontos em janeiro para 36,7 pontos, também surpreendendo o mercado, cuja mediana das expectativas estava em 11 pontos. Assim como no caso do indicador de Nova Iorque, todos os componentes ficaram acima de 50 pontos.

Em nossa visão, estes resultados regionais indicam um avanço de pouco mais de 1,0 ponto do índice ISM de manufatura em fevereiro, passando de 50,9 pontos em janeiro para cerca de 52 pontos. Evidentemente, essa projeção está condicionada ao resultado dos demais indicadores regionais de atividade, mas ainda assim é uma boa sinalização a respeito do desempenho da atividade norte-americana.

Voltando agora nossa atenção para os indicadores de inflação, o índice de preços ao produtor (PPI) surpreendeu o
mercado ao avançar de 0,2% em janeiro (revisado de 0,1%) para 0,5% em fevereiro, considerando a variação
mensal. Mais importante, o núcleo da inflação também superou a expectativa, acelerando de 0,2% (revisado de
0,1%) para 0,4%. Com isso, elevamos nossa projeção para o núcleo do PCE em fevereiro de 0,20% para 0,23%, o
que, por sua vez, resultaria em uma aceleração da inflação em doze meses para 1,8% em fevereiro (vindo de 1,6%
em janeiro).
Destacamos que os indicadores mais fortes de atividade, combinados com a perspectiva de avanço do core do
PCE para próximo da meta de 2% estabelecida pelo Fed, reforçam nosso cenário de que a autoridade monetária
não deverá alterar a taxa de juros ao longo esse ano.

Ao mesmo tempo, esta semana também conhecemos a ata da última reunião do Fomc, onde vários membros do comitê reconheceram estar dispostos a tolerar que a inflação orbite acima da meta sem a necessidade de novos estímulos monetários. Ou seja, mais um reforço para nosso cenário de juros. Deste modo, avaliamos que a Fed Funds Rate deverá permanecer inalterada no intervalo 1,50%-1,75% ao longo de todo 2020.

Relatório assinado pelos economistas:
Priscila Deliberalli, Juliana Benedeti, Tatiana Nogueira