A crise energética ao longo de 2021 foi considerada um ponto de alerta para a recuperação da atividade econômica, mas as abundantes chuvas no começo desse ano dissiparam o mau tempo de preocupação.

O fim da crise hídrica também significou o barateamento da energia, o que, por sua vez, contribui no sentido de diminuição dos custos de produção, retirando as restrições vindas dessa área.

Como um bom guia para a direção da atividade econômica, a alta do consumo de energia confirma o bom crescimento da economia no primeiro trimestre.

Para a segunda parte do ano, porém, a atividade enfrentará outro tipo de seca. A fraca recuperação dos reservatórios no verão 2020-21 e a persistência da seca ao longo de 2021 impactaram a economia no ano passado.

A Energia Natural Afluente (ENA), uma medida da quantidade de água recebida pelas usinas que pode ser convertida em energia, permaneceu abaixo da média entre maio e outubro, atingindo um mínimo histórico de 10 GWmed em setembro de 2021. O risco de desabastecimento foi significativo ao longo de todo esse período.

A chegada da chuva de verão se deu com um mês de antecedência em 2021, iniciando um período de abundância de águas a partir do último trimestre daquele ano.

A boa afluência tem persistido ao longo de 2022, com níveis excepcionais de acúmulo de água nos reservatórios, mantendo-se confortavelmente acima da média.

A energia afluente foi 40% maior nos dois primeiros meses de 2022 em comparação a 2021, e os reservatórios da região Sudeste/Centro-Oeste alcançaram 60% de preenchimento ao final do verão, mais do que dobrando em relação a 2021.

Os reservatórios no Nordeste e Norte estão próximos a 100%. Com isso, a geração de energia hidrelétrica deixou de ser um empecilho para o crescimento econômico de 2022.

O fim da crise hídrica também significou o barateamento da energia, o que, por sua vez, contribuiu no sentido de diminuição dos custos de produção.

No auge da crise hídrica, a geração de energia hidrelétrica chegou a representar apenas 50% da geração total do sistema, enquanto numa situação normal a cifra para o mês seria por volta de 73%.

A geração térmica, por seu lado, chegou a atingir quase 30%, 11 p.p. a mais que a média histórica para o mês. Sendo o custo das alternativas térmicas maior do que das hidroelétricas, o prejuízo foi significativo.

As usinas térmicas em 2022 representaram apenas 7% da geração total em abril, bem abaixo da média histórica de 14,5% para o mês, com impacto direto no custo de produção da indústria de transformação e outros segmentos.

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O consumo de energia sempre foi um bom guia para a direção da atividade econômica. A alta desse consumo no primeiro trimestre de 2022 confirma o crescimento forte do PIB no período. Para abril, o dado dessazonalizado apresentou pequena alta de 0,3% ante o mês anterior.

Ao olhar a abertura desse consumo, o setor comercial é o destaque do ano, crescendo 8,9% até abril, refletindo o relaxamento das restrições à mobilidade e a retomada do setor de serviços.

O crescimento da demanda do setor industrial de 1,8% no começo do ano também foi significativo, apesar da queda de 3,2% na metalurgia, categoria mais eletrointensiva da indústria. Os dados de abril sugerem uma recuperação dessa categoria.

O consumo de energia do setor de serviços deve se estabilizar a seguir, dada a expectativa de moderação na atividade econômica nos próximos meses.

Os estímulos fiscais no primeiro semestre (adiantamento do 13º salário, abono salarial e liberação de parte do FGTS) não se repetirão a seguir, enquanto a política monetária ficará cada vez mais em terreno restritivo.

Com isso, e a expectativa de crescimento mundial que poderá afetar a exportação de produtos industrializados, o consumo comercial e industrial de energia elétrica não contará com grande impulso nos próximos trimestres.