A renda real disponível das famílias recuou 0,5% no segundo trimestre desse ano em relação ao primeiro, com ajuste sazonal e anualizada, o que arrefeceu o ritmo de crescimento do consumo pessoal para apenas 1,0% no mesmo período.

O desempenho do consumo tem sido desigual entre os setores. Entre o segundo semestre de 2020 e o primeiro do ano passado, o destaque positivo foi a demanda por bens, devido a necessidade de isolamento social.

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Desde o segundo semestre do ano passado, a possibilidade de maior mobilidade tem permitido a recuperação relativa dos serviços.

No trimestre passado, o consumo de bens recuou 4,4%, com ajuste sazonal e anualizado, incluindo a queda de 2,6% em duráveis e a retração de 5,5% em não duráveis. Por outro lado, o consumo de serviços subiu 4,1%.

O aumento da interação social colaborou para o melhor dinamismo do setor de serviços no último trimestre, como sugere o forte crescimento de serviços de alimentação e hospedagem (aumento de 13,5%) e recreação (aumento de 7,4%).

Por outro lado, a própria substituição pelos serviços e a possível saturação da demanda por bens ajudam a explicar o pior desempenho do segmento no trimestre passado, com destaque negativo às compras de produtos alimentícios (queda de 11,7%) e bens recreativos e veículos (recuo de 4,8%).

Móveis e equipamentos para casa também recuaram 3,8% no segundo trimestre, após o forte crescimento de 24% no auge da pandemia.

Essa discrepância setorial também pode ser observada em outros indicadores. Segundo pesquisa do ISM (Institute for Supply Management), as encomendas do setor manufatureiro diminuíram nos últimos dois meses.

Além disso, a percepção de estoques do segmento atingiu patamar historicamente elevado, o que sugere a necessidade de redução da produção desses bens à frente.

O arrefecimento da demanda por bens industrializados, a melhora nas cadeias de produção ao redor do mundo e a recente queda do preço das commodities devem arrefecer a inflação de bens.

As empresas americanas reportaram arrefecimento no ritmo de aumento do custo das matérias primas em julho, o que sustenta a expectativa de redução da inflação de produtos manufaturados nos próximos trimestres.

Enquanto isso, no setor de serviços, as encomendas permanecem resilientes e as encomendas pendentes continuam em patamar elevado, sugerindo necessidade de aumento da produção nos próximos trimestres.

Assim, o mercado de trabalho deve permanecer aquecido por mais tempo nesses segmentos, como sugere o elevado patamar de vagas em aberto, pressionando os salários e os preços.

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Portanto, durante o período de fortes estímulos fiscais e monetários, o consumo de bens foi o destaque positivo na economia americana.

Desde o final do ano passado, a maior interação social e a saturação do consumo de alguns produtos estão beneficiando o setor de serviços.

Essa dinâmica deverá ajudar a reduzir a pressão inflacionária de bens e manterá pressionado o índice de preços de serviços. A desinflação esperada para os próximos trimestres será discrepante entre os setores.