Com a conquista do Senado pelo Partido Democrata, o mercado elevou as chances de maior ativismo fiscal e de aceleração da recuperação econômica nos Estados Unidos.

Nesse ambiente, as discussões na última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) chegaram a dar força à interpretação de que possíveis ajustes poderiam ocorrer já em 2021.

O possível endurecimento foi reforçado pela manifestação de membros regionais do Fed, bem como pela subida em juros longos e pela apreciação do dólar.

Entretanto, para os economistas do Safra, o presidente da instituição, Jerome Powell, descartou na semana passada qualquer discussão de redução do volume de compras de títulos, e muito menos de normalização da taxa de juros. 

Ele lembrou que a crise de 2008 ensinou que a retirada muito rápida dos estímulos traria riscos maiores do que uma eventual inflação um pouco acima da meta.

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O foco da mensagem foi que o novo sistema de metas implementado pelo Fed pressupõe que a inflação mantenha-se perto do objetivo de longo prazo de 2% na média, compensando períodos em que tenha estado abaixo desse valor.

Assim, se a inflação apenas atingir 2%, ou ultrapassar esse valor por um breve período, isso não seria condição suficiente para a diminuição dos estímulos.

Powell também ressaltou que o Fed tem mandato duplo, cobrindo o mercado de trabalho, além da estabilidade de preços. Esse mandato não se refere, disse ele, somente ao nível de desemprego, mas também à distribuição do emprego entre diferentes grupos da sociedade.

Nesse sentido, o Fed estaria disposto a continuar estimulando a economia até que mesmo as pessoas com menor produtividade ou dificuldade de inserção encontrassem ocupação, reduzindo a desigualdade na sociedade.

Entenda o debate sobre juros nos EUA

Em 2021, diversos membros do Fed já vieram a público explicitar suas visões sobre o cenário econômico. Ainda que haja diversas opiniões dentro da instituição americana, os economistas do Safra destacam o tom mais otimista da última reunião de política monetária.

Quatro membros do Fed reforçaram a visão de que o crescimento em 2021 poderá ser bastante robusto, apresentando visões que refletem:

  • ausência de preocupação com a alta recente das taxas de juros de mercado, movimento que reflete uma expectativa mais positiva para o crescimento;
     
  • impulso adicional que a política fiscal deverá dar ao crescimento econômico no 2º semestre para além do que a atual recuperação da economia já sugere;
     
  • possibilidade de uma redução no ritmo de compras de ativos ainda em 2021 ou início de 2022, dependendo da atividade; e
     
  • possibilidade de discutir no início de 2022 a adequação das taxas de juros

No entanto, três desses presidentes regionais não participarão das decisões sobre a política monetária em 2021, em razão do rodízio de membros votantes (entenda mais abaixo).

Além disso, vários participantes das reuniões deliberativas consideram que, mesmo com a melhora na economia, o hiato do produto, aberto especialmente pela deterioração do mercado de trabalho, justificaria a manutenção dos atuais níveis de estímulos.

Na visão deles, ainda há riscos para atividade advindos do recrudescimento da pandemia e da lentidão da vacinação. Outro ponto é que o crescimento dos últimos anos não teria sido suficiente sequer para gerar inflação na meta – a inflação em 2021 deverá ficar em 2% pela base de comparação, e não por excesso de demanda.

Quem define a política monetária americana

O Federal Reserve é composto por um board of governors, que orienta e supervisiona o sistema, bem como por 12 filiais regionais, que cuidam primordialmente do dia a dia da operação do sistema financeiro, incluindo diversos aspectos da supervisão bancária.

O board é uma agência governamental independente subordinada ao Congresso, cujos membros são escolhidos pelo Presidente da República e aprovados pelo Senado. Já os presidentes regionais do Fed são escolhidos pelos bancos comerciais de cada região.

O órgão decisório para a política monetária é o Fomc, presidido pelo presidente do Fed, e composto pelos sete membros do board e por cinco presidentes regionais.

O presidente do Fed de Nova Iorque é membro permanente e vice-presidente do Fomc.Já os outros 11 presidentes alternam-se nas outras quatro vagas, em um sistema de rodízio anual.