Ao longo da última semana começaram a ser conhecidos os indicadores de atividade brasileira referentes ao mês de março. Os resultados revelam que houve uma forte contração da atividade econômica no período, mesmo considerando que as medidas de quarentena e restrição de funcionamento de estabelecimentos comerciais e industriais só passaram a ser aplicadas nas últimas semanas do mês.

Ao assumir que as restrições devem ser mantidas ao longo de boa parte de abril, nossa equipe de Macroeconomia avalia que a contração do PIB entre abril e junho deve se aproximar a 10%, a maior queda já observada em um trimestre.

De acordo com dados divulgados pela Fenabrave, as vendas de veículos recuaram significativos 22% em relação ao mês de março de 2019, o que correspondeu a uma queda de mais de 38% em relação ao mês de fevereiro, já considerando a série livre de influências sazonais.

O indicador de vendas da Associação Comercial de São Paulo também exibiu queda relevante entre fevereiro e março. Tanto o índice de vendas à vista quanto a prazo recuaram cerca de 30% já descontados os efeitos sazonais.

Retração já contemplada nas previsões

Nosso time de Macroeconomia utiliza esses dados em modelos de vendas varejistas. Os exercícios de previsão do PIB já supunham quedas nessa magnitude, então, pelo menos por ora, nossa equipe mantém a projeção de contração de 0,3% do PIB no primeiro trimestre (considerando a variação contra o trimestre anterior, com ajuste sazonal).

As economistas do Safra preveem uma queda expressiva do PIB no segundo trimestre, com base na continuidade das medidas de restrição de mobilidade ao longo de abril.

Passada a fase mais aguda da crise, a expectativa é por uma retomada gradual da atividade, com as medidas de injeção de recursos devendo aos poucos surtir efeito e minimizar os efeitos da crise sobre a economia.

O gasto total do governo (descontando medidas de diferimento de impostos e de estímulo ao crédito) já ultrapassam R$ 200 bilhões. Mas ainda assim, não deveremos escapar de uma forte retração no segundo trimestre.

No segundo semestre nosso time de Macroeconomia projeta forte crescimento, dado que partimos de uma base bastante reduzida. Mas o saldo líquido do ano, segundo as estimativas, será uma queda de 2,8% do PIB em 2020.

Além disso, também por partir de uma base deprimida, a projeção para o crescimento em 2021 é que ele seja mais acelerado, de 2,8% (ante 2,4% projetados anteriormente).

BC deve baixar juros

Na ata de sua última reunião, o Banco Central expressou preocupação com o risco de uma queda maior da taxa Selic resultar em uma piora das condições financeiras, que ficam apertadas quando observamos uma piora da percepção de risco e deterioração nos preços dos ativos.

De fato, houve uma forte deterioração das condições financeiras ao longo de março, mas nosso time de Macroeconomia acredita que ela é, em grande medida, influenciada pela piora do cenário externo. O risco-Brasil não apresentou comportamento destoante de outros emergentes e parte relevante da depreciação recente do real parece ser explicada pelo cenário externo e não pelo  diferencial de juros (que na prática até voltou a crescer com a forte redução da taxa americana).

Ademais, após a última reunião do Copom, em que o comitê reduziu a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, o Índice de Condições Financeiras (IFC) voltou a melhorar.

Dessa maneira, embora as medidas para injetar liquidez no mercado que o BC tem adotado sejam bem vindas, ainda assim nosso time de Macroeconomia acredita que seria prudente afrouxar adicionalmente a política monetária, uma vez que observaremos uma queda significativa do PIB. Assim, a projeção de nossas especialistas considera mais uma queda de 0,5 ponto percentual na taxa Selic na reunião de maio, levando a taxa de juros a 3,25% ao ano.

icf.png