As políticas de crédito para ampliar o acesso a recursos de micro e pequenas empresas impactadas pela pandemia de coronavírus são o principal desafio do governo e precisam melhorar, na avaliação do secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida.

Em conversa com o Safra, o secretário reconheceu que é preciso maior eficiência para que o dinheiro chegue à ponta e que novas ações com foco em garantir o acesso ao crédito a essas empresas podem ser anunciadas em breve.

Outras medidas, além das já anunciadas, também podem ser discutidas se a crise se agravar, mas a extensão de auxílios, como o repasse de R$ 600 a informais e grupos vulneráveis, não está em discussão. Segundo Sachsida, essas medidas são emergenciais e planejadas para durar entre três e quatro meses.

“Depois disso há uma ideia de retomada [da economia] já”, acrescentou. Ele também defendeu que programas sociais sejam redesenhados, para que possa ocorrer uma transferência de renda aos grupos mais pobres, sem deixar de lado o andamento de uma agenda de reformas pró-mercado.

Apesar de vislumbrar uma retomada à frente, o secretário reconhece o ineditismo da crise. Na quarta-feira, 13, o Ministério da Economia anunciou um forte recuo na sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2020. De uma estagnação, o governo passou a prever uma contração de 4,7%, reflexo da paralisação das atividades.

A secretaria comandada por Sachsida estima que o país crescerá 3,20% no ano seguinte, de modo que os níveis anteriores à crise deverão ser retomadas apenas em 2022. Os números do governo estão em linha com as projeções do Banco Safra. Para nosso time de Macroeconomia, a economia vai registrar uma retração de 4,4% em 2020, e avançar 3,0% em 2021.

Teto de gastos

A revisão do teto de gastos não vai ocorrer, garantiu o secretário. “Passada a pandemia, a agenda de reformas está mantida”, destacou. Sachsida defendeu que a discussão de políticas de austeridade seja retomada já no segundo semestre de 2020, o que poderia garantir um próximo ano “muito bom” para a economia.

Por enquanto, sua expectativa é de que a situação econômica, que sofreu impactos diante das medidas de isolamento necessárias para evitar a transmissão do coronavírus, comece a melhorar no terceiro trimestre. A taxa de desemprego, no entanto, vai enfrentar uma alta “muito grande”, o que reforça a importância de uma política social “mais robusta”.

Reajuste dos servidores

Questionado sobre a expectativa do veto do presidente Jair Bolsonaro à possibilidade de reajuste dos salários dos servidores, como parte da proposta de socorro a Estados e municípios, Sachsida afirmou que “estamos convictos de que o que for possível será feito”.

O veto foi prometido por Bolsonaro como resposta a um pedido do ministro da Economia, Paulo Guedes, e seria uma forma de evitar que os recursos dos repasses do governo federal em meio à pandemia sejam utilizados para correção salarial. “O presidente é extremamente leal e ele apoia muito o ministro Paulo Guedes”, disse.

Investimento público

Sachsida afirmou que houve uma comunicação ruim do programa Pró-Brasil. Segundo o secretário, não se trata de uma iniciativa de investimentos públicos, mas sim de uma agenda pró-mercado para ajudar a atrair investimento externo.

Outras formas de preparar o Brasil para que se torne um ambiente atrativo para investidores estrangeiros é melhorar o mercado legal, afirmou o secretário, citando exemplos como o do saneamento.

Veja a conversa completa abaixo: