O Banco Central (BC) divulgou nesta terça-feira, 11, a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada na semana passada. Além dos habituais detalhes sobre os elementos que impactam a política monetária, que para nossos especialistas sugerem estabilidade da taxa de juros no horizonte de pelo menos um ano, a ata trouxe uma novidade importante na forma de atuar do BC.

A inovação, destaca a equipe de Macroeconomia do Safra, está no anúncio de que o Copom considerou a utilização de forward guidance, uma “prescrição futura” como um instrumento de política monetária adicional. Essa ferramenta já é usada por outros bancos centrais, como o Federal Reserve, nos Estados Unidos.

Trata-se de uma indicação da intenção da autoridade monetária para o médio prazo. Ela pode, por exemplo, definir que irá manter os juros inalterados enquanto alguns fatores forem observados, explicam nossos especialistas.

No caso do Banco Central do Brasil, a ata explica que “a prescrição futura cumpre o papel de transmitir a visão do Comitê sobre suas ações futuras e tende a ajustar as expectativas expressadas na parte intermediária da curva de juros”, que hoje ainda está com retornos bem mais altos do que os da taxa Selic.

A ata nota que essa intenção de médio prazo seria assimétrica, ou seja, há a intenção de não aumentar a taxa de juros enquanto a inflação do cenário básico para 2021 e, em grau menor, 2022 estiverem suficientemente abaixo da meta de inflação, mas não o compromisso de não diminuir a taxa de juros no futuro próximo.

A intenção de não aumentar os juros fica condicionada também à manutenção do regime fiscal, já que sua ruptura implicaria alterações significativas para a taxa de juros estrutural da economia. Isso depende da continuidade do teto de gastos, por exemplo, destaca o time do Safra.

Outra condição é que o Banco Central não identifique risco “à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo”, já que essa desancoragem indicaria um estímulo monetário excessivo e conveniência de um aumento da taxa de juros.

Em relação aos fatores habituais de decisão do nível da Selic, em particular o corte decidido na última reunião, o comitê sublinhou que, apesar de sinais encorajadores, a recuperação da atividade econômica ainda se mostra incompleta, devido ao atraso do setor de serviços.

O comitê assinala ainda que pressões desinflacionárias provenientes da redução de demanda podem ter duração maior do que em recessões anteriores, também por conta da demora na recuperação do setor de serviços.

Em contraste a esses dois fatores, que poderiam sugerir novos cortes na taxa de juros, a ata aponta um potencial limite efetivo mínimo para a taxa de juro, destacando que “para a maioria dos membros do Copom, esse limite seria significativamente maior em economias emergentes do que em países desenvolvidos devido à presença de um prêmio de risco”, associado, por exemplo, às incertezas quanto à trajetória fiscal prospectiva.

Assim, a ata ressalta que "já estaríamos próximos do nível a partir do qual reduções adicionais na taxa de juros poderiam ser acompanhadas de instabilidade nos preços de ativos".

 

Projeção do Safra para Selic

 

Na avaliação do time de Macroeconomia do Safra, a recuperação econômica tem algumas possibilidades favoráveis, mas a fraqueza do mercado de trabalho ainda deverá manter a inflação bastante contida, viabilizando que o BC mantenha a política monetária em campo estimulativo por um longo período.

Por outro lado, o cenário fiscal permanecerá com riscos elevados ao longo dos próximos meses, mesmo que uma recuperação mais acelerada da economia diminua a pressão para a manutenção de transferências de renda emergenciais, sugerindo prudência adicional com respeito a futuros cortes da taxa de juros.

Assim, salvo surpresas negativas na atividade econômica, nossa equipe segue antevendo estabilidade na taxa Selic em 2% ao ano até o final de 2021.