Os impactos da pandemia de coronavírus no setor de saúde e imobiliário foram tema de live do Safra na última sexta-feira, com participação dos nossos analistas Luiz Peçanha e Ricardo Boiati.

Na área de saúde, Boiati acredita que o pior já passou. O especialista aponta que a curva epidemiológica está bem mais achatada por aqui do que em outros países que também enfrentam a pandemia, como os Estados Unidos.

Boiati ressalta o êxito na postergação do pico da doença, que garantiu o tempo necessário para implementação das adaptações no sistema de saúde.

Já no setor imobiliário, Peçanha aponta para a expressiva desaceleração no número de lançamentos de novos empreendimentos. Nos segmentos voltados a baixa renda, o adiamento dos lançamentos não ocorreu pela diminuição do número de vendas, que aconteceram mesmo à distância, mas sim pela dificuldade de aprovação de recursos junto às prefeituras.

Em média e alta renda, o problema é a perspectiva em relação ao sucesso nas vendas devido à queda de confiança dos consumidores, causada pelo receio de crises econômicas e de emprego futuras. Peçanha acredita que a pandemia postergou o processo de recuperação em curso no setor e que os índices encontrados antes da pandemia só serão vistos novamente em 2022, mas que a recuperação já começa agora no segundo semestre.

Construção

No setor imobiliário, Peçanha mostrou preferência por empresas com exposição ao segmento baixa renda, como Direcional, com preço-alvo de R$19,70 e potencial de valorização de 67%. Ele lembrou também MRV, com preço-alvo de R$22,90 e potencial de valorização de 36%, e Tenda, com preço-alvo de R$35,70 e potencial de valorização de 28% em relação ao fechamento do dia 11.

Historicamente, o segmento direcionado para baixa renda apresenta mais resiliência e bom desempenho mesmo nas crises. Segundo Peçanha, isso se dá pelos mecanismos de financiamento que reduzem a intensidade de capital que deve ser implementada na construção dos projetos.

No Minha Casa Minha Vida, a Caixa Econômica Federal repassa os recursos das vendas para as construtoras a medida que elas entregam a construção, o que faz com que o recebimento das receitas sejam antecipados. Além disso, mesmo no período de crise, há mais famílias interessadas do que a capacidade que as empresas conseguem produzir. Hoje, o programa produz 400 mil casas por ano e há mais de 6 milhões de famílias interessadas, com aumento de cerca de 1 milhão a cada ano.

Saúde

No setor de saúde, a escolhida por Boiati é a Hapvida. O especialista acredita que a empresa tem um horizonte de crescimento de lucros e de receita, além da expansão da margem operacional devido às aquisições recentes da empresa.

Outro ponto decisivo para a escolha foi o acionista controlador da Hapvida, que possui grande experiência na área de saúde e pensa na geração de valor a longo prazo. A Notredame Intermédica também está muito bem posicionada, segundo o especialista. 

Essas escolhas ocorreram pois são empresas com protocolos de atendimento e processos bem definidos, o que leva a um custo e sinistralidade consideravelmente menores.

Ambas fazem gestão de hospitais e clínicas verticalmente integrada, fazendo com que 80% ou mais do cólume dos atendimentos sejam feitos em sua própria rede de operação. Boiati aponta que esse modelo adotado por essas empresas é forte, fazendo com que elas se beneficiem em momentos bons da economia e ganhem mercado em crises.

Boiati cita Fleury e Pardini, também pelo posicionamento de longo prazo e Qualicorp, que paga bons dividendos. Peçanha avalia que os laboratórios devem sofrer mais impacto no curto prazo, tendo quedas fortes de receita e uma compressão da margem de lucros.

Todavia, com a reabertura econômica, situação deve ficar próxima da normalidade rapidamente e em 2021 já deve ter retornado ao patamar anterior a pandemia, por prestarem um serviço essencial para a população, que deve querer retomar seu uso o mais breve possível. 

Riscos

Para o setor de saúde, Boiati avalia que o principal risco seria uma eventual evolução da pandemia, levando a um número de internações acima da capacidade e ao colapso hospitalar. Porém, o especialista avalia que esse risco está diminuído, devido à estabilização da doença. Outro ponto de atenção é o pós-pandemia: uma eventual crise no emprego pode gerar impacto mais permanente no setor, em especial na capacidade das empresas de gerarem receita e no resultado operacional.

Já no imobiliário, Peçanha aponta o maior risco como o desemprego. Mesmo com ofertas de crédito e financiamentos com juros baixos, sem ter confiança no emprego os compradores não têm segurança para comprar imóveis. Outro grande risco apontado pelo especialista é que a única fonte de garantia dos financiamentos é o FGTS, cuja liquidez vem caindo nos últimos anos.

Peçanha apontou que, possivelmente, o volume de desembolso não conseguirá ser mantido a partir de 2023, levando à necessidade de reestruturação do Minha Casa Minha Vida ou diminuindo a vida útil do programa. Os riscos de distrato e insolvência, que abalaram o setor no passado, não devem ser tão significativos no atual cenário, segundo o especialista. Confira os detalhes do bate-papo no YouTube: