Há menos de um mês, no dia 8 de setembro, o Banco Central incluiu oficialmente a sustentabilidade na sua agenda de iniciativas para desenvolver o sistema financeiro do país.

A nova frente contempla medidas dentro da própria instituição, bem como parcerias com organismos internacionais. Ela propõe, além disso, estudos para criar linhas de crédito específicas e para estruturar informações relacionadas a essa dimensão.

Para abordar mais detalhes sobre a nova agenda, Joaquim Levy, diretor do Banco Safra, conversou nesta terça-feira, 29, com Otávio Damaso e Fernanda Nechio, diretores do Banco Central.

Gestão de riscos

Embora possa parecer um tema que não está diretamente relacionado ao mundo das finanças, a agenda sustentável do Banco Central está em linha com a missão da autoridade monetária de garantir a estabilidade dos preços e a solidez do sistema financeiro, aponta Fernanda Nechio, diretora de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos do BC.

Um exemplo concreto é a ocorrência de eventos climáticos extremos, que podem ter efeitos nos preços, afetando a política monetária. “Dentro de um sistema de metas de inflação, o Banco Central tem que levar em conta esses eventos”, afirma.

Além disso, a própria higidez do sistema financeiro pode ser testada por fatores ligados a esse campo. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde o sistema de crédito está apoiado no mercado imobiliário, incêndios como os que vêm assolando a Califórnia são riscos à garantia de boa parte dos empréstimos, ilustra ela.

Já Damaso, diretor de Regulação da instituição, lembra a crise hídrica em São Paulo que há cerca de cinco anos representou uma ameaça operacional ao sistema financeiro do país.

Outro risco citado pelo diretor e que exige a coordenação do BC é o de transição para uma economia de baixo carbono. Um segmento econômico, avalia, pode não se adaptar às mudanças e provocar eventos de crédito que poderiam fragilizar o sistema.

Damaso afirma também que o lançamento da agenda sustentável vem na esteira de uma série de outras atuações do BC nesse campo, que teve como marco a resolução de 2014 que fixou critérios para definir políticas de responsabilidade socioambiental.

Crédito verde

Outro tema explorado durante a transmissão do Safra foram os incentivos a projetos sustentáveis por meio da emissão dos chamados 'títulos verdes'. Na nova agenda, o BC propõe a criação de um escritório para organizar a concessão de crédito rural lastreado em atividades que atendam a critérios de sustentabilidade.

Uma maneira proposta pela instituição para estimular a área seria o aumento nos limites de contratação para essas operações. Veja abaixo o bate-papo completo e conheça mais detalhes sobre a agenda do BC.