Além dos impactos na saúde, a crise gerada pelo coronavírus também trouxe consigo impactos econômicos muito relevantes. Por isso, convidamos o economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, professor na Universidade de São Paulo por mais de 30 anos e sócio da MB Associados, uma das primeiras consultorias brasileiras na área de macroeconomia, para conversar conosco em nosso canal do YouTube acerca dos impactos do coronavírus sobre a economia.

Veja os principais pontos abordados:

Podemos comparar essa crise com outras que o Brasil já viveu?

Mendonça de Barros explica que a crise gerada pelo coronavírus se difere pois ela fez ocorrer o que os economistas definem como parada súbita. Isto é, em um curto período de tempo, acontece um fenômeno que faz as operações congelarem ou deixarem de existir, fazendo com que famílias e empresas se vejam de mãos atadas para lidar com o problema.

O economista alerta que a crise atual é grave e deve perdurar por algum tempo, com elementos de incertezas. Na parada súbita, ele complementa, a única forma de reiniciar a operação do sistema é por meio de políticas públicas. Elas são divididas em dois principais ramos, as advindas do Banco Central, como o foco em manter a liquidez do sistema financeiro, e as advindas do Tesouro Nacional, com a chamada política fiscal, que dá suporte a setores como o da saúde, auxílio a pessoas vulneráveis, como aquelas vivendo abaixo da linha de pobreza e autônomos, e auxílio a empresas, especialmente as micro e pequenas empresas.

O desafio principal, no momento, é a operacionalização das medidas anunciadas até o momento.

O que podemos esperar do resultado fiscal para o ano que vem?

O economista acredita que os impactos não ficarão restritos somente a esse ano, ou seja, eles devem se alastrar para o ano que vem. Mendonça de Barros aponta que a equipe econômica do governo tem subestimado o impacto fiscal da crise.

A crise prejudica, por exemplo, uma parte da estratégia do governo, que é a de venda de ativos, porque o preço desses ativos caiu muito e deve se manter em baixa pelos próximos meses. Além disso, ele acredita que muitas empresas não conseguirão pagar os impostos nas datas corretas. Esses dois elementos pressionam o lado da arrecadação.

Mendonça de Barros aponta que deve demorar bem mais do que um ano para retornarmos ao momento anterior à crise. Ele alerta para a dificuldade de ter clareza, embora sinalize que é importante saber quais são os objetivos finais. Ele acredita que os focos do governo devem ser:

  • manter o custo social o menor possível e, portanto, melhorar o desemprego;
  • preservar as empresas, pois são elas que vão fazer o país voltar a crescer;
  • obedecer as medidas de prevenção da doença, visto que quanto mais rápido contermos o avanço, mais rápido a economia pode voltar ao normal.

Deveríamos ter medidas específicas para alguns setores da economia?

“Essa é uma pergunta tão necessária quanto difícil. Primeiro, porque a maior dificuldade não está em um setor e sim no tamanho da empresa”, explica o economista.

Mendonça de Barros explica que as empresas menores naturalmente têm menos fôlego financeiro, e por isso enfrentam mais dificuldade.

Ele lembra, no entanto, que há setores que estão atravessando bem esse período e que vão ser, de certa forma, a base da retomada econômica. O agronegócio, por exemplo, segue como um dos poucos segmentos que permanecem sólidos ao longo das últimas turbulências. Há também exemplos positivos nos setores de saúde, logística, partes específicas da indústria química, entre outros.

No entanto, o economista lembra que há empresas bem sucedidas em todos os setores. “Desde a recessão de 2015, me chama mais a atenção a diferença entre empresas do que a diferença entre setores”, afirma. Na visão de Mendonça de Barros, essas empresas têm três características em comum:

  • estrutura de capital razoavelmente boa;
  • governança corporativa;
  • capacidade de ler corretamente para onde a tecnologia e os modelos de negócios estão caminhando.

Quais as expectativas para o desemprego no país?

O economista afirma que, mesmo com as medidas do governo, iremos observar um aumento grande no desemprego. Ele explica que a queda no mercado foi muito rápida, como por exemplo no setor automotivo, que repentinamente viu sua produção ter parada total, mas que a volta não será tão rápida assim.

Mendonça de Barros aposta na flexibilidade de acordos entre empresário e funcionário para negociar a diminuição no número de horas trabalhadas e salários por um período de tempo, mas permanecendo o vínculo empregatício com a empresa [após a conversa, o governo publicou a Medida Provisória que prevê redução da jornada de trabalho e salário, conforme falamos no Morning Call desta quinta-feira]. 

O economista ainda comentou sobre muitos outros assuntos, como o crédito do BNDES para pequenas e médias empresas e fez projeções para o PIB, IPCA e a Selic.

Você pode acompanhar a entrevista completa no vídeo abaixo:

 

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