Após ganhar destaque e ver o número de investidores triplicar nos últimos dois anos, a classe de fundos imobiliários (FIIs) também sofreu com a crise do coronavírus, embora as perdas tenham sido mais limitadas em relação ao mercado de ações.

Agora, o setor apresenta descontos vantajosos para quem busca oportunidades, segundo os gestores Leandro Bousquet, da Vinci Partners, e Felipe Gaiad, da Hemisfério Sul Investimentos. Eles participaram de uma conversa com os analistas Guilherme Macedo e Gustavo Garcia, do Safra, para discutir os desafios e oportunidades para os FIIs neste momento. Veja os principais pontos:

Shoppings

Na avaliação dos gestores, os fundos de shoppings são os principais afetados pela crise, que fechou diversos estabelecimentos comerciais como parte das medidas de isolamento social. O resultado foi um bom desconto nos preços das cotas. Para Bousquet, o importante ao procurar essa classe de ativos é observar sempre o longo prazo e tentar perceber o impacto da crise atual nos fundamentos de cada segmento imobiliário.

Mesmo com premissas conservadoras de longo prazo sobre os patamares de resultado e rendimentos dos FIIs, Bousquet afirmou que é possível encontrar oportunidades com taxa de retorno real acima de 10%, “um spread que, historicamente, é dos mais altos já vistos”, explicou.

Os fundos de escritórios e de hotelarias também devem ter impactos expressivos, já que a crise levou diversas equipes a trabalharem de forma remota e mostrou a relevância dos contatos virtuais. Com isso, mesmo o número de viagens curtas a trabalho pode ser reduzido, na medida em que sejam vistas com menor necessidade.

Logística

Os gestores apontaram, por outro lado, que o segmento de logística deve ser o menos afetado pelos impactos do coronavírus na economia, e portanto funciona como uma boa forma de proteger os investimentos. 

Gaiad, da HSI, acrescentou que a recuperação do setor deve ser a mais rápida, especialmente considerando que impactos da crise devem apresentar também oportunidades de logística para empresas que fortaleceram o comércio online, por exemplo. 

Antes de comprar, Macedo, do Safra, ressaltou que o principal a observar é a qualidade do ativo em si, não os rendimentos passados.

Retomada

Após a forte queda nos FIIs nos últimos meses, alguns ativos já ensaiam alguma recuperação. Contudo, a retomada do patamar de preços anterior ao coronavírus dependerá de uma série de medidas, como a retomada da economia e a reação da população a ela.

A expectativa da HSI, que considera a reabertura econômica em maio como cenário-base, é de uma retomada em 'U', ou seja, um pouco mais longa do que esperado inicialmente, quando se falava em uma volta à normalidade em 'V'. Para Gaiad, a situação deve se normalizar no final do próximo ano. 

Pessoa física

Como grande parte dos investidores em FIIs é composta de investidores pessoa física, Garcia convidou os gestores a deixarem um conselho para quem entrou recentemente no mercado e já se deparou com um cenário de estresse acentuado. 

Para Bousquet, estar preparado, mirar o longo prazo e diversificar são atitudes fundamentais. “Na nossa visão, a oportunidade é muito boa, mas vai ter volatilidade no curto prazo”, destacou.

Gaiat também ressaltou a importância de observar a composição, qualidade e liquidez dos FIIs antes de investir. Além disso, o gestor da HSI falou sobre a importância de prezar por fundos com boa gestão. Já Macedo, do Safra, recomendou calma, para comprar ou vender. “Não é a primeira crise que estamos vivendo e não é a última, oportunidades de compra vão aparecer”, disse.

Veja a conversa completa com os gestores: