Apesar do bom desempenho do mercado americano, o Ibovespa teve ontem uma forte queda, em reação às incertezas sobre a agenda do governo brasileiro para as contas públicas.

O mercado ainda aguarda uma definição sobre o desenho dos programas de assistência no país, principalmente após o fim do estado de calamidade, que suspendeu as restrições orçamentárias.

Veja o Morning Call completo aqui:

Novidades sobre o debate tributário também estiveram no radar dos investidores. A assessora especial do Ministério da Economia, Vanessa Canado, sinalizou ontem que o tributo sobre pagamentos que está sendo analisado pelo governo não deverá incidir apenas sobre o comércio eletrônico, mas sim sobre uma base mais ampla.

O novo imposto vem sendo defendido pela equipe econômica como uma forma de compensar a redução de impostos sobre a folha de pagamentos das empresas.

No exterior, destaque para as negociações da Argentina com o FMI para um novo programa, que deverá substituir o financiamento de US$ 57 bilhões acordado com o fundo em 2018. No início do mês, o país já havia anunciado um acordo provisório com seus credores para reestruturação de uma dívida de US$ 65 bilhões.

Impasse fiscal

O presidente da República afirmou ontem que a proposta de lançamento do programa Renda Brasil, que pretende expandir o Bolsa Família, está suspensa. Segundo Jair Bolsonaro, a proposta apresentada pela equipe econômica não será enviada ao Congresso e precisará ser rediscutida. Ele mostrou que não concorda que o Renda Brasil absorva os recursos do abono salarial, que consiste no pagamento de um salário mínimo a cada ano a trabalhadores formais que ganham até R$ 2 mil.

A suspensão evidencia o desafio que a reconfiguração dos gastos representa. Como já apontou a equipe de Macroeconomia do Safra, para que o Renda Brasil aumente significativamente o número de famílias beneficiadas sem estourar o orçamento, será preciso realocar recursos de diferentes frentes.

Além disso, para a ampliação dos benefícios sociais se dar de modo sustentável, nossos especialistas lembram que as reformas fiscais precisarão ir além das propostas de gatilhos para conter o crescimento do gasto obrigatório. Isso porque a economia gerada por esses mecanismos seria apenas extraordinária, enquanto as despesas com os programas seriam recorrentes.