Os mercados passam por um movimento de aversão a risco, dado o bombardeio da Rússia a cidades ucranianas, inclusive na capital Kiev.

Os índices de ações da Ásia encerraram em queda, enquanto as bolsas da Europa operam em baixa de cerca de 4%. No Brasil e nos Estados Unidos, o S&P 500 e o Ibovespa recuam cerca de 2% na abertura, enquanto o dólar sobe mais de 1%.

Além disso, o conflito no leste europeu também pressiona os preços do petróleo, a frente de maior preocupação para a inflação mundial. O barril de Brent chegou a ser negociado a US$ 105 dólares, acumulando avanço de mais de 30% no ano de 2022. Lembrando que a Rússia é um dos maiores fornecedores globais tanto de óleo quanto de gás natural.

A cautela também se manifesta nas taxas do Tesouro americano, que recuam ao menor nível desde o início do mês, diante da forte demanda dos investidores por proteção. Comportamento semelhante também impulsiona os preços do ouro.

No que diz respeito aos investimentos, a perspectiva é de que a volatilidade permaneça elevada nos próximos dias, em razão das fortes incertezas no cenário. Por isso, reforçamos nossa recomendação de moderação para eventuais movimentos nos portfólios até que a situação demonstre mais clareza diante das consequências comerciais e intensidade dos ataques.

Dólar a R$ 5

Tivemos ontem uma marca importante no mercado cambial. O dólar foi negociado abaixo dos cinco reais pela primeira vez desde a metade do ano passado.

A depreciação da moeda americana também vem ocorrendo em outras economias emergentes, como Chile e África do Sul, mas aqui no Brasil o movimento tem sido mais acentuado.

Entre os principais motivos para isso está a forte entrada de recursos estrangeiros na Bolsa brasileira. Isso porque, em meio à retirada de estímulos ao redor do mundo, os investidores privilegiam neste início de ano uma estratégia de valor, isto é, buscando ativos que estejam sendo negociados a preços mais baixos frente aos seus fundamentos.

Isso tem gerado uma onda de compras de ações no setor de commodities, por exemplo, em especial de petróleo, que se beneficia das cotações mais elevadas que temos visto nas últimas semanas.

O bom momento desses ativos contrasta com o desempenho de papéis ligados a estratégias de crescimento, que operam com múltiplos mais esticados, prevendo expansões significativas de lucros, a exemplo do setor de tecnologia dos Estados Unidos.

Além da rotação de crescimento para valor, outro fator que tem ampliado a procura pelo real é o nível bem mais alto da Selic em relação à taxa básica de outros países, atraindo investimentos de fora também na renda fixa.

Inflação no Brasil

Na frente de indicadores, a prévia da inflação no Brasil subiu praticamente 1% em fevereiro, uma aceleração bem acima do esperado pelo mercado e pelo Safra. Foi a maior alta para meses de fevereiro desde 2016, o que levou o IPCA-15 a acumular 10,76% em 12 meses.

Como esperado, o maior impacto veio da educação, em razão dos reajustes que costumam ser praticados no começo do ano letivo. No entanto, os avanços de alimentos e transportes vieram mais fortes do que nossas projeções.

Também acompanhamos ontem mais dados positivos da arrecadação federal. As receitas em janeiro superaram os R$ 235 bilhões, um aumento real de 18% em relação ao ano passado.

Foi o melhor mês de janeiro da série histórica iniciada em 1995, impulsionado pela declaração de fortes lucros das empresas no ano passado.

Na agenda de hoje, estão previstos novos números sobre as contas públicas, com o resultado primário do governo central em janeiro. Além disso, o IBGE publica a Pnad Contínua referente ao último trimestre de 2021. O Safra espera que a taxa de desemprego no período caia para 11,4%.