A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, conversou com o Safra nesta quinta-feira, 23, sobre os impactos do coronavírus no setor e os principais desafios no abastecimento do país.

Mesmo em meio a um cenário de pandemia, o agronegócio deve apresentar desempenho satisfatório, segundo a ministra. Isso porque a crise coincidiu com o fim de uma safra recorde, e a alta do dólar beneficia grandes culturas, como grãos e café.

O principal foco da pasta diante da ameaça do coronavírus é garantir que a produção “chegue ao processamento e a prateleira do supermercado”, reforçou a ministra.

Para a engenheira agrônoma, que lidera a pasta desde o início do governo do presidente Jair Bolsonaro, ao mesmo tempo em que há uma grande preocupação em torno dos pequenos produtores e de produtos como a cana de açúcar, existe uma boa oportunidade para o Brasil expandir suas exportações, ampliar parcerias e diversificar produtos. 

Durante a conversa, a ministra criticou o protecionismo e afirmou que o momento é de repensar o mercado como um todo, principalmente para abastecer países que sofrerão mais com a queda da economia global. 

Coronavírus e agricultura

A primeira pergunta dirigida à ministra foi sobre o impacto da pandemia no setor. Segunda ela, no início a maior dificuldade foi harmonizar as ações com municípios e Estados. Ela explicou que o auge da crise coincidiu com o fim da colheita da safra de verão, que foi uma safra recorde, e por isso a maior preocupação foi a distribuição desses produtos, bem como a manutenção da atividade dos caminhoneiros. “Não adianta colher sem ter como distribuir”, resumiu. 

Hoje, segundo Tereza Cristina, as atenções se voltam para os pequenos produtores de atividade como horticultura, a floricultura, a produção de leite e indústria de laticínios. Outras áreas afetadas são as exportações e o pescado.  

Exportações

Tereza Cristina explicou que o ministério tomou várias providências em conjunto com a iniciativa privada para garantir o trabalho dos funcionários dos portos e caminhoneiros.

As ações foram desde o fornecimento de equipamentos de proteção e álcool em gel até a viabilização da abertura de estabelecimentos essenciais, como mecânicas e restaurantes na estrada. “Colocamos à disposição diversos órgãos e empresas para garantir abastecimentos internos e contratos de exportação”, contou a ministra. 

Corrida aos supermercados

Sobre a corrida para estocar alimentos e a consequente alta de preços, a ministra acredita que o preço de alguns produtos ainda deve subir, mas não há risco de abastecimento. “Nosso principal trabalho hoje é fazer com que a produção chegue ao processamento e a prateleira do supermercado”, disse.

O monitoramento de preços fica a cargo do Procon, mas a ministra afirmou que a pasta mantém o acompanhamento para saber se eventuais altas refletem alguma questão da cadeia produtiva. “Estamos em um momento de guerra e precisamos ter a  inteligência do sistema funcionando”. 

Protecionismo

Durante as conversas do G20, muito se foi discutido sobre as barreiras sanitárias de países para proteger seus mercados. A ministra fez duras críticas a essa postura. “Está na hora de rever esse tipo de protecionismo”, disse. Para ela, esse é o momento de construir um mercado melhor daqui pra frente e o Brasil tem uma boa oportunidade de crescimento com essa nova lógica.

“O Brasil está pronto para ser um dos maiores supridores de diversos produtores no mundo”, disse lembrando que países na Europa, por exemplo, podem ter baixas em suas ofertas.  Tereza Cristina também reforçou que os países mais ricos deverão ajudar os mais pobres que sofrem com a fome e terão dificuldades para importar produtos com a queda da economia global. 

Socorro a produtores

Tereza Cristina afirmou que uma medida de auxílio a produtores está acordada e deve sair em breve,  e que a função de sua pasta agora é garantir que os recursos cheguem na mão de quem realmente precisa, como pequenas cooperativas e produtores de leite, por exemplo. Segundo ela serão R$ 600 milhões de recursos para atender o pequeno produtor rural. 

Um dos setores mais importantes dentro da pasta, o setor sucroalcooleiro, gera bastante preocupação para a ministra. As medidas propostas para ajudar o setor são a volta da Cide, a redução do PIS/Cofins e um subsídio pago para a estocagem de etanol. “Com as pessoas em casa e a disputa entre Rússia e Árábia Saudita, houve retração enorme da demanda em plena safra. Esse álcool precisa gerar receita para movimentar a cadeia”, reforçou.

Nível de atividade

Sobre o andamento da agroindústria em meio à pandemia, a ministra afirmou que “nossa preocupação é fazer essas empresas rodarem para não ter desemprego”. Ela explicou que a principal apreensão dessas empresas é com a escassez de crédito. Devido à possível alta da inadimplência, elas estão encontrando dificuldade para acessar linhas de crédito para capital de giro. 

Veja abaixo a conversa completa com a ministra.