Com a paralisação das atividades, a pandemia do coronavírus trouxe obstáculos a empresas de todos os setores da economia. No caso da Petrobras, os desafios são ainda maiores.

Além do colapso da demanda e das dificuldades operacionais impostas pela crise sanitária, a estatal atravessou uma guerra de preços entre alguns dos maiores produtores globais. Em abril, o preço do barril de petróleo do tipo Brent, referência global, chegou a cair 70% no ano, cotado abaixo de US$ 20.

Em conversa com o Banco Safra transmitida em tempo real nesta terça-feira, 19, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, comentou sobre esse cenário. A estatal vem buscando ganhar competitividade, e agora passa por um processo de adaptação à nova realidade de preços, contou o economista, que foi diretor da Vale e do Banco Central, e tem pós-doutorado na Universidade de Chicago.

À frente da estatal há um ano e meio, o executivo mantém uma postura cautelosa em relação à recente recuperação da commodity. Isso porque a reabertura em curso na Ásia e na Europa pode esbarrar eventualmente em novas ondas de contaminações de Covid-19. "Não vejo um céu azul brilhando por esse movimento de curto prazo", diz. "A nuvem de incerteza só desaparecerá quando houver uma vacina."

Ele se mostra cético também com a capacidade da Opep em dar suporte aos preços a partir dos novos cortes anunciados. "A evidência empírica mostra que isso é ilusório, senão teriam evitado o colapso de preços em 2014."

Por outro lado, Castello Branco destaca o avanço das exportações da estatal, que bateram recorde em abril, com a venda de um milhão de barris por dia. Outro ponto positivo mencionado é a credibilidade da companhia junto ao mercado, que aceitou a justificativa contábil que levou ao prejuízo de quase R$ 50 bilhões registrado no primeiro trimestre, o maior da história da petroleira.

Impacto nos derivados

A crise trouxe fortes impactos para os produtos comercializados pela empresa, afirma Castello Branco, citando a contração nas vendas de gasolina, que chegou a 60%. Com aeroportos sem movimento, a divisão de querosene de aviação também sofreu.

Já o diesel vem resistindo mais, aponta o executivo, já que a movimentação de cargas para escoamento da safra não foi muito alterada. Ajudou ainda o aumento das vendas no e-commerce.

Exceção às perdas foi o GLP, o gás de cozinha. "Houve uma certa apreensão dos consumidores e a demanda aumentou", explica. Foi puramente por estocagem."

Adaptação à crise

Em meio a esse cenário, Castello Branco ressalta que a empresa decidiu reduzir a utilização das refinarias de 80% para 60% da capacidade, com o objetivo de não acumular estoques excessivos. Com o fôlego nas exportações, a operação está agora voltando a níveis normais.

Foram hibernadas 62 plataformas de águas rasas, cujos custos não se sustentam com a queda dos preços do barril. "Seria praticamente pagar para produzir; são ativos com alto custo e baixa produtividade", afirma. "As 62 plataformas produziam 23 mil barris por dia, enquanto uma única no pré-sal produz 180 mil".

Outra frente de adequação é a revisão de novos projetos. A expectativa da companhia é que o barril de petróleo se estabilize no patamar de US$ 50, mais baixo do que era previsto no planejamento do início do ano. Castello Branco afirma que a empresa irá aprovar apenas projetos que resistam a essa nova realidade de capital mais escasso. O objetivo é que a empresa cresça, mas de maneira saudável.

Privatização de refinarias

Um dos pilares da estratégia da atual gestão da Petrobras é a venda de ativos que não lhe dão vantagem competitiva, movimento que pretende também reduzir o endividamento da companhia. Esse programa está centrado hoje na privatização das refinarias da estatal.

Segundo Castello Branco, a crise do coronavírus não afastou os interessados em adquirir esses negócios. "Nossa expectativa continua positiva, estamos confiantes que vamos assinar os acordos até o final deste ano, e concluir as transações no próximo."

Veja aqui a entrevista completa e saiba mais detalhes: