Com a maior adesão do home office, em meio às medidas de distanciamento social, o segmento de delivery de alimentos foi um dos que mais cresceu durante a pandemia. No entanto, pairam dúvidas se esse aumento será mantido à frente. Os hábitos de consumo dos brasileiros realmente mudaram ou voltarão à antiga realidade com o afrouxamento das quarentenas?

Para analisar o segmento e responder a dúvidas como essa, o Banco Safra convidou para uma conversa ao vivo Diego Barreto, diretor financeiro e de estratégia do iFood, o maior aplicativo de delivery do Brasil e Jean Paul Maroun, diretor de operações da Mimic, startup que oferece soluções para restaurantes na implementação do serviço de delivery.

Primeiras reações à crise 

Barreto acredita que existe uma falsa impressão de que a pandemia fez os negócios de delivery crescerem de maneira desproporcional. O executivo relata que o iFood estava crescendo 100% ao ano há pelo menos seis anos e, para ele, os 10% de crescimento obtidos durante a pandemia representam apenas a aceleração de alguns meses. A grande mudança obtida no período foi a maior adesão dos brasileiros à tecnologia, não só aos aplicativos de delivery de comida mas também a aplicativos de empresas como Magazine Luiza, B2W e Mercado Livre, exemplifica Barreto.

“Na média, impactamos 20% das vendas de um restaurante. Quando os salões foram fechados, perdeu-se 80% da renda. Como o restaurante fica de pé no dia seguinte?”, indaga Barreto. O diretor conta que, de questionamentos como esse, surgiu a necessidade do iFood se posicionar como um centro distribuidor de conhecimento, buscando ajudar os pequenos restaurantes com informações sobre melhores práticas de gestão durante a pandemia, criando até uma plataforma gratuita para fazer esse contato. Uma ajuda de custo de R$100 milhões também foi destinada para 160 mil desses pequenos restaurantes.

Maroun conta que a preocupação inicial da Mimic, no início da pandemia, foi a de como continuar com suas atividades e operações de maneira segura e passar essa sensação de segurança para seus colaboradores.

Pós-pandemia

Barreto ressalta que apesar do crescimento adicional no período, a economia brasileira está mais enfraquecida, o que acarreta em menor poder de consumo o que pode prejudicar o negócio no futuro. Para Barreto, os cálculos de crescimento no curto e médio prazo devem levar em consideração essa perda de poder aquisitivo, e, como ele ainda não vê convergência entre as análises do governo e de especialistas sobre o tamanho do impacto da pandemia no PIB, ainda não pode falar em números específicos de crescimento. O que Barreto afirma com certeza é que os brasileiros estão mais aptos a consumir via tecnologia e a considerar os apps no momento de decisão de compra. 

Maruon cita o setor imobiliário, que vêm se antecipando à provável predominância do home office no futuro, o que pode ser um sinal positivo para o delivery. O especialista concorda com Barreto e acredita que mesmo que os resultados não permaneçam nos níveis atuais, devem ser superiores aos anteriores à pandemia. 

Mudanças no setor

Um importante lançamento do iFood na pandemia, segundo o executivo, foi o “Na Mesa”, app utilizado nos salões de restaurante para checar o cardápio, fazer o pedido e pagar, minimizando o contato físico. Barreto relata que uma outra adição para a companhia foi a parceria com as empresas de vale-refeição, que agora passaram a poder ser usadas no app e vêm trazendo bons resultados.

Maroun acredita que os consumidores estão ficando mais exigentes com o delivery, pois entenderam que ele não representa apenas uma conveniência, mas também pode ser uma experiência agradável. Esse processo vem sendo intensificado pela utilização de tecnologia, que melhora a experiência do consumidor e também pelo crescimentos de concorrentes e novos modelos de negócio, relata o especialista. 

O segmento em que a Mimic atua é chamado de kitchen as a service e consiste em fechar parcerias e licenciar restaurantes que a empresa acredita ter grande potencial e cuidar de toda a cadeia de delivery, passando da preparação da comida em suas cozinhas até o pós-venda, segundo Maroun. O especialista relata aumento no número de estabelecimentos procurando pelas soluções oferecidas por sua empresa e atribui isso a uma maior percepção dos donos de restaurante da importância de se posicionarem online.

Barreto também relata esse aumento de adesão ao seu app, visto que a base de restaurantes do iFood quase dobrou durante a pandemia. Confira o bate-papo completo no link abaixo.