A crise do coronavírus colocou em cena questões que costumavam ganhar pouca atenção. Dos processos de higienização à adequação de espaços de convívio, são inúmeras esferas que vêm sendo reconfiguradas pela pandemia. E o mundo corporativo, claro, não é exceção.

Segundo especialistas de duas das principais consultorias de recursos humanos, as mudanças na vida nas empresas vão muito além da implementação do home office.

Ricardo Basaglia, diretor geral da Michael Page, e Joaquim Patto, consultor da Mercer, compartilharam suas visões em live promovida pelo Safra nesta quarta-feira. Selecionamos, abaixo, alguns dos principais trechos dessa conversa. No final deste conteúdo, você pode rever a transmissão na íntegra.

Home office em um 'novo anormal'

Patto conta que a Mercer realizou uma pesquisa com seus clientes sobre a implementação do home office. Com uma base de 250 respostas, 85% delas indicam que planejam continuar com esse regime mesmo após o término da pandemia. “Isso é mais do que uma tendência, passa a ser uma realidade”, afirma.

O diretor da Michael Page lembra, no entanto, que estamos passando por um “novo anormal”, ou seja, um momento de transformação, mas que não deve ser encarado como uma normalidade daqui para frente. “O que vivemos hoje não é um home office. O que vivemos nesse momento é uma pandemia, onde fomos trabalhar de casa sem ter um treinamento, tendo que cuidar dos afazeres de casa e dos filhos”, explica.

Discussões sobre a possibilidade de adotar o trabalho remoto já ocorriam em diversas empresas antes da pandemia, mas ainda haviam receios quanto à segurança da informação, produtividade e viabilidade tecnológica. “Quando vem uma situação como essa, empurra todo mundo para a evolução”, afirma Basaglia.

Controle vs. confiança

Um dos maiores debates em relação ao home office gira em torno da produtividade nas empresas. Para trazer mais números a este debate, o consultor da Mercer apresentou que entre as 250 empresas pesquisadas, 37% delas já realizaram alguma pesquisa interna sobre a produtividade e apontaram um aumento em seus números.

O resultado, no entanto, ainda deve ser analisado em mais detalhes, uma vez que depende do segmento de atividade. Segmentos com atendimento personalizado como fator preponderante de sucesso, por exemplo, podem ter um comportamento diferente.

A economia de tempo com deslocamentos diários para reuniões externas é um dos principais fatores para esse ganho de produtividade, mas Basaglia também lembra sobre a importância das transformações nas relações entre líderes e funcionários. “Mais do que nunca, uma gestão através de metas, confiança e autonomia é o que vai fazer com que as empresas efetivamente performem neste novo modelo”, explica.

Se nos modelos de liderança até então alguns gestores mediam a produtividade de seus funcionários por meio do horário de chegada e saída dos escritórios, o home office impõe uma nova dinâmica, passando de uma gestão por controle para uma gestão por confiança.

Habilidades para o pós-pandemia

O cenário atual tem evidenciado a necessidade de habilidades que já se mostravam relevantes nos últimos anos. Os dois consultores concordam, por exemplo, que a capacidade de aprendizado rápido e de se adaptar às novas realidades aparecem no topo da lista de habilidades desejadas para os profissionais.

O conceito de inteligência, por exemplo, vem sofrendo alterações. O consultor da Michael Page explica que ela vai muito além do conhecimento técnico. “Hoje, cada vez mais, vem sendo conceituado que inteligente é quem nunca teve contato com determinado tema, e em pouco espaço de tempo consegue aprender e se tornar acima da média”, explica.

Ao comparar essas habilidades a um campeonato, Basaglia aponta que o conhecimento técnico é essencial para entrar no jogo, a inteligência emocional vence a partida, mas para ganhar um campeonato é preciso conseguir se adaptar, uma vez que a realidade e as necessidades para o cargo no qual o profissional foi contratado se alteram rapidamente.

E o que não muda no pós-pandemia? Para o consultor da Michael Page, a inteligência emocional continua sendo fundamental para o sucesso profissional. Segundo o especialista, 91% dos profissionais são contratados por habilidades técnicas, mas demitidos por questões comportamentais.

Veja, abaixo, a conversa do Safra com Joaquim Patto, consultor da Mercer no Brasil, e Ricardo Basaglia, diretor geral da Michael Page.