Em mais uma rodadas de análise de ações, os especialistas da Safra Corretora apresentaram suas visões para empresas dos setores de óleo e gás e de shoppings. A conversa foi transmitida nesta sexta-feira, 26, ao vivo em nosso canal do YouTube. Veja abaixo os principais pontos e entenda as oportunidades de investimentos apresentadas.

Shoppings

Nosso analista Luiz Peçanha explicou que uma queda brusca nas receitas com aluguel e estacionamento provavelmente gerou, no segundo trimestre do ano, o pior resultado da história do setor de shoppings.

Com lojas fechadas, houve uma redução drástica de faturamento e alguns lojistas não conseguiram arcar com os custos de aluguel, explica. Nesse cenário, os operadores de shopping decidiram isentar a maior parte dos aluguéis diante o período de portas fechadas. Houve ainda descontos na cobrança de condomínio e fundo de promoção.

"Isso foi possível porque com o fechamento do shopping as despesas condominiais acabam caindo", explica, citando a queda nos gastos com energia, que costumam ser altos neste segmento, principalmente pelo uso de ar-condicionado e escadas rolantes.

Em termos de faturamento, o pior mês foi o de abril, relata, quando as vendas caíram 87% nos shoppings, segundo a Abrasce, associação do setor. E de 2 de março a 14 de junho, o recuo acumulado foi de 70%, cenário que preocupa pelo provável fechamento de várias lojas.

“Os operadores deixam de receber a receita de aluguel, e passam a arcar com os custos de ocupação dos lojistas que fecharam. É um cenário bastante negativo no curto prazo para shoppings, mas acreditamos que os operadores tendem a lidar melhor do que na última crise em 2015”, avalia.

Um alívio veio quando alguns shoppings conseguiram reabrir parcialmente, com o funcionamento de lojas consideradas essenciais, como supermercados, bancos e farmácias. "A partir daí os shoppings conseguiram cobrar pelo menos parcialmente o aluguel de alguns lojistas".

Já a partir de junho, os governos municipais permitiram a reabertura, com horários reduzidos. Segundo a Abrasce, quase 80% dos shoppings do país já haviam voltado a funcionar até a semana passada.

Um dado importante para acompanhar o desempenho do segmento, diz, é o número de visitas. Segundo operadores, o movimento caiu por volta de 70%. Por outro lado, os consumidores que estão lá são mais objetivos nas compras. "Não estão mais indo para passear, isso acaba sendo positivo para a conversão de vendas".

Já agora, estamos chegando a um momento em que as operações começam a voltar a gerar receita, e os aluguéis voltam a patamares minimamente aceitáveis, afirma Peçanha.

O aumento da vacância deve acontecer até o terceiro trimestre, prevê. A partir daí, deve haver uma gradual recuperação e, ao final de 2021, os shoppings devem voltar a ter a taxa de vacância que tinham antes da crise.

Iguatemi e Multiplan

Com base nas crises passadas, Peçanha mostra preferência no curto prazo em empresas de shoppings mais voltadas para públicos de alta renda. Nesse segmento, os papéis favoritos são Iguatemi (IGTA3) e Multiplan (MULT3).

"São as empresas com os melhores portfólios. No passado recente, vimos que elas foram menos afetadas tanto em inadimplência e vacância".

Ele avalia que, por mais que o setor seja impactado no curto prazo, há resiliência no longo prazo. Cerca de 60% do valor dos ativos está no futuro, calcula. Considerando isso, uma quebra  no curto prazo tem impacto, mas deveria ser próximo de 5%. O que ocorreu, entretanto, foi uma queda de 50% nas ações do setor durante a crise.

Iguatemi, por exemplo, com maior exposição ao mercado paulistano de alta renda, um mercado que pode recuperar mais rápido, tem potencial de valorização próximo a 40%.

Pelo lado dos riscos no setor, ele cita o desemprego, que leva o consumidor a ser mais cauteloso. Um segundo ponto é o comércio digital, que aumentou em meio à pandemia, o que ameaça o negócio dos shoppings, a exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos.

Petróleo

A pandemia também afetou muito o setor de óleo e gás, uma vez que o consumo de combustível diminuiu com fechamento das economias. Nosso analista Kaique Vasconcellos assinalou que o barril de Brent, referência global de petróleo, saiu da casa dos US$ 60 para bater na mínima de US$ 18 em abril.

A situação de queda na demanda foi piorada, lembra, pela disputa em março entre Arábia Saudita e Rússia. Os países sinalizaram uma guerra de preços por fatia de mercado. Mas com a reabertura das economias em maio, houve recuperação.

Ele estima que, quando a retomada do consumo se consolidar, o barril deverá voltar naturalmente ao nível dos US$ 50. "Isso vai acontecer seja em um mês ou um ano. Não faz sentido o preço ficar lá embaixo".

O lado da oferta também se ajustou, explica ele, apontando a saída de empresas menos eficientes e pelo atraso dos investimentos. "Se você tem um poço para perfurar, você joga isso para frente. As empresas estão preocupadas em salvar caixa para sobreviver. Com esse atraso na produção e a normalização do consumo global, o preço vai voltar. A questão é quando".

Petrobras

A partir dessa avaliação, ele enxerga boas oportunidades de investimentos no setor, sobretudo em uma das principais empresas do país. A visão dele para Petrobras (PETR4) é muito positiva, com potencial de valorização de mais de 20%.

Segundo ele, a volta das atividades econômicas é o principal fator que beneficia os papéis, em meio à alta de produção com a entrada em operação dos ativos do pré-sal. Além disso, conta a favor a gestão da empresa.

"Estão tomando todas as medidas necessárias para tornar a empresa mais competitiva, reduzindo custos, fazendo uma alocação de capital melhor", avalia, ressaltando o foco na área de exploração. "É onde a Petrobras mais consegue tirar diferencial competitivo e ter mais retorno."

Ele aponta o processo de desinvestimento nas refinarias como medida de melhora de alocação de capital. A medida ainda ajudou a reduzir o endividamento e deu conforto de liquidez com as vendas nos últimos dois anos.

Outra recomendação no setor é PetroRio (PRIO3). Vasconcellos chama a atenção para as distinções em relação à estatal. Trata-se de uma empresa pequena, com valor de mercado de R$ 5 bilhões, enquanto a Petrobras é uma das maiores do país, com quase R$ 290 bilhões.

Na estratégia, a PetroRio se concentra em campos maduros, buscando aquisições para fazer redução de custos e estender a vida útil do poço na fase final. Nosso analista afirma que esse modelo se mostrou correto ao revitalizar ativos que não estavam recebendo tanta atenção.

Com essa estratégia, a equipe da Safra Corretora projeta que o resultado operacional da companhia deverá quase dobrar nos próximos dois anos.

Ou seja, a tese investimento é mais voltada ao crescimento da companhia, algo que não se espera de uma empresa consolidada como a Petrobras.

Ele destaca ainda o benefício tributário que as ações dela oferece. O investidor pessoa física que comprar essa ação e vender até 2023 não pagará imposto de renda sobre eventual lucro, hoje em 15% para as demais. O risco principal para o setor, afirma, é a pandemia se alastrar e a economia permanecer fechada. Veja a conversa completa abaixo.