Com mais de cem anos de atuação no Brasil, a Shell é uma das gigantes mundiais que sofreu com os impactos da pandemia. No segundo trimestre deste ano, a anglo-holandesa anunciou o primeiro prejuízo líquido da sua história, de US$ 18,1 bilhões. Sem itens não recorrentes, o resultado ajustado ficou positivo em US$ 638 milhões, uma queda 82% na comparação com o mesmo período de 2019.

A perda inédita em três meses foi reflexo de uma baixa contábil de quase US$ 17 bilhões, associada a uma visão que atribui patamares bem menores aos preços de petróleo, destacou Cristiano Pinto da Costa, diretor de produção em ativos do pré-sal da Shell Brasil.

Em conversa com o Banco Safra nesta sexta-feira, 07, o executivo citou a queda de 90% na procura por querosene de aviação, em meio a aeroportos vazios, para ilustrar os efeitos da crise da Covid-19 no setor.

“De uma hora para outra, você perdeu ao mesmo tempo em quantidade de vendas e em valor dos produtos”, destacou. "Foi uma coisa sem precedentes, um impacto extremamente forte que fez com que a indústria precisasse se reorganizar."

No começo do ano, acrescenta, os preço do barril de Brent, referência internacional do mercado de petróleo, giravam em torno de US$ 60. Já em abril, eles caíram abaixo de US$ 20.

Adequação ao cenário

Para responder ao cenário de receitas menores, a empresa agiu sobretudo em três frentes de redução de custos. Uma delas prevê a redução de até US$ 4 bilhões no custo operacional da companhia como um todo. Além disso, a empresa diminuiu os investimentos previstos para o ano em US$ 5 bilhões.

E, finalmente, anunciou o primeiro corte nos dividendos pagos aos seus acionistas desde a Segunda Guerra Mundial. “Não foi uma decisão fácil, houve muita discussão no conselho de administração”, conta. “Mas a medida foi tomada para preservação de caixa no curto prazo.”

Perspectivas para os preços

Embora a melhora nos preços do petróleo verificada em julho venha se repetindo em agosto, diz Costa, ainda é cedo para afirmar que eles não sofrerão pressão novamente.

Além da retomada do consumo na China, explica, o barril se beneficiou de um efeito sazonal, com a temporada de férias nos Estados Unidos e na Europa também puxando a demanda por combustíveis.

Sem esse vetor positivo a partir de setembro, e com incertezas em relação ao controle da pandemia e ao futuro do acordo da Opep e países associados para cortes na produção, ainda há cautela no setor.

Mas ele reconhece que a recuperação da commodity veio mais rápido do que se esperava em março e abril. "Se você perguntasse para qualquer um da indústria de óleo e gás, no pico do coronavírus, dificilmente alguém diria que o preço estaria no patamar atual."

Veja abaixo a conversa completa com o executivo e entenda os projetos da empresa para os próximos anos e quais pontos o Brasil poderia trabalhar para aumentar sua competitividade no setor.