Pela primeira vez em quase 50 dias, o Ibovespa conseguiu terminar uma semana acima dos 80 mil pontos. O nível conquistado sinaliza que o mercado começa a superar os dias de pânico – em meados de março, o principal índice de ações do país chegou a operar aos 61,7 mil pontos.

Com um cenário político bem mais calmo do que o da semana passada, as ações aqui encaixaram três dias seguidos de firme alta. Após uma correção na quinta-feira, acentuada por realizações esperadas para uma véspera de feriado, o Ibovespa acumulou alta semanal de 6,9%. Veja abaixo como foi a semana, marcada pela divulgação do PIB em algumas potências e pelo aumento das expectativas em relação ao combate ao coronavírus.

Economias despencam

Números impactantes foram divulgados sobre a atividade em países importantes, reflexo das paralisações necessárias para conter o coronavírus. Nos Estados Unidos, o PIB recuou a uma taxa anualizada de 4,8% no primeiro trimestre, na comparação com os três meses anteriores. Foi a maior queda da economia americana desde a crise financeira de 2008.

Na França, o PIB registrou retração de 5,8% no mesmo período. Foi o pior resultado da série histórica, iniciada em 1949. Com o recuo de 0,1% do PIB no último trimestre de 2019, o resultado confirma que a segunda maior economia da zona do euro está em recessão. A Espanha, por sua vez, divulgou uma queda de 5,2% no PIB.

Política monetária

Tanto o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), quanto o Banco Central Europeu (BCE) decidiram manter suas taxas básicas de juros após suas reuniões de política monetária nesta semana.

O BCE anunciou mais estímulos ao crédito, aprovando uma nova série de sete operações de refinanciamento emergencial a longo prazo. A entidade também adotou novo programa de compra de ativos, de cerca de € 750 bilhões, que deve durar até o fim do ano.

Já os dirigentes do Fed afirmaram que as taxas devem permanecer perto de zero até que o país retome o caminho do pleno emprego e estabilidade de preços. A autoridade monetária também sinalizou que vai continuar com suas políticas não convencionais para sustentar a economia.

Desemprego

A Pnad Contínua do IBGE mostrou um avanço de 11,6% em fevereiro para 12,2% em março na taxa de desemprego trimestral. A alta foi menor do que o mercado e nossa equipe de Macroeconomia esperavam.

Nosso time explicou que a piora menos acentuada da taxa de desemprego se deve a uma queda bem mais forte da taxa de participação, considerando que a quarentena limita a procura por empregos (esse movimento já era esperado, mas superou expectativas).

Brasília

Um ambiente político mais calmo contribuiu para o desempenho dos ativos durante a semana. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, informou que o projeto de socorro financeiro a Estados e municípios deverá ser votado neste sábado.

O texto está mais em linha com o que é defendido pela equipe econômica do governo federal e poderá substituir a proposta aprovada pela Câmara dos Deputados, que não prevê contrapartidas. Uma delas é a suspensão por um ano e meio de reajustes a servidores de todas as esferas do Estado.

Outra diferença para o texto aprovado pelos deputados, a ajuda estipulada pelo presidente do Senado foi fixada em R$ 60 bilhões durante quatro meses. Na Câmara, se pretendia que os valores fossem equivalentes à receita perdida.

Já a proposta de Emenda à Constituição que cria o Orçamento de Guerra, já aprovada pelos senadores, deverá ser votada na segunda-feira. Segundo o presidente da Câmara, os deputados devem retirar do texto aprovado pelos senadores a exigência de manutenção de empregos nas empresas que tiverem títulos comprados pelo Banco Central. Rodrigo Maia afirmou que essa medida inviabilizaria a atuação do BC.

Combate à Covid-19

O mercado monitora com atenção as atualizações sobre possíveis remédios e vacinas contra o coronavírus. Uma coalizão internacional que está financiando nove projetos de vacinas contra o coronavírus indicou que uma delas poderá ficar pronta antes do previsto.

Segundo o presidente da Coalizão de Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI, na sigla em inglês), o prazo anterior, entre 12 e 18 meses, não considerava fatores como a cooperação entre empresas e a rapidez com que os testes em humanos foram iniciados. Segundo ele, é possível que uma primeira vacina esteja pronta ainda em 2020.

No mesmo sentido, a farmacêutica americana Pfizer afirmou que poderia ter uma vacina emergencial já no segundo semestre. Em outra frente, na Inglaterra, cientistas de um instituto da Universidade de Oxford dizem que doses de uma vacina poderão estar disponíveis até setembro.

E o médico à frente do combate ao coronavírus nos EUA afirmou que um novo estudo apontou que o remdesivir, antiviral que já é utilizado no combate ao ebola e é produzido pela farmacêutica americana Gilead, seria eficaz no tratamento de casos graves da Covid-19.

Na semana passada, testes na China decepcionaram e provocaram uma reação negativa no mercado. Já nesta semana, a sinalização otimista do especialista da Casa Branca deu força aos ativos.