O vaivém recente dos preços nos mercados financeiros oferece uma noção do grau de nebulosidade que o mercado está atravessando. Na semana passada, o Ibovespa acumulou perdas de 18,9%. Desta vez, a semana encerrou no positivo, com ganhos de 9,5%. Esta é a primeira alta semanal desde 15 de fevereiro. 

Os investidores seguem se equilibrando entre duas pontas: de um lado, indicadores econômicos fracos e revisões de projeções para um cenário ainda mais negativo, e de outro lado anúncios de estímulos sem precedentes, até mesmo quando comparados aos programas colocados em prática durante a crise de 2008.

Selecionamos, abaixo, alguns dos principais eventos que movimentaram essa semana. Confira:

Estímulos extraordinários ao redor do mundo

Nos Estados Unidos, a semana foi de muita discussão entre republicanos e democratas para chegar a um acordo de apoio à economia, avaliado em US$ 2 trilhões. O pacote de estímulos teve a aprovação final do Congresso nesta sexta-feira, e foi sancionado pelo presidente Donald Trump no final da tarde.

Estão previstos no programa uma série de medidas para diferentes setores, como uma linha de crédito de US$ 500 bilhões a empresas, estados e municípios, aumento nos valores do seguro-desemprego e pagamentos de US$ 1.200 para quem ganha menos de US$ 75.000 por ano. Esse é o maior pacote de estímulos da história.

A Alemanha, que é a maior economia da Europa, também fez anúncios importantes. O parlamento aprovou a suspensão do limite da dívida pública, abrindo caminho para a aprovação de um pacote sem precedentes de € 750 bilhões.

Diversos países ao redor do mundo estão adotando iniciativas semelhantes, em diferentes magnitudes. Na quinta-feira o G20, organização que reúne líderes das maiores economias do mundo, anunciou que as nações estavam investindo US$ 5 trilhões para fazer frente aos efeitos do coronavírus na economia global.

Nova rodada de estímulos no Brasil

No Brasil, foram uma série de medidas anunciadas ao longo dos últimos dias. Na semana passada, o governo havia apresentado medidas que somavam R$ 179,6 bilhões – a maior parte dos recursos, no entanto, representavam apenas antecipações de recursos.

Logo no domingo, o BNDES anunciou um pacote de R$ 55 bilhões na tentativa de oferecer uma alternativa de caixa para as empresas e assegurar a manutenção de empregos. Segundo o presidente da instituição, Gustavo Montezano, nos próximos dias deve ser detalhado um pacote de R$ 2 bilhões para o setor da Saúde, e também estão em análise medidas para o setor de transporte de passageiros.

Já na segunda-feira, o Banco Central apresentou uma série de iniciativas que vêm sendo trabalhadas desde o início do ano e liberam mais de R$ 1,2 trilhão em liquidez no sistema bancário. Também foi apresentada uma medida de liberação de capital, cujo impacto potencial sobre o crédito é de até R$ 1,1 trilhão.

Na quinta-feira, a Câmara dos Deputados aprovou um programa de renda emergencial de R$ 600 por mês, durante três meses, para trabalhadores autônomos, informais e pessoas de baixa renda. A medida ainda depende de aprovação do Senado e de um decreto para que a Caixa possa operacionalizar os pagamentos. 

Nesta sexta-feira, também tiveram novos anúncios, como uma linha de crédito para financiar a folha de pagamentos de pequenas e médias empresas por dois meses, com juros igualados à taxa Selic. O programa totaliza R$ 40 bilhões e ainda está em etapa de finalização, devendo ser concluído em uma a duas semanas.

Em entrevista coletiva, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ainda indicou que está em elaboração uma medida para permitir que a autoridade monetária compre créditos diretamente no mercado, similar ao que o banco central norte-americano costuma fazer em tempos de crise. A instituição possui um balanço superior a R$ 1,5 trilhão. Para isso, será preciso aprovar uma PEC que autorize o BC a comprar créditos no mercado.

Ainda nesta sexta-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, acrescentou que, entre medidas já anunciadas e outras que ainda virão a público, elas devem somar R$ 700 bilhões em três meses.

Indicadores de emprego começam a refletir pandemia

Medidas de restrição de circulação de pessoas foram anunciadas em países como Alemanha, Reino Unido, Itália, Espanha, Estados Unidos, Argentina, Chile e muitos outros. Diversos Estados do Brasil também seguiram a mesma tendência, como São Paulo.

Embora as medidas sejam importantes para conter o vírus, elas geram efeitos severos sobre a economia. Durante a semana foram divulgados dados de atividade, especialmente no setor de serviços, muito mais fracos que o previsto na Zona do Euro, no Japão e na Austrália.

O caso mais emblemático, no entanto, foi no mercado de trabalho norte-americano. O número de novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos saltou para 3,28 milhões, quando até então o normal era algo abaixo dos 300 mil.

Antes mesmo de conhecer esse número, um membro do banco central norte-americano, James Bullard, projetou que a taxa de desemprego nos EUA pode ir a 30% nos próximos meses. Até a leitura mais recente, ela está abaixo de 4%.

No Canadá, quase um milhão de pessoas também deram entrada nos pedidos de auxílio-desemprego. Isso representa cerca de 5% da força de trabalho no país. Foi o pior número desde 1957. Esses números negativos concorreram com os anúncios de ajuda dos governos.

Novas projeções do nosso time de Macroeconomia

Diante de um cenário de quarentena, nosso time de Macroeconomia atualizou as projeções para a economia brasileira.

A expectativa, agora, é por uma forte retração de 2,8% do PIB neste ano. A projeção anterior era de uma queda de 0,3%. Com a atividade mais fraca, a equipe também reduziu a projeção para a inflação, com a estimativa para o IPCA passando de 2,5% para 2,2%.

O cenário prevê uma forte recuperação da economia a partir do terceiro trimestre, mas insuficiente para recuperar o desempenho negativo que devemos observar neste segundo trimestre. A boa notícia fica para a projeção de 2021. A previsão é por um crescimento de 2,4% e com viés de alta. Leia mais sobre o novo cenário aqui.

Oportunidades em juros

Nosso time de Macroeconomia, assim como grande parte do mercado, acredita que o Banco Central precisará cortar novamente a taxa Selic em reação à debilidade econômica que o coronavírus está impondo. Contudo, os juros com prazos de vencimento mais longos estão em alta, se descolando do movimento de curto prazo. Isso aumentou o que o mercado chama de "inclinação da curva de juros".

Conforme nosso estrategista Jorge Sá comentou no Morning Call de terça-feira, esse comportamento abriu boas oportunidades em operações prefixadas, que podem ajudar a diminuir a volatilidade das carteiras. Ele observa que os papéis estão sendo negociados com taxas elevadas para o médio e o longo prazo, com vencimentos a partir de um ano. Entre as opções destacadas, estão os CDBs, Letras Financeiras, LCIs e LCAs.

Para a carteira como um todo, a dica de nosso estrategista é manter a cautela ao realizar movimentos fortes nos portfólios, devido ao cenário ainda incerto.

EUA com o maior número de infectados

A semana também foi marcada pelo anúncio de que os EUA, com mais de 93 mil casos confirmados até o início da tarde desta sexta-feira, tornaram-se o país com o maior número de infectados. A Itália, com mais de 86 mil infectados, também continua a chamar atenção. Por lá, o país registrou mais de 900 mortes apenas nesta sexta-feira, chegando ao total de 9.134 mortos até o início desta tarde. 

No Brasil, são 3.417 casos confirmados, com 92 mortes, segundo números divulgados pelo Ministério da Saúde nesta sexta-feira. Há uma semana, o número de infectados era inferior a mil.

Entendendo a pandemia

O Safra conversou ao vivo nesta semana com dois grandes nomes do setor de saúde para explicar os principais fatos e as perspectivas sobre a pandemia de coronavírus.

Você pode conferir aqui o bate-papo com Claudio Lottenberg, presidente do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, e aqui a entrevista com Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.